Público - 17.09.2019

(C. Jardin) #1

24 • Público • Terça-feira, 17 de Setembro de 2019


A Hydro reaproveita janelas velhas


para produzir alumínio “limpo”


As questões ambientais com impac-
to ao nível da sustentabilidade do
planeta são, cada vez mais, um moti-
vo de preocupação por parte das
várias indústrias existentes que ten-
dem a adaptar o seu modelo de
negócio, rumo a um mundo mais
verde. Neste conjugar de esforços, a
improvável área da construção civil,
e todas as indústrias que lhe estão
inerentes, não constitui excepção,
pelo que é possível constatar uma
atenção redobrada na escolha dos
materiais usados, mas também no
que diz respeito à sua origem e ao
Æm que estes merecem.
É o caso do alumínio que, apesar
da sua leveza e Çexibilidade, se assu-
me como um material extremamente
resistente e duradouro que pode ter
diversas aplicações ao nível da cons-
trução de edifícios — ainda que a sua
utilização não se esgote neste sector.
No entanto, a extracção e a conse-
quente transformação do chamado
“metal verde” acarreta riscos e con-
sequências em termos ambientais
que não são compatíveis com o
momento de consciencialização
ambiental actual.
Para dar resposta a esta questão,
a multinacional norueguesa Hydro
— a operar na área da produção de
alumínio e de energias renováveis
— avançou, juntamente com o Minis-
tério do Ambiente alemão, com o
estudo e o lançamento de nova estra-
tégia de produção que consiste em
reaproveitar sucata de alumínio em
Æm de vida, retirada de caixilhos de
janelas e portas, reintroduzindo-a no
seu sistema de produção. É uma for-
ma de fechar o ciclo de vida deste
metal, que pode ser repetidamente
reciclável, dada a inesgotabilidade
das suas propriedades.
O sistema foi baptizado “Hydro Cir-
cal” e o produto dele resultante “75R”,
uma referência à composição da liga
gerada que deverá conter no mínimo
75% de alumínio reciclado. Para che-
gar a este número, toda a matéria
recolhida, proveniente maioritaria-
mente de construções na Alemanha


Uma multinacional norueguesa, com actividade em Portugal, propõe um novo sistema de reaproveitamento


para o alumínio, que é tido como um dos mais “verdes”, dada a sua capacidade de reciclagem


segundo o modelo que a empresa
norueguesa propõe, origina a emis-
são de dois quilos de CO2, seis vezes
menos do que a gerada pela extrac-
ção de metal. A qualidade, essa, não
parece comprometida, com a equi-
dade em relação à produção resultan-
te de alumínio primário assegurada,
quer pelos técnicos envolvidos no
processo, quer pelas certiÆcações de
diversas autoridades alemãs.
Segundo dados fornecidos pelo
grupo, estima-se que actualmente
existam 200 milhões de toneladas
de alumínio presentes em edifícios
de todo o mundo. Para já, a fábrica
da Hydro responsável por operar a
transformação deste metal recebe
anualmente 36 mil toneladas em Æm
de vida.
Os responsáveis do sistema garan-

RUI GAUDÊNCIO

Estratégia visa reaproveitar sucata de alumínio em fim de vida, retirada de caixilhos de janelas e portas, reintroduzindo-a depois no sistema

tem que a nova metodologia é apenas
o início de uma “revolução na indús-
tria da construção civil”.
Em Portugal, o grupo norueguês
Hydro está presente com duas fábri-
cas, em Avintes e Prior Velho. A nor-
te, mais de 130 trabalhadores — são
cerca de 200 que a multinacional
norueguesa emprega em solo nacio-
nal — dedicam-se à extrusão e fabri-
co de matrizes, assim como à refu-
são, num complexo fundado em


  1. No município de Loures, a
    Hydro Building Systems centra-se,
    como o próprio nome indica, na
    montagem de sistemas.


de alumínio presentes — anterior-
mente, a inexistência de máquinas e
mecanismos capazes de fazer esta
distinção obrigava à adição de alumí-
nio original em maiores quantidades
para que a matéria Ænal correspon-
desse ao desejado.
Retirados estes e outros elementos
poluentes, o material já “puriÆcado”
é enviado para as restantes unidades
fabris do grupo, onde vai ser nova-
mente integrado no ciclo de produ-
ção para dar origem a novos produ-
tos, processo a que a empresa dá o
nome de “mineração urbana”. Nesta
fase do processo já é possível apontar
ganhos ambientais: refundir alumínio
para um novo uso exige apenas 5% da
energia necessária para uma produ-
ção de origem. Em termos práticos,
a produção de um quilo da liga 75R,

Materiais de construção


Ana Rita Moutinho,


em Dormagen


[email protected]

ECONOMIA


e do resto da Europa, é depositada no
centro da fábrica da multinacional em
Dormagen, na Alemanha — para já, a
única unidade do grupo dedicada ao
procedimento. Depois, é sujeita a
diversas fases do processo transfor-
mativo — totalmente rastreável —, tais
como trituração, separação magnéti-
ca ou peneiração, que são sucessiva-
mente repetidos até se alcançar a
fórmula mais limpa possível.

Entrar de novo no círculo
O rigor imprimido na transformação
deve-se ao desgaste a que o material
está sujeito durante o período de uti-
lização, o que favorece a sua conta-
minação, nomeadamente com zinco,
borrachas ou plástico. Para além des-
tes componentes, são também sepa-
rados e diferenciados os vários tipos

A jornalista viajou à Alemanha
a convite da Hydro
Free download pdf