Uma noite em Nova York

(Carla ScalaEjcveS) #1

respirar.


– Eu também não tenho respirado muito bem – comentou ele, de improviso.
Patrícia virou a cabeça, observou-o, sem perceber bem o que queria dizer.
– Você está doente?
– Não, mas tenho pensado muito em ti. Tira-me o fôlego.
Ela deixou escapar um risinho nervoso.
– Ah, está bem.
– E o sono – acrescentou.
– Pensa antes na tua namorada, que isso passa – replicou Patrícia, com um
sorriso sarcástico, uma pontinha de rancor.


– Não é minha namorada.
Patrícia fez um silêncio, surpreendida, absorvendo a informação.
– Olha que parecia – acabou dizendo.
– Eu sei que pareceu, mas não é, é minha ex-namorada. Quando foi me
visitar ao hospital, já não era. E não voltou, foi só uma vez. Se você tivesse
falado comigo, teria sabido, mas você não me deu oportunidade de explicar.


Patrícia ficou atrapalhada. Não era o que esperava ouvir dele, não contava
com aquilo e, de repente, sentiu-se culpada por ter sido tão intolerante, tão
dura com ele. Na ocasião, sentira-se humilhada, furiosa com Filipe. Não
queria voltar a vê-lo, receando que fosse ainda pior. Em contrapartida, ignorar
os seus recados e nunca mais lhe falar tinha se afigurado a ela a retaliação
perfeita. Mas ao compreender que se precipitara no julgamento e na pena,
teve dó dele, de tê-lo deixado tanto tempo sozinho naquela cama. E encheu-se
de vergonha do seu comportamento. Quis abraçá-lo, pedir-lhe desculpa, mas
conteve-se. Não facilitaria assim tanto a vida dele.

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