Uma noite em Nova York

(Carla ScalaEjcveS) #1

desafio, com a condição de saírem mais do que uma vez, pois não queria, de
maneira nenhuma, esperar até ser capaz de dar um passo de dança para revê-
la. “Seria demasiado tempo”, disse. Sairia com ele as vezes que ele quisesse,
retorquiu-lhe Patrícia. Ele fez-lhe uma carícia no rosto, ela beijou-lhe a palma
da mão, e assim selaram o seu primeiro compromisso.


No dia seguinte, Patrícia conseguiu uns minutos de manhã para visitar Filipe e
apressou-se ao percorrer o corredor que a conduzia ao quarto dele. Ia radiante,
ansiosa por vê-lo. Quase não dormira na noite anterior, passara a madrugada
rolando na cama com a cabeça fervilhando de pensamentos felizes, incapaz de
desligar, pensando nele, fazendo planos, imaginando desejos, alguns sem
pudor, outros mais perenes. Em suma, atravessou a noite em vigília, sonhando
acordada, o que não a impediu de afastar as cobertas aos primeiros sinais da
manhã e sair da cama com um salto determinado para tomar banho, lavar a
cabeça um dia mais cedo, demorar-se a secar o cabelo, a pentear-se e, ainda
assim, ter tempo de sobra para ir a uma livraria perto de casa antes de apanhar
o ônibus para o hospital. Foi a primeira cliente a chegar, esperou quase dez
minutos pela hora de abertura da livraria, espreitando pela vitrine, procurando
detectar movimento no interior, roendo as unhas ansiosa, até ser surpreendida
pelo livreiro agachado à sua esquerda, abrindo a porta, um senhor de cabelos
brancos e gestos ponderados, no seu eterno casaco de malha, que lhe
perguntou “a menina deseja algum livro?” Patrícia desejava um livro do qual
falara a Filipe na véspera e decidira fazer a surpresa de oferecer a ele.


Não se podia dizer que fossem namorados, mas a cumplicidade entre eles
tornara-se evidente para ambos e Patrícia queria muito dar uma oportunidade
à promessa de amor que crescia no seu coração. Da última vez não correra
bem, Patrícia saíra ferida ao descobrir que o seu namorado de há quase dois
anos andava dormindo com uma das suas melhores amigas. Fora uma dupla
traição que ainda hoje lhe custava aceitar, evitava pensar nisso, simplesmente
afastara os dois da sua vida e seguira em frente, pensando que era nova, tinha
uma carreira para construir e, prometera a si própria, não ia deixar se abater
por algo ruim que havia lhe acontecido e que, por mais que quisesse, não
poderia mudar. O passado era o passado e não valia a pena viver nele, ficar
presa a ele.


Naquela manhã sentia-se feliz, bonita, recebera alguns elogios dos colegas e
fizera-se despercebida quando duas delas lhe perguntaram diretamente se
tinha alguma novidade para contar. Não tinha nada para contar, só uma

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