12 • Público • Quinta-feira, 19 de Setembro de 2019
POLÍTICA
Redes sociais
Investigadora defende que
número de “gostos” ou de
“seguidores” nas redes
sociais não reflecte “a
intenção dos votos”
As redes sociais são “mais um canal”
para os partidos políticos fazerem
campanha eleitoral e o Facebook é o
que mais chega ao eleitorado, e o
WhatsApp começa a ganhar relevân-
cia em Portugal, segundo investiga-
dores ouvidos pela Lusa.
A investigadora do ISCTE — Institu-
to Universitário de Lisboa e do Obser-
vatório da Comunicação (OberCom)
Ana Pinto Martinho entende que o
Facebook é a rede social que chega a
um maior número de pessoas, sendo,
por isso, o canal privilegiado para os
partidos fazerem passar a sua mensa-
gem, uma vez que atinge quase todo
o eleitorado, incluindo o mais velho.
No entanto, este ano está a assistir-
se “a um aumento muito maior da
comunicação através do WhatsApp”,
refere Ana Pinto Martinho, sustentan-
do que o que aconteceu nas eleições
do Brasil está agora a começar a pas-
sar-se em Portugal. A investigadora
atribui muita importância aos grupos
que começam agora a surgir no
WhatsApp, que “não são uma coisa
muito visível”, mas “chega às pessoas
de uma forma diferente” e “mais per-
sonalizada”. Nas eleições presiden-
ciais brasileiras, que elegeram Jair
Bolsonaro, em 2018, o WhatsApp foi
Eleições: WhatsApp começa
a ganhar relevância em
Portugal, mas Facebook
é o campeão
um meio privilegiado para a difusão
de notícias falsas.
Já no Instagram, que é seguido por
eleitores mais jovens, os políticos
fazem publicações mais próximas e
“não tão políticas”, adiantou, frisan-
do que o Twitter é “mais restrito” e
não é acessível ao público em geral,
sendo seguido sobretudo por jorna-
listas e políticos.
Também Sérgio Denicoli, especia-
lista de comunicação digital da Uni-
versidade do Minho, defende que, em
Portugal, os partidos têm procurado
estar presentes sobretudo no Face-
book e Instagram, começando o
WhatsApp “a ganhar mais relevância”
sem comparação com o que aconte-
ceu nas eleições brasileiras”.
O PS, o PSD, a CDU e o BE, através
do Esquerda.net, são alguns dos par-
tidos que criaram grupos no
WhatsApp para divulgação de infor-
mação da actividade política.
Numa consulta feita aos vários per-
Æs do Facebook, o PAN é aquele que
lidera com maior número de “gostos”
na página oÆcial daquela rede social,
com 160 mil, seguido do PSD com 149
mil “gostos”. Entre os partidos sem
assento parlamentar, o Nós, Cida-
dãos! e a Iniciativa Liberal conseguem
reunir 64 mil e 61 mil “gostos” cada.
Já no Twitter, o PSD é o partido que
surge em primeiro lugar, com 34,
mil seguidores, logo depois está o PS
com 32,1 mil. Já a coordenadora nacio-
nal do BE, Catarina Martins, que reú-
ne na sua página toda as informações
relacionadas com a campanha, é
seguida por 70,8 mil seguidores.
No Instagram é o PAN que lidera a
lista com mais seguidores ao alcançar
os 23 mil, enquanto o PSD atinge os
13,5 mil “seguidores”.
Para a investigadora do ISCTE, o
número de “gostos” ou de “seguido-
res” nas redes sociais “não reÇecte
directamente a intenção dos votos”.
e Portugal não é o país onde existe
“uma propaganda mais agressiva”.
Ana Pinto Martinho sustenta que
as redes sociais “são mais um canal”
para os partidos políticos fazerem
campanha eleitoral, mas não substi-
tuem “por enquanto” as arruadas ou
as acções de rua.
Para Sérgio Denicoli, a campanha
de rua é muito importante para que
os políticos conheçam localmente
os problemas do país, sendo estas
acções e as redes sociais “dois uni-
versos que se encontram e intera-
gem”.
WhatsApp começa a ganhar
relevância política
Aliança adia Festa da Liberdade
para depois das legislativas
Evento é inspirado na Festa
do Avante! , mas Santana
evita comparações. Está
marcado para 26 e 27 de
Outubro, em Odivelas
Partidos
Margarida Gomes
[email protected]
Partido de Santana Lopes completa um ano a 23 de Outubro e faz a festa a 26 e 27
A primeira edição da Festa da Liber-
dade do partido Aliança, uma espécie
de Festa do Avante! mas à direita, que
chegou a estar marcada para Setem-
bro, em Carcavelos, foi adiada para o
último Æm-de-semana de Outubro.
Com o novo agendamento, a Festa da
Liberdade vai coincidir com o primei-
ro aniversário da fundação do partido
criado por Pedro Santana Lopes, a 23
de Outubro.
Os militantes e simpatizantes da
Aliança vão assentar arraiais em Odi-
velas durante dois dias, num ambien-
te mais descontraído do que aquele
que teria a festa se decorresse antes
das eleições legislativas de 6 de Outu-
bro. A ideia de lançar uma iniciativa
nos moldes idênticos aos da tradicio-
nal festa do PCP — o maior evento
político-cultural realizado em Portu-
gal desde 1976 , partiu do presidente
do partido. Salvaguardando as devi-
das distâncias, como fez questão de
dizer, em declarações ao PÚBLICO,
Santana Lopes acredita no sucesso
da iniciativa, apesar deste contra-
tempo da mudança de data.
Porquê fazer uma Festa da Liber-
dade? “A liberdade deve ser celebrada
pela generalidade dos partidos”, res-
ponde Santana, acrescentando um
argumento político: “Numa altura em
que há tantos populismos e extremis-
mos lançados por novas forças políti-
cas na Europa, nós — os fanáticos da
liberdade — queremos celebrar o
valor da liberdade”.
Consciente de que a ambição de
fazer uma festa para o eleitorado da
direita inspirada numa festa como a
do Avante! é um grande desaÆo, o
líder da Aliança acredita, mesmo
assim, que o partido vai ser capaz de
deixar a sua marca, à sua escala. “A
Festa do Avante! é um gigante e nós
somos um pigmeu”, compara, subli-
nhando que a festa que os comunistas
promovem todos os anos “começou
devagarinho, quando não havia festi-
vais, e foi crescendo sem concorrên-
cia nenhuma; já a Festa da Liberdade
acontece numa altura em que todos
os Æns-de-semana há festivais”.
Criar um acto cultural
Santana não levanta o véu relativa-
mente às Æguras de cartaz que vão
animar os dois dias do evento, limi-
tando-se a dizer que os “nomes são
conhecidos”. “Não haverá surpresas.
É uma festa humilde que pretende ser
nacional”, sintetizou.
Quando, em Abril, fez o anúncio
oÆcial da Festa da Liberdade, Pedro
MIGUEL MANSO
Santana Lopes parecia mais ambicio-
so. “Queremos criar um acto cultural
e esperamos trazer para a política esse
lado. Será um evento em nome da
coesão nacional, destinada a todos os
sectores. É para as pessoas de direita,
do centro e de esquerda”, disse então,
ressalvando que o evento não preten-
dia “concorrer com outras festas”.
Com a liberdade em pano de fun-
do, a Aliança quer fazer a festa com
realizações alusivas ao tema escolhi-
do, mas o programa prevê vários
concertos de música, exibições de
ranchos folclóricos, artes plásticas e
outras iniciativas. A gastronomia e o
artesanato também vão estar repre-
sentados na festa de Odivelas, na
qual o ingresso é feito através de um
título de entrada, cujo valor varia
entre os dez (um dia) e os 15 euros
(dois dias).
O adiamento do evento Æcou a
dever-se à impossibilidade de solucio-
nar aspectos técnicos ligados às infra-
-estruturas eléctricas na quinta de
Carcavelos para onde chegou a estar
prevista a festa. Um dirigente nacio-
nal da Aliança aplaude a alteração da
data para depois das legislativas. “Os
cabeças de lista e outros candidatos
a deputados teriam de participar na
festa e isso iria comprometer acções
de campanha. Sendo em Outubro, é
bom e isso não prejudica a campa-
nha”, acrescenta.