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A época de Natal tornava Nova York uma cidade única, cheia de luz, de cor,
de música. Era a sua época mais bonita. Catarina estava adorando passear
pelas ruas iluminadas, entre prédios incomensuráveis, de vidros imensos,
brilhantes, de ver as vitrines decoradas com adornos natalinos, sentir o
ambiente festivo, admirar até o trânsito inesgotável. Um coro de rapazes
vestidos com trajes vermelhos entoava cânticos da época numa esquina, um
vendedor ambulante dava corda aos seus bonecos e fazia os Papais Noéis
dançarem na calçada; à porta de uma loja, outro Papai Noel, um velho homem
de vermelho e longas barbas brancas, cumprimentava pacientemente as
crianças espantadas que o encontravam ali, ao lado de um trenó repleto de
embrulhos. Não fosse aquela preocupação que a perturbava, aquela
inquietação instintiva que não a deixava ter a certeza de estar tudo bem, esse
seria um momento perfeito. Mas quanto mais se aproximava da Times
Square, menos seguro era o seu passo. No dia anterior, deixar tudo e partir
atrás de Jonas não lhe oferecera qualquer dúvida, parecera-lhe a única atitude
possível a tomar. Pensara que ele ficaria exultante e a receberia como quem
tem a melhor surpresa da sua vida. Ela estaria terrivelmente satisfeita,
excitadíssima, com um sorriso pendente até lhe doerem as articulações do
rosto, muito feliz e com a certeza de ter tomado a melhor decisão da sua vida.
Pelo menos, naquela ocasião, tinha sido o seu pensamento clarividente.
Agora, porém, mais lúcida, perguntava-se se não teria se precipitado, se não
teria se deixado ir atrás de um impulso sem ponderar bem as consequências.
A excitação que sentiu no início do voo para Nova York foi se dissipando
lentamente com o cansaço da viagem; a ansiedade interminável foi lhe dando
tempo para começar a duvidar das certezas, para vacilar, ainda que não
quisesse dar espaço na sua cabeça para pensamentos negativos.
Jonas havia dado um ultimato, dissera-lhe “se você não vier comigo a Nova
York pode me esquecer, ficamos por aqui, não vou estar o resto da vida à tua
espera”. Tiveram uma discussão, mais uma, queixaram-se um do outro,
enredaram-se em acusações sentidas. Ainda assim, ela deixara-o partir,
ficando para trás, triste, mas sem coragem. Jonas não lhe dera tempo,
oferecera-lhe o bilhete de avião para dali a uma semana e Catarina, apesar de
encantada com o seu romantismo terminante e reconhecendo os sinais de que
finalmente estavam chegando ao destino das suas vontades, contrapôs que