Uma noite em Nova York

(Carla ScalaEjcveS) #1

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Catarina entrou num café de esquina, moderno, agradável, vazio e silencioso
às quatro e meia da tarde. Pediu um expresso no balcão e foi sentar-se numa
mesa com vista perfeita para a rua, ao lado da janela panorâmica que
substituía a parede exterior do café. Despejou o saquinho de açúcar na xícara
e mexeu-o demoradamente com a colher, quase até o café ficar frio, distraída,
com os olhos postos na rua, nervosa, sempre pensando se não iria fazer papel
de boba. Deixou-se ficar ali, vigiando o movimento lá fora. Bebeu o café,
recostou-se na cadeira, cruzou os braços, pensou em todas as possibilidades,
numa brincadeira de alguém da redação, em alguma pessoa conhecida que
quisesse revelar-lhe uma história, num desconhecido, em Jonas. Mas se fora
ele que tinha enviado a mensagem, não comparecera ao encontro, e isso não
fazia sentido. Sentiu-se culpada por estar ali por causa dele, pensou em
Ricardo, afastou-o logo da mente como se pretendesse estabelecer uma
separação entre eles. Interrogou-se por que não conseguia parar de pensar em
Jonas. Afinal de contas, só estivera com ele uma vez e nem sequer fora muito
bom. Ele havia a deixado embaraçada, incomodada, mas, claro, tinha cantado
uma canção para ela, a canção que Catarina trazia no leitor de CD do carro e
escutava a toda a hora, embora imaginasse que ele já devesse ter feito aquele
número de cantar, olhos nos olhos, para outras mulheres, para impressioná-
las. Talvez resultasse como as outras, pensou, mas ela não era idiota e não
caía no seu truque. Pois... também lhe dissera que não era uma das suas fãs
adolescentes que saltavam quando ele estalava os dedos e bastara uma
mensagem dele – ou melhor, uma remota hipótese de ser dele – para sair
correndo da redação e estar ali parada fazendo sabe-se lá o quê.


A música que Jonas lhe cantara, bem, fora embaraçoso, mas também um
momento mágico. Catarina andara lhe evitando, mas agora sentia curiosidade
em conhecê-lo melhor; e os seus e-mails, pensar nele, fantasiar sobre ele, tudo
junto, quebrava-lhe o discernimento, a força de vontade. Era ele estalar os
dedos e ela não resistia. Suspirou, incomodada, nem sequer sabia se ele
estalara os dedos.


Uma mulher de idade entrou no café puxando um carrinho de compras, com
rodinhas. Fixou-se no balcão de vidro examinando os bolos enquanto
tagarelava com a balconista, indecisa, fazendo um inquérito rigoroso sobre os
bolos, se eram de hoje, do que era este e aquele. Pediu uma fatia de

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