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O concerto de Jonas no Coliseu dos Recreios foi um acontecimento festejado
com páginas laudatórias em todos os jornais, inflamados por uma noite que,
escreveram, ficaria marcada na história da música nacional e na memória de
um público que lotou a sala, cantou e dançou embriagado pela magia de Jonas
e da sua banda. Teceram-lhe, porventura, elogios excessivos, resultantes do
entusiasmo que contagiou o Coliseu e insuflou o espírito dos redatores de
benevolente apreciação e menor lucidez musical. Melhor crítica não seria
deste mundo. Chamaram-lhe gigante! A seguir ao concerto, Jonas, eufórico
com o sucesso, arrastou os músicos, a equipe de produção e os amigos para
uma discoteca onde abriram champanhe de madrugada.
Catarina foi convidada. Recebeu o telefonema de uma mulher espontânea
que se anunciou como responsável por qualquer coisa da produção do
espetáculo. Disse-lhe que Jonas gostaria muito de tê-la como convidada na
primeira fila do Coliseu. Respondeu-lhe com antipatia, que agradecesse a
Jonas, mas não teria disponibilidade para esta noite, e desligou irritada por
não ter sido o próprio a telefonar-lhe. Minutos depois atendeu uma segunda
chamada da mesma mulher, agora com uma voz aflita, dizendo-lhe que Jonas
fazia questão que fosse ao Coliseu, lamentando-se de que fora ameaçada de
demissão se não a convencesse, pedindo-lhe por tudo que dissesse que sim,
caso contrário – e essa era a última palavra de um artista exaltado –, Jonas
poderia até cancelar o concerto. Catarina não acreditou que ele fosse tão
longe, mas interpretou a falsidade como um elogio e condoeu-se da aflição da
mulher. Disse que sim, iria, mas com a ressalva de ser na qualidade de
jornalista e não como amiga de ninguém.
De modo que agora ali estava ela na discoteca, sozinha, observando o mundo
de Jonas. Ele, sempre rodeado de gente, sempre muito solicitado por amigos e
por pessoas que ansiavam ser amigas dele, que o cercavam com palmadinhas
nas costas e insistiam em dizer-lhe coisas simpáticas. Tinha um cigarro numa
mão e uma cerveja na outra, que bebia pelo gargalo. Catarina via-o levar a
garrafa à boca, sorridente, a testa perlada de suor, o cabelo comprido,
desordenado; via-lhe o rosto entrecortado pelo ritmo das luzes coloridas, à
beira da pista cheia de gente dançando; via-o baixar a cabeça para ouvir
alguém lhe dizer qualquer coisa ao ouvido, que era a única maneira de se
conseguir conversar ali, e depois inclinar a cabeça para trás com uma