Uma noite em Nova York

(Carla ScalaEjcveS) #1

– Não – confirmou ele, sem desarmar o sorriso atrevido. – Mas sei quem
você é.


O tratamento familiar alarmou-a. Não sabia bem por que, mas aquele
homem não lhe inspirava confiança, algo nele arrepiou-a, sentiu-se ameaçada.
Se não estivesse na rua em pleno dia teria fugido dele sem pensar duas vezes.
Falou-lhe com uma aspereza instintiva.


– Olhe – disse –, eu não sei quem você é. Por que é que me mandou o e-
mail? Tem alguma coisa para me dizer?


– Tenho, mas não aqui, no meio da rua. – Olhou para o lado, como se
tivesse medo de estar sendo observado.


– Quer falar de quê?
– É como acabei de dizer, aqui não.
– Então, onde?
Ele não lhe respondeu logo. Virou-se para trás, abriu a porta do carro onde
estivera encostado à espera dela, espreitou por cima dos óculos de sol,
convidou-a a entrar com um gesto sereno.


– Vamos a um lugar tranquilo onde possamos falar à vontade – disse.
Catarina cruzou os braços, irredutível.
– Não – abanou a cabeça. – Eu não vou a lugar nenhum. Falamos aqui.
– Isso é contigo, ou você vem ou nada feito. Olha que é uma história muito
boa.


– Pois, está bem. Talvez seja, mas não vou. Se quiser, podemos conversar
ali no café.


– Não – respondeu ele, deixando de sorrir. “Não gostava de ser
contrariado”, pensou Catarina.


– Então, paciência. Ficamos assim. Boa tarde.
E, dito isto, voltou-se e começou a afastar-se rua acima.
– Catarina – ouviu-o gritar pelo seu nome, furioso. – Você vai se
arrepender! Eu sei onde te achar, não vou te esquecer, Catarina!


Não parou, apressou o passo, assustada, afastou-se dali o mais depressa
possível, sem se atrever a olhar para trás, com medo de que o homem a
perseguisse, que a tentasse agarrar e impedi-la de ir embora. Mas ele não foi
atrás dela, ele fechou a porta com raiva, furioso por não ter convencido a

Free download pdf