Público - 17.09.2019

(C. Jardin) #1

30 • Público • Terça-feira, 17 de Setembro de 2019


MUNDO


JUAN MEDINA/REUTERS

Pablo Casado e Albert Rivera: a solução de governo passa agora pela direita


A solução para o impasse político
em Espanha pode vir, aÆnal, da
direita. Face à falta de entendimento
entre Partido Socialista (PSOE) e
Unidas Podemos, tendo em vista a
viabilização de um governo socialis-
ta, Albert Rivera propôs ontem uma
“solução de Estado” que permita a
investidura de Pedro Sánchez e evite
a realização de novas eleições, em
Novembro.
A proposta do líder do Cidadãos,
que estava ontem ao início da noite
reunido com Pablo Casado, dirigente
do Partido Popular (PP), passa pela
abstenção conjunta da direita numa
votação de investidura, que permiti-
ria ao Congresso dar luz verde a um
governo minoritário socialista.
Casado anunciou que só dará a sua
reposta a Rivera hoje, depois de se
reunir com o rei Felipe VI.
Em resposta, o presidente do
Governo em funções deu o seu apoio
a essa solução, sublinhando que já a


Rivera propôs abstenção a


Casado para investir Sánchez


vem proposto há vários meses. “Não
há nenhum obstáculo real para que
se abstenham, é o que lhes temos
vindo a pedir desde o passado 28 de
Abril [dia das legislativas]”, reagiu
Sánchez. “Não se trata de apoiarem
um governo socialista, mas de facili-
tarem a sua formação, para que evi-
temos a repetição eleitoral.”
Mas o levantamento do “cordão
sanitário” que a direita impôs ao
PSOE aquando do agendamento das
eleições de Abril — vencidas pelos
socialistas, sem maioria — depende
do cumprimento de três “compro-
missos”, que Rivera diz “que nin-
guém que queira bem a este país
pode estar contra”.
O líder dos liberais espanhóis exi-
ge que Sánchez rompa os acordos
com os nacionalistas bascos do EH
Bildu para o governo de Navarra,
que autorize a criação de uma mesa
de negociação para voltar a aplicar
o artigo 155.º da Constituição na
Catalunha — caso o governo catalão
não cumpra as sentenças do proces-
so independentista catalão, que
serão reveladas em Outubro — e
que se comprometa a não subir os
impostos.
“O que peço a Sánchez é um com-
promisso com Espanha e com a eco-
nomia espanhola”, aÆrmou Rivera,
numa intervenção, ontem, na sede
do partido. Sánchez, por seu lado,

garante que sempre cumpriu as exi-
gências em causa. “Se estas são as
condições, fica aprovado que não há
razões objectivas” para não se abste-
rem, reagiu o PSOE.
Se todos os envolvidos aceitarem
a proposta de Albert Rivera, Espanha
pode vir a ter governo ainda esta
semana. Basta, para tal, que os líde-
res de PP, Cidadãos e PSOE dêem
conta desse entendimento hoje,
quando se reunirem individualmen-
te no Palácio da Zarzuela com o rei.
A mudança de postura do Cidadãos
— o único partido em queda nas son-
dagens — ao Æm de meses de indispo-
nibilidade para ser solução, surge no
mesmo dia em que Felipe VI iniciou
a derradeira ronda de consultas aos
líderes dos partidos com representa-
ção parlamentar, antes de decidir se
permite o agendamento de nova
votação de investidura — Sánchez
falhou a primeira, em Julho — ou se
avança para a marcação das quartas
eleições em quatro anos e as segun-
das em cinco meses.
Fechada durante muito tempo a
porta a um entendimento entre o
PSOE e os partidos à direita, o foco
da estratégia dos socialistas tem pas-
sado por negociações à esquerda,
com o Unidas Podemos. O diálogo
chegou, no entanto, a um impasse.

Espanha


António Saraiva Lima


Partido Popular responde


hoje à iniciativa do


Cidadãos que implica


três condições. Sánchez


diz que já as cumpre


[email protected]

“Brexit”
António Saraiva Lima

Presidente da Comissão
Europeia e primeiro-
-ministro britânico
mostraram vontade de
intensificar negociações

Os 27 Estados-membros da União
Europeia continuam à espera que o
Governo britânico apresente uma
alternativa exequível ao backstop, a
cláusula de salvaguarda exigida por
Bruxelas para evitar uma fronteira
física entre Irlanda do Norte e Repú-
blica da Irlanda depois do “Brexit”.
Foi esta a mensagem partilhada pela
equipa de Jean-Claude Juncker
depois do almoço de trabalho de
ontem, no Luxemburgo, que teve
como protagonistas o presidente da
Comissão Europeia e o primeiro-mi-
nistro do Reino Unido, Boris
Johnson.
“O presidente Juncker reiterou
que a responsabilidade de apresen-
tar soluções juridicamente opera-
cionais e compatíveis com o acordo
de saída é do Reino Unido (...) e
salientou a abertura e disponibilida-
de da Comissão para examinar
quaisquer propostas que cumpram
os objectivos do backstop. Essas pro-
postas ainda não foram feitas”, lia-se
num comunicado divulgado pela
Comissão.
Exigido por Bruxelas para evitar o
regresso dos controlos alfandegários
na fronteira e arriscar pôr em causa

Juncker almoçou


com Johnson e não


ouviu alternativas


ao backstop


os Acordos de Sexta-Feira Santa, o
backstop implica o alinhamento da
Irlanda do Norte com as regras do
mercado único e a manutenção do
restante território britânico numa
união aduaneira com UE, caso os dois
blocos não encontrem um plano
alternativo.
Mas Johnson considera esta dispo-
sição “antidemocrática”. E insistiu na
determinação do Governo em “retirar
[do acordo] o backstop” e cumprir a
promessa de efectivar o divórcio den-
tro do prazo oÆcial.
“O primeiro-ministro também rei-
terou que não vai pedir um adiamen-
to e que vai retirar o Reino Unido da
UE no dia 31 de Outubro”, refere, por
seu lado, o comunicado partilhado
pelo número 10 de Downing Street.
No encontro entre os dois líderes —
que não Æzeram conferência de
imprensa Ænal — só houve acordo na
vontade das partes em “intensiÆcar”
as negociações, mesmo que Bruxelas
continue a assumir claramente que
a bola está do lado de Londres.
Johnson garante estar a fazer tudo
para concluir um novo acordo e para
evitar um uma saída sem acordo.
Mas os relatos dos funcionários euro-
peus à imprensa britânica dão conta
de que as propostas e conversas exis-
tentes são “vagas e insuÆcientes”.
“Em Bruxelas há muito cepticismo
sobre a real vontade do Reino Unido
em chegar a um acordo”, escreve
Adam Fleming, correspondente da
BBC na capital belga. “O optimismo
do primeiro-ministro sobre a revisão
do acordo do ‘Brexit’ não é partilha-
do pelo lado europeu.”

Juncker e Johnson não fizeram conferência de imprensa

JULIEN WARNAND/EPA
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