por você.
– Claro que vai.
Jonas andara sempre de mulher em mulher, perpetuando a paixão, talvez um
dia crescesse, se tornasse adulto, menos egoísta e mais responsável, talvez
pensasse duas vezes antes de estragar a vida de alguém, talvez começasse a
ter consciência, a se importar. Catarina receava que ele se fartasse dela e a
abandonasse sem aviso. Agora, que fizera amor com ele, que corria para ele
em todos os intervalos do dia, amando-o em segredo, sem poder contar a
ninguém a verdade que lhe enchia a alma, Catarina já ponderava a separação
de Ricardo como uma inevitabilidade, e se hesitava em tomar a decisão
definitiva era porque, embora Jonas a pressionasse para se separar, se
revelava bastante moderado em certezas sobre o dia seguinte. Tão depressa a
queria desesperadamente, como se o mundo fosse acabar amanhã, como a
desarmava com uma franqueza desconcertante, calculada, deixando claro que
não partilharia a responsabilidade pela separação dela. Tinha dias de
indiferença e dias de mau humor, pressionava-a para que cortasse amarras,
para que deixasse Ricardo, mas não se comprometia. O futuro, dizia, logo se
vê onde nos leva, embora continuasse a garantir-lhe amor eterno.
Navegando nestas águas turvas, Catarina desdobrava-se durante a semana
numa correria de amor e arrastava o fim de semana ansiosa, numa
inquietação, uma vez que, de sexta à noite até segunda de manhã, não lhe
sobravam pretextos para se libertar da clausura conjugal. A indefinição
custava-lhe muito, pois não se sentia plenamente com Jonas e não lhe parecia
ser justa com Ricardo. Mas já era certo que a sua relação com Jonas tinha se
tornado uma paciente negociação de longo prazo. Apesar de incomodá-los, a
situação chegara a um impasse. Quando Catarina exigia um compromisso
inequívoco de Jonas, ele lembrava-lhe que ao fim do dia ela iria para casa
dormir com Ricardo. E daqui não saíam.