internamento.
Acabou por cair num sono superficial, vencido pela madrugada, mas
acordou cansado e com a sensação de só ter dormitado uma meia hora. Na
realidade, foram quatro, ainda que perturbadas por um mau pressentimento
que não lhe permitiu relaxar e dormir tranquilo. O espírito, tenso, embrenhou-
se num pesadelo medonho no qual Filipe tentava a todo o custo alcançar
Patrícia, embora as suas pernas inutilizadas não lhe permitissem, e ela, nada
fazendo para se aproximar, pelo contrário, se afastava, espreitando por cima
do ombro com os olhos marejados de profunda desilusão.
Filipe despertou num susto, alagado em suores. Depois, percebendo que
emergia só de um sonho infeliz, deixou-se ficar inerte na cama, de olhos
abertos, numa apatia sonolenta, vigiando os primeiros movimentos do dia na
enfermaria.
Às onze horas da manhã Filipe não se conteve, chamou a enfermeira e
perguntou-lhe se sabia de Patrícia. De fato, crivou-a de interrogações, não se
conformando com a resposta ligeira de que a doutora deveria estar lá para
baixo no seu serviço. Filipe mantivera-se calado desde que acordara,
cismático, mordiscara o pão do café da manhã e dera um gole no copo de leite
apenas para a enfermeira não vir incomodá-lo batendo o pé naquele tom
condescendente delas, falando com os doentes como se fossem crianças.
Normalmente, não se importava com isso, mas hoje não se sentia capaz de
enfrentar a teimosia suave da enfermeira.
– Sabe da doutora Patrícia? – perguntou-lhe.
– Ainda não a vi hoje – respondeu ela, casualmente, enquanto lhe ajeitava
os lençóis com gestos determinados.
– Mas não sabe onde ela está?
– Deve estar lá para baixo no serviço dela.
– Pode chamá-la? Preciso falar com ela.
– Com a doutora Patrícia? – disse a enfermeira, levantando a sobrancelha
como se não tivesse ouvido bem, ou o pedido dele fosse descabido.
– Sim, a doutora Patrícia.
– Já vejo se a encontro, mas ela deve estar muito ocupada agora.
– Se não puder vir, diga-lhe que falo com ela ao telefone.