Uma noite em Nova York

(Carla ScalaEjcveS) #1

cheesecake, um café em xícara escaldada, um copo de água. Levou tudo para
uma mesa, voltou atrás para trazer o carrinho de compras, demorou uma
eternidade para colocá-lo num canto, até se dar por satisfeita. Arrastou a
cadeira, sentou-se e arrumou metodicamente o prato, o garfo, a xícara e o
copo de água, tudo à sua frente, ao seu jeito.


Catarina fechou os olhos por alguns segundos e pensou “quando abrir os
olhos, você vai estar sentado na minha frente”. Abriu-os e não aconteceu
nada, a sala continuava na mesma. A mulher, algumas mesas à frente, cerrou
os olhos míopes, observando-a ostensivamente, abanou a cabeça,
desconsolada. “São todos iguais, minha filha, todos iguais”, disse, como se
soubesse exatamente o que se passava com Catarina. Ela correspondeu ao
comentário com um sorriso fraco, nada interessada em falar com a outra.
Levantou-se, pegou sua carteira e foi embora.


À saída, parou, como que decidindo que caminho tomar. Uma última
oportunidade, um segundo a mais antes de ir embora de mãos abanando. Um
homem jovem, encostado em um carro, de braços cruzados, observou-a por
detrás de uns óculos de sol. Vestia uma polo por cima de calças jeans,
mocassim. Ela, distraída com o seu mistério, não deu conta dele, olhou-o, mas
não o viu. Virou-se para a direita e começou a subir a rua.


– Catarina. – chamou o homem.
Ela parou ao ouvir o seu nome e voltou-se, admirada por não reconhecer
quem a chamava.


– Catarina? – repetiu ele, agora como uma interrogação.
– Sim – disse ela. – Sabe quem eu sou?
– Catarina Trindade, jornalista. Sim, sei quem é.
– E você é...?
Ele desencostou-se do carro, afundou as mãos nos bolsos das calças,
mantendo os polegares de fora, estreitando os braços ao longo do corpo.
Sorriu.


– Fui eu que te mandei o e-mail – explicou.
Catarina deu dois passos em frente, ele deu um na direção dela, estreitaram
a distância entre os dois, mas não o suficiente para poderem se tocar. Ela
manteve uns prudentes metros de separação, enrugou a testa.


–   Não nos conhecemos, não é?  –   perguntou.
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