incerto e a angústia de nunca saber para que lado penderia o coração dela.
Mas, por outro lado, Luísa não trazia complicações, e era de uma beleza
injusta. Bem pesadas as coisas, Jonas pensou que já não precisava de
Catarina, enquanto Luísa era o que ele queria agora: linda, jovem, sem
problemas, ignorante, um alívio de verão. Escolheu Luísa.
Catarina ficou destroçada. Telefonou para a redação para informar que se
sentia doente – o que não era exatamente mentira – e ficou um dia fechada em
casa. Ficou sentada a tarde inteira no sofá da sala, de shorts e camiseta,
olhando para a televisão e tomando um enorme pote de sorvete. Censurou-se
por se encontrar naquela situação, pois ela e só ela era a culpada por ter
acabado assim. Não devia ter se envolvido com Jonas, ele era egocêntrico e
acabaria por fazê-la sofrer, como acontecia agora. Com as pernas cruzadas em
cima do sofá, o pote de sorvete no colo, as lágrimas escorrendo pelo rosto, os
olhos fixos num ponto qualquer do outro lado da sala, absorvida pela tristeza,
Catarina perguntou-se o que a levara a se apaixonar por Jonas e o que fizera
de mal para ele a deixar. Jonas mentia, pensou, mentia quando a tinha
abraçado há poucos dias e dissera que estava apaixonado por ela. Pegou o
controle remoto e passeou pelos canais ao acaso, fixou-se num programa
sobre guepardos, na savana africana. Os guepardos vagueiam à procura de
fêmeas, cobrem-nas e abandonam-nas para procurar outras. “Ele me
enganou”, pensou, “mentiu para mim”. Desligou a televisão, largou o controle
ao seu lado, desconsolada. O silêncio oprimiu-a, comprimiu-lhe o peito, uma
lágrima escorregou-lhe pelo rosto, desceu até à ponta do queixo, caiu dentro
do pote de sorvete. Catarina ouviu o gotejar da lágrima, baixou os olhos,
concentrou-se no gelado, momentaneamente distraída da sua tristeza, viu a
lágrima escorregar pela parte sólida, branca como um pequeno bloco de neve,
e misturar-se com o fundo derretido. Enterrou a colher no sorvete, ergueu-a ao
nível da boca, encolheu os ombros, enfiou-a na boca. A janela aberta não
deixava passar uma brisa às três e pouco da tarde daquele dia triste, e Catarina
salvava-se do calor e soterrava a mágoa com pazadas de sorvete de limão.