ensaiado vezes sem conta na cama do hospital. Fez um esforço para se
descontrair, para se mostrar confiante, mas as respostas secas de Patrícia não
estavam ajudando. Discursos românticos e cativantes não eram o seu maior
talento, precisava que ela colaborasse na conversa, caso contrário, ficaria
muito rapidamente sem palavras. Era bom escrevendo, nem tanto falando.
– Foi a minha primeira caminhada fora do hospital – disse. – Tive alta
ontem.
– Eu soube.
– Recebeu os meus recados?
– Recebi.
– Por que é que não foi me visitar nunca mais?
Patrícia ficou tensa, na defensiva, sentiu uma necessidade irreprimível de
evitar o assunto e respondeu com uma brusquidão involuntária,
surpreendendo-se com a sua própria reação, mas sem ânimo para mudar de
atitude.
– Filipe, acabei agora um turno de vinte e quatro horas e preciso ir para casa
descansar. Não quero ter essa conversa agora.
– Então, quando?
– Não sei, nunca, de preferência.
– Você não me vai me dar uma oportunidade de explicar o que aconteceu?
– Não, Filipe, você não tem de me explicar nada. Estou cansada, já te disse,
me deixa ir embora.
– Posso te acompanhar?
– Não, prefiro ir sozinha. Obrigada pelas flores, até qualquer dia.
Virou-se, partiu, deixou-o sozinho, desanimado, sem saber o que dizer, sem
um argumento para impedi-la de ir embora.