Uma noite em Nova York

(Carla ScalaEjcveS) #1

mais cautelosa. O dedo ainda lhe tremeu enquanto pendia sobre a tecla do
mouse, hesitante, antes de apagar a mensagem, decidindo esquecer o assunto.
O segredo ficaria com ela, pois seria difícil explicar ao seu editor por que
saíra na pista de uma informação anônima sem o avisar e sem pedir para ser
acompanhada por um colega, e falar do assunto a Ricardo estava fora de
questão, evidentemente.


Correra um risco enorme afinal, pensou, pior do que imaginava, e a sua
maior lição foi que, quando tentada pelo amor, uma mulher era capaz de tudo
sem olhar a quê. Ela própria, que era ponderada e cautelosa desde que se
entendia por gente, fora direto a uma armadilha, colocar-se ao alcance das
garras de um predador, embalada pela esperança de outro homem, cujos
braços desejava. Compreendeu também nesse dia que, caso se envolvesse de
alguma forma com Jonas, não escaparia impune às implicações dessa relação.
Era uma ingenuidade acreditar que, ao deixar entrar outra pessoa no seu
coração, seria possível manter-se a salvo das armadilhas do amor. Afinal de
contas, Jonas era só uma fantasia e, mesmo assim, já lhe desorganizara as
emoções ao ponto de se prestar a asneiras que, em circunstâncias normais,
não lhe pareceriam razoáveis. O que lhe acontecera hoje, se tivessem lhe
contado o mesmo de outra pessoa, teria abanado a cabeça com um suspiro de
incompreensão e declarado que estava doida.


Para acabar o dia ainda pior, ao sair do jornal desabou sobre ela um aguaceiro
de verão que a apanhou de surpresa quando se dirigia para o carro. Ficou
encharcada, com o cabelo escorrendo e a alma em frangalhos. O temporal
arruinou o trânsito do fim da tarde e obrigou Catarina a dirigir devagar.
Desconfortável, com a roupa colada ao corpo, agarrou-se ao volante como
uma náufraga e inclinou-se para a frente tentando divisar o caminho por entre
a cortina de água que cobria o parabrisas, mal escoada pelas limpadores
gastos.


Chegou em casa afundada num desconsolo. Ricardo ainda não estava,
graças a Deus. Foi direto para o chuveiro, deixando atrás de si um rastro de
chuva. Despejou no chão uma pilha de roupa molhada, enfiou-se na banheira,
correu a cortina, abriu a água morna e ali ficou muito tempo, debaixo do
chuveiro, profundamente abalada, entregue a um choro convulsivo e
reparador, por fim tomando plena consciência da asneira que fizera e
assaltada pela percepção de que a sua vida mudara definitivamente nesse dia
estranho. Teve de admitir então que, se Jonas não desistisse dela, seria muito
difícil para ela resistir a ele.

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