Público - 17.09.2019

(C. Jardin) #1

12 • Público • Terça-feira, 17 de Setembro de 2019


POLÍTICA


O frente-a-frente da noite passada
entre António Costa e Rui Rio mos-
trou divergências na redução de
impostos, no Serviço Nacional de
Saúde (SNS) — e aqui o líder do PS
acusou mesmo o presidente do PSD
de querer “asfixiar” o sector — , na
justiça, na solução para os professo-
res e na proposta para o aeroporto
de Lisboa. Ambos defenderam a des-
centralização e a regionalização. Mas
isso quando houver consenso alar-
gado —Costa lembrou que o Presi-
dente da República é contra...
As divergências na área da justiça
entre os dois líderes já eram públicas,
mas desta vez o secretário-geral do PS
aproveitou para acusar Rui Rio de ter
uma “obsessão contra os juízes”. O
líder social-democrata negou, mas o
pretexto foi o exemplo que deu sobre
o salário de um professor no topo da
carreira que pode ser inferior ao de
um juiz em início de carreira. Nessa
fase do debate, transmitido em simul-
tâneo pela RTP, SIC e TVI, discutia-se
a questão dos professores: António
Costa argumentou que as carreiras
foram descongeladas; Rui Rio prome-
teu um programa da reforma anteci-
pada como forma de, em parte, resol-
ver a contagem total do tempo.
A questão da justiça viria a ser abor-
dada mais à frente — com uma per-
gunta sobre o tempo de duração dos
processos de Sócrates e de Ricardo
Salgado sem julgamento — e foi nessa
altura que o líder do PSD se mostrou
revoltado. “Os julgamentos, em vez
de se fazem em tribunal, fazem-se nas
tabacarias. Dá-se cabo da vida das
pessoas”, disse, questionando: “Qual
é “autoridade moral deste regime
sobre o Estado Novo quando faz uma
coisa destas?” Rio saiu até em defesa
do ministro socialista Mário Centeno:
“Um ministro das Finanças vai ao
futebol e fazem buscas no ministério.
É contra isso que eu estou”.
O primeiro-ministro foi mais pru-


As divergências na área da justiça entre


os dois líderes já eram públicas, mas


desta vez o secretário-geral do PS


aproveitou para acusar Rui Rio de ter


uma “obsessão contra os juízes”


dente, preferiu assumir que só se
consegue julgar a demora pela com-
plexidade “conhecendo os proces-
sos”. Mas não deixou de dizer que
“não é com a proposta” do PSD de
alterar a composição do Conselho
Superior da Ministério Público que
o problema se resolve.
Mais convergentes estiveram na
questão das sanções aplicadas aos
bancos por “cartelização”. Neste
caso, os dois admitiram que a situa-
ção podia ter sido detectada mais
cedo.
Na saúde, Rio e Costa mostraram
ter visões divergentes. O primeiro-
ministro insistiu em detalhar núme-
ros para mostrar o esforço que foi
feito na legislatura para melhorar o
SNS, enquanto Rui Rio reiterou que
o SNS “está pior” ao fim de quatro
anos. Embora sem querer exagerar
(“não vou dizer que está caótico”), o
líder do PSD também atirou números
para cima da mesa e traçou um retra-
to: “Faltam medicamentos, a dívida
aos fornecedores aumentou, há ali
muita ineficiência e falta de investi-
mento”. O chefe de Governo tentou
contrariar o diagnóstico, embora
admitisse que nesta área se aplica o
lema da campanha socialista “fazer
mais e melhor”. António Costa lem-
brou a proposta do PSD de querer
cortar nos “consumos intermédios”
para dizer que 60% desses gastos
estão no SNS. Esse corte significa
“um corte brutal no SNS” e uma
“asfixia”, acusou o líder socialista, o
que Rui Rio negou. O líder do PSD
defendeu que está na altura de o
Estado reduzir a despesa. Foi a deixa
para António Costa reduzir a propos-
ta social-democrata a uma “questão
de fé” e apontou uma incongruência
no discurso adversário: “Vamos
melhorar o SNS, mas não aumenta-
mos a despesa”.
Uma outra incongruência foi apon-
tada ao PSD na questão da proposta
do aeroporto do Montijo. Rui Rio
explicou que a actual solução só deve
ser posta em causa com as conclusões
do estudo de impacto ambiental. Mas

António Costa argumentou que o
estudo “já é conhecido”, que “não
coloca em causa a opção de fundo” e
acusou o PSD de “inconsistência” por
não ter contestado a solução do Mon-
tijo aquando da discussão do pogra-
ma nacional de infra-estruturas. O
primeiro-ministro assegurou que
uma eventual renegociação da loca-
lização com a ANA custaria ao país
“milhares de milhões”.
Foi também com a tentativa de
criar dúvidas sobre os efeitos futuros
da proposta do PSD de baixar impos-
tos — uma das principais bandeiras
do partido nesta campanha — que o
líder do PS começou o debate. “O
que Rui Rio propõe é um choque fis-
cal, que, como sabemos desde Durão
Barroso, acaba sempre num aumen-
to de impostos”, acusou, provocan-
do risos no líder do PSD. Momentos

O que Rui Rio
propõe é um
choque Äscal, que,
como sabemos
desde Durão
Barroso, acaba
sempre num
aumento de
impostos

António Costa
Secretário-geral do PS

Legislativas 2019


Sofia Rodrigues


Costa tenta colar Rio a subida


de impostos e a “asfixia” na saúde


As pessoas não
podem ser
penduradas na
praça pública (...)
Qual é a
autoridade moral
deste regime sobre
o Estado Novo
quando faz uma
coisa destas?
Rui Rio
Presidente do PSD
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