Público - 17.09.2019

(C. Jardin) #1

18 • Público • Terça-feira, 17 de Setembro de 2019


SOCIEDADE


Escola de Alcanena é a melhor


da Europa a ensinar Ciência


FOTOS: PEDRO FAZERES

Os alunos de cinco anos têm
actividades no domínio da
Física

A boa notícia chegou ontem no pri-
meiro dia de aulas: o Agrupamento
de Escolas de Alcanena, no distrito de
Santarém, é o melhor da Europa a
ensinar Ciências e Tecnologias. Os
alunos tinham uma reunião marcada
com o coordenador do projecto que
tem promovido o ensino nestas áreas
naquela escola, mas o planeamento
dos próximos meses de trabalho Æcou
por momentos afectado pelo entu-
siasmo da novidade.
É a primeira vez que esta distinção
é atribuída. O projecto STEM School
Label (selo escolas STEM), Ænanciado
pela União Europeia, criou uma rede
de estabelecimentos de ensino que
apostam no ensino das Ciências, Tec-
nologias, Engenharias e Matemática
(áreas cientíÆcas conhecidas pelo
acrónimo em inglês STEM). Entre as
mais de 1000 escolas envolvidas, a de
Alcanena foi a melhor classiÆcada. É
a única a receber a classiÆcação máxi-
ma atribuída neste primeiro ano de
avaliação, o STEM School ProÆcient
Label (selo de escola STEM ProÆcien-
te). Há outras cinco escolas nacionais
a receber a segunda classiÆcação mais
elevada, competente.
Este agrupamento “já tinha uma
cultura enraizada” no ensino da
Ciência e das Tecnologias, explica o
coordenador do departamento de
Matemática e Ciências Experimen-
tais, José Fradique. Há cerca de uma
década que são promovidos projec-
tos para colocar os alunos em con-
tacto com a investigação cientíÆca.
Nos últimos dois anos, esse esforço
“ganhou novo fôlego” com a introdu-
ção da autonomia e Çexibilidade
curricular nas escolas.
Antes, a Ciência e a Tecnologia
eram desenvolvidas “paralelamente
às aulas”, conta José Fradique, em
iniciativas como o Clube da Ciência e
o Clube da Programação. Agora, com
a possibilidade aberta pela nova legis-
lação de até um quarto do tempo
lectivo poder ser gerido pelas pró-
prias escolas, os projectos passaram
a integrar os currículos e a ser feitos
em períodos de aulas, em particular
nas disciplinas de Biologia e Geologia,


tactos, que trabalham com professo-
res universitários e que vão a congres-
sos apresentar os seus artigos”, conta.
A escola tem feito parcerias com ins-
tituições de ensino superior como as
universidades Nova de Lisboa ou de
Coimbra e os politécnicos de Leiria e
Santarém para que os alunos tenham
acesso a equipamento tecnológico
para os seus projectos ou a acompa-
nhamento por parte de investigado-
res dessas instituições.
Guilherme Félix, que acaba de
entrar no 12.º ano, participou no ano
passado numa conferência sobre
metodologias de ensino promovida
pela Organização para a Cooperação
e Desenvolvimento Económico
(OCDE), em França, por exemplo.
Frequenta o agrupamento desde o
pré-escolar e sempre notou a “grande
ênfase em projectos cientíÆcos e no
ensino prático” colocado pelos pro-
fessores. Quando chegou ao ensino
secundário, “isso acentuou-se”. A tal
ponto que Guilherme, que não pla-
neava prosseguir os estudos para o
superior, já se vê a candidatar-se a um
curso de Engenharia Química no Ænal
deste ano lectivo.
Mas não são só os alunos do ensino

secundário a trabalhar a Ciência e a
Tecnologia nas escolas de Alcanena.
O agrupamento tem estudantes des-
de o pré-escolar ao Æm do ensino
secundário (totaliza cerca de 1600
inscritos). Os alunos de cinco anos
têm actividades no domínio da Físi-
ca, trabalhando questões como o
movimento e a velocidade dos cor-
pos, em contexto de aula, fruto de
uma parceria com o Centro Ciência
Viva do Alviela.
Além de ser a melhor escola da
Europa a ensinar Ciência e Tecnolo-
gia, o agrupamento de Alcanena é um
de três nacionais (de um total de 20
na Europa) que será também embai-
xador do projecto. A European
Schoolnet, a rede que gere este pro-
jecto, vai trabalhar com estas escolas
durante o próximo ano lectivo para
que possam partilhar as suas boas
práticas com as restantes participan-
tes, de modo a ajudar estas últimas a
melhorar as suas classiÆcações. As
outras representantes portuguesas
são as escolas secundárias do Entron-
camento e de Loulé.
“É fantástico, e tão relevante, que
das mais de 1000 escolas que se can-
didataram, de tantos países europeus,
apenas Alcanena alcançou este nível
de proÆciência, tornando-se assim
um exemplo internacional”, valoriza
ao PÚBLICO o ministro da Educação,
Tiago Brandão Rodrigues. A rede tem
escolas de 34 países, incluindo países
parceiros como Israel ou a Turquia.
Das mais de 1000 escolas, 380 par-
ticiparam na primeira fase de avalia-
ção, que decorreu neste Verão. As
escolas foram colocadas em três pata-
mares, em função do seu comporta-
mento nos 21 indicadores que são
levados em consideração. Além da
escola de Alcanena, a única a ter o
selo de escola “ProÆciente”, outras
300 escolas, de 15 países receberam
o selo de escola “competente” – as
restantes não receberam qualquer
selo. Destas, cinco são portuguesas:
agrupamento de escolas Cidade do
Entroncamento, Escola Secundária
de Loulé, agrupamento de escolas de
Odemira, Escola ProÆssional de Oli-
veira do Hospital, Tábua e Arganil e
Escola ProÆssional de Almada.

Desde o pré-escolar que os alunos contactam com esta área e a das Tecnologias e chegam ao secundário


a fazer investigação em parceria com universidades. Trabalho foi premiado por rede europeia


Educação


Samuel Silva


Físico-Química e Matemática.
Por exemplo, no ensino secundá-
rio, os estudantes desenvolvem tra-
balhos de investigação cientíÆca
para tentar “dar resposta a proble-
mas locais”, em articulação com as
matérias do currículo. Numa região
onde a indústria dos couros tem [email protected]

uma grande tradição, as turmas têm
trabalhado a questão dos desperdí-
cios industriais, provando, por
exemplo, ser viável a sua reutiliza-
ção como fertilizante ou para obter
um biocombustível.

“Os protagonistas”
Aqui são os alunos “os protagonistas”,
valoriza a directora do agrupamento,
Ana Cláudia Cohen. “São eles que
escolhem os temas, que fazem os con-
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