Uma noite em Nova York

(Carla ScalaEjcveS) #1

– Então, você arranjou.
– Ricardo, por favor...
– Diz a verdade! – a voz dele soou vários decibéis acima do normal, algo
entre a indignação e o desespero.


– Não, não tenho – mentiu, pensando que a mentira era melhor para ele,
mas sentindo-se culpada. Ela só o deixava por causa de Jonas, não havia outra
razão. Não dizer a verdade podia ser mais conveniente, mas não a fazia sentir-
se melhor.


A decisão de Catarina foi uma atitude emocional, obedeceu a um impulso
mais forte do que o bom senso e, embora todos os seus sentidos lhe gritassem
que não se precipitasse e tivesse cautela, ela preferiu ignorar os sinais de
aviso. Jonas não era um tipo de confiança, estava claro; ele sabia receber, mas
não gostava de dar, não tinha um pingo de altruísmo, não pensava em cuidar
de uma mulher, usava as suas qualidades para conquistar. A beleza e a fama
traziam-lhe proventos de cama, mas não se preocupava com as mulheres que
o amavam. Elas, provavelmente, eram ingênuas se acreditavam que a palavra
amor tinha valor na boca dele, pois não percebiam que ele só vivia para a sua
própria felicidade. Talvez quisessem tanto acreditar nele quando lhes louvava
a inteligência e o corpo e lhe falhavam as sílabas de falsa emoção ao
confessar que não imaginava a vida sem elas, talvez desejassem tanto serem
as escolhidas que não duvidavam da sua sinceridade simulada.


Catarina não o quis verdadeiramente a princípio, não reagiu bem ao
primeiro avanço, sentiu-se incomodada, a insistência dele perturbava-a.
Mesmo depois de admitir que Jonas a fascinava contra a sua vontade,
Catarina não se resignou, continuou resistindo, rejeitando aquela ideia de o
ter, que na altura lhe parecia tão só uma fantasia inverossímil que a
desinquietava. Conhecer Jonas foi, desde o início, um choque porque levou-a
a reavaliar tudo, a sair do cantinho aconchegante e seguro onde se escondera
há muito, aceitando a vida como ela era e não como desejaria que fosse. Até
essa altura, não se dera ao luxo de questionar nada, continuava simplesmente
com o seu trabalho, embrenhada no cotidiano que a ocupava, dedicada à
família, aos amigos, enfim, tinha uma vida arrumada.


Naquela noite na discoteca, Jonas convidou Catarina para a mesa dele, levou-
a pela mão, abriu uma garrafa de champanhe e incluiu-a nos festejos com os
seus amigos. Jonas estava muito divertido, contagiante. Disse-lhe ao ouvido
“te quero, quero te levar para minha casa, quero que você fique comigo o
resto da vida”. Catarina lançou-lhe um olhar espantado, soltou uma

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