Público - 17.09.2019

(C. Jardin) #1
26 • Público • Terça-feira, 17 de Setembro de 2019

A acreditar nas sondagens, a votação
de hoje em Israel não vai trazer para
os protagonistas políticos grande
alteração ao que foram os resultados
das eleições legislativas de Abril: o
primeiro-ministro, Benjamin
Netanyahu, do Likud, e o seu princi-
pal rival, líder do partido Azul e
Branco, Benny Gantz, Æcaram empa-
tados e assim devem continuar.
As sondagens dão 32 deputados a
cada um dos partidos e as antevisões
são mais arriscadas do que o costu-
me — contactado pelo PÚBLICO para
falar destas eleições, Ronni Shaked,
comentador do popular jornal Yediot

Lieberman centrou a campanha das


legislativas na divisão entre seculares


e religiosos. Já o primeiro-ministro


propôs anexar o vale do Jordão


A potencial acusação por
corrupção a Benjamin
Netanyahu não teve um papel
nesta campanha

Ahronot e estudioso do conÇito israe-
lo-palestiniano na Universidade
Hebraica de Jerusalém, não espera
pela pergunta e diz logo que não faz
prognósticos: basta uma pequena
diferença num dos partidos mais
pequenos para poder determinar
quem recebe do Presidente, Reuven
Rivlin, o mandato para conversações
para formar governo. O Presidente
decide após ouvir recomendações
dos partidos e escolhe quem tem
mais condições para uma maioria
(não necessariamente o mais vota-
do).
Caso o primeiro candidato não
consiga formar uma coligação, deve-
ria seguir-se um segundo candidato.
Após as eleições de Abril, depois de
não conseguir formar governo,

Eleições em Israel
Maria João Guimarães

DesaƊado por Lieberman,


Netanyahu radicaliza promessas


Fonte: Reuters PÚBLICO

Nota: parte da fronteira ocidental da proposta anexação é definida pela estrada Allon.
O resto das fronteiras exactas não são conhecidas.

Egipto

Jordânia

Israel

Cisjordânia
Gaza

Ma

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A promessa de campanha de Netanyahu
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou a intenção de anexar
o vale do Jordão, que é uma grande parte da Cisjordânia ocupada, se vencer as
eleições. Também reafirmou a promessa de anexar os colonatos que Israel
estabeleceu na Cisjordânia.

Áreas A e B Controladas pela Autoridade Palestiniana
Área C Controlada por Israel
Proposta de anexação
Terra de ninguém

A linha de
armistício de
1949, chamada
“Linha Verde”,
separava o
território israelita
dos territórios
sob autoridade
egípcia e jordana

Durante a Guerra dos
Seis Dias em 1967, Israel
conquistou a maioria
dos Montes Golã à Síria,
anexando-os mais tarde


Colonatos
judaicos e
pequenos
colonatos não
autorizados, mas
tolerados, pelo
Estado

Hebron

Nablus

Rio Jordão

Jerusalém

CISJORDÂNIA
Estrada
Allon

Belém

Mar
Morto

10km

Jericó

Ribeira
de Arugot

Ramallah

MUNDO


do Æm da excepção do serviço militar
para os ultra-ortodoxos.

Carreira em jogo
A cada eleição Benjamin Netanyahu,
que terá em breve uma audição com
o procurador-geral (que já expressou
a sua intenção de o acusar em três
casos de corrupção), vai subindo a
escala das promessas eleitorais.
Começou por prometer em 2015
que não concordaria com um Estado
palestiniano (o que foi mais extraor-
dinário por quebrar um pressuposto
de décadas, mas que já há muito pare-
cia ser o seu objectivo na prática —
manter o statu quo) e venceu umas
eleições que pareciam perdidas.
Em Abril, prometeu que anexaria
os colonatos judaicos na Cisjordânia

ultra-ortodoxos, concedida na fun-
dação do Estado judaico a 400 estu-
dantes de yeshivas (escolas religio-
sas). Mas cerca de 70 anos depois, os
ultra-ortodoxos são cerca de 12% dos
nove milhões da população de Israel
e continuam a não ter de fazer servi-
ço militar e poder optar por viver de
subsídios para estudar a Torah.
“Bibi”, como é conhecido Netanya-
hu em Israel, não conseguiu conven-
cer Lieberman (que no passado par-
ticipara em coligações destas com
oferta de cargos como os Negócios
Estrangeiros ou a Defesa) a desistir

Netanyahu fez o Parlamento votar a
sua própria dissolução, forçando
eleições sem que Gantz tivesse opor-
tunidade para tentar formar uma
coligação de governo.
Apesar de ser Gantz o principal
rival de Netanyahu, nesta arena polí-
tica muito fragmentada (nos últimos
anos partidos têm-se juntado e sepa-
rado), Netanyahu parece estar a lutar
contra outro candidato: Avigdor Lie-
berman, o líder do partido Yisrael
Beitenu (Israel Nossa Casa).
Foi Lieberman quem acabou por
provocar a votação de hoje, recusan-
do-se a entrar numa coligação com
Netanyahu e os partidos ultra-orto-
doxos. O principal objectivo dos reli-
giosos era manter a excepção do
serviço militar obrigatório para os
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