Público - 17.09.2019

(C. Jardin) #1
2 • Público • Terça-feira, 17 de Setembro de 2019

DESTAQUE


MÉDIO ORIENTE


Riad aponta mira

ao Irão, Trump está

“pronto a disparar”

Arábia Saudita diz que os drones que foram usados no ataque


contra os seus campos de petróleo são iranianos, e aÄrma


que não foram lançados a partir do Iémen. EUA aguardam


conÄrmação para responderem


Alexandre Martins


D


urante anos, a imagem do
campo petrolífero de Abqaiq,
na Arábia Saudita, com a sua
aura de fortaleza imune a
ataques de grande dimen-
são, ajudou a acalmar os
receios de uma grave crise no forne-
cimento de petróleo no mundo. Mas
o que aconteceu na madrugada de
sábado, quando dez drones furaram
as defesas antiaéreas sauditas e des-
truíram uma parte importante de
Abqaiq e de outro campo petrolífero,
foi um pesadelo tornado realidade
para os responsáveis de segurança.
Ainda é cedo para se perceber
quando é que os campos de Abqaiq e
Khurais vão voltar a funcionar em
pleno, como antes do ataque de sába-
do, que os EUA e a Arábia Saudita
dizem ser da responsabilidade do
Irão. Mas a dimensão do rombo foi
conhecida em pouco tempo: 5,7 mil
milhões de barris de petróleo a menos
por dia, o equivalente a cinco por
cento da produção mundial.
Para se ter uma ideia da dimensão
da quebra, a Revolução Islâmica de
1979 no Irão provocou um rombo de
5,6 mil milhões de barris por dia, e a

invasão do Kuwait pelo Iraque, em
1990, chegou aos 4,3 mil milhões.
Ainda não se sabe quantos desses
quase seis mil milhões de barris vão
Æcar fora do mercado por pouco tem-
po, por razões de segurança, e quan-
tos só vão ser repostos no mercado
quando a Arábia Saudita retomar a
sua capacidade de produção máxima.
Ontem, o jornal Financial Times dizia
que isso só deverá acontecer dentro
de meses, “o que pode frustrar os
esforços para acalmar o mercado”.
Acima de tudo, é o Æm da imagem
de invencibilidade dos grandes cam-
pos sauditas que pode causar mais
problemas ao mercado de petróleo a
médio e a longo prazo.
“Se os mercados voltarem a preo-
cupar-se com os riscos geopolíticos,
como aconteceu em anos passados
— e há muito com que nos preocupar-
mos, das ameaças do Irão no estreito
de Ormuz, à guerra na Líbia, passan-
do pelos recentes ataques com drones
—, o preço do petróleo pode aumen-
tar durante meses. E isso pode travar
ainda mais o crescimento económi-
co, numa fase de crescente preocu-
pação com as tensões comerciais e
de um abrandamento generalizado
da produção”, alerta Keith Johnson,
especialista em geoeconomia, no site

da revista Foreign Policy.
Ontem, o preço do barril de Brent
chegou a subir 19% para quase 72
dólares — a maior subida dos últimos
28 anos, desde os dias que antecede-
ram o início da Guerra no Golfo.
“É muito difícil exagerar a serieda-
de dos ataques, especialmente em
Abqaiq. É o sistema nervoso central
da infra-estrutura energética do país”,
disse Helima Croft, da empresa RBC
Capital Markets, ao canal CNBC.
“Mesmo que as exportações sejam
repostas nas próximas 24 ou 48 horas,
a imagem de invulnerabilidade foi
apagada”, disse Croft.

Resposta saudita
O ataque foi reivindicado pelo movi-
mento Houthi, do Iémen, que com-
bate numa sangrenta guerra civil,
desde 2015, contra as forças do Presi-
dente Abdrabbuh Mansur Hadi.
A guerra já matou quase 100 mil
pessoas, num conÇito que é visto tam-
bém como o palco sangrento onde a
Arábia Saudita e o Irão se enfrentam
de forma indirecta — Riad ao lado do
Presidente Hadi, um sunita; e o Irão
ao lado do movimento houthi, xiita.
Mas o Presidente dos EUA, Donald
Trump, foi rápido a apontar o dedo a
outros responsáveis pelo ataque con-

tra os campos petrolíferos sauditas.
Em vez dos houthis, apoiados pelo
Irão mas sem acesso a tecnologia e
armamento soÆsticados, teriam sido
os próprios iranianos a lançarem os
drones contra os campos de Abqaiq
e Khurais, na sua luta pelo poder
regional com a Arábia Saudita e
numa estratégia para desestabilizar
o fornecimento de petróleo a nível
mundial — agora que as suas próprias
vendas caíram para quase zero por

Uma imagem divulgada pelo
Exército saudita mostra os
locais de impacto dos
drones no ataque de sábado.
O país garante que as armas
usadas são iranianas
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