Público - 17.09.2019

(C. Jardin) #1

32 • Público • Terça-feira, 17 de Setembro de 2019


CULTURA


A erva daninha


de Guilherme Daniel


Com Erva Daninha, curta-metragem
por ele escrita e realizada, Guilher-
me Daniel venceu pela segunda vez
consecutiva o Prémio MoteLX /
Méliès d’Argent para Melhor Curta
de Terror Portuguesa. Foi entregue
na cerimónia de encerramento do
MoteLX, o festival de cinema de ter-
ror lisboeta, que se deu no domingo
à noite, no Cinema São Jorge. O pré-
mio dá acesso à competição interna-
cional Méliès d’Argent, que ocorrerá
no festival de Sitges, em Espanha, a
6 de Outubro.
Depois de, no ano passado, o rea-
lizador de 33 anos se ter atirado à
adaptação de um conto de H.P. Love-
craft com A Estranha Casa na Bruma,
desta feita escolheu uma ideia origi-
nal, que gira à volta de um casal rural
isolado, interpretado por Daniel Via-
na e Isabel Costa, que cultiva um
terreno.
Guilherme Daniel começou a fazer
Ælmes após ter acabado a Escola de
Cinema em 2012. Ao telefone com o
PÚBLICO, explica que não tem “pro-
priamente uma ambição forte de ser
realizador”. “Quero fazer um cami-
nho como director de fotograÆa. Há
um impulso criativo que me leva a
fazê-las, mas é muito também um
lugar de experimentação e evolução
que me interessa”, aÆrma. O objec-
tivo de fazer curtas foi para ele e a
produtora Raquel Santos, com quem
trabalha sempre, evoluírem nas suas
áreas especíÆcas, ele, que trabalha
como assistente de imagem e direc-
tor de fotograÆa em projectos de
outras pessoas e publicidade, na
direcção de fotograÆa e ela na direc-
ção de arte. Guilherme chama à cola-
boradora “co-autora do Ælme” e
descreve-a como alguém que “está
presente em todas as fases do pro-
cesso, da concepção até ao Æm, mes-
mo que não assine a realização”.
Os dois escolheram o universo do
terror “porque é divertido de fazer”.
“É interessante ter uma camada de
elementos fantásticos, ligados ao
terror, como a violência ou ambien-
tes soturnos e assustadores, mas ao
mesmo tempo conseguir trabalhar


O realizador de Erva Daninha recebeu no domingo à noite o Prémio MoteLX/Méliès d’Argent


para Melhor Curta de Terror Portuguesa pelo segundo ano consecutivo
CORTESIA MOTELX
são” porque “pode ser um bocado
redutor para quem passa realmente
por isso”, mas “está ligado a um
momento negro que às vezes temos
nas nossas vidas”.
Sobre o galardão explica que é
“importante o reconhecimento” de
um trabalho que tem vindo a ser
desenvolvido “ao longo dos últimos
anos”. “É uma alegria enorme e
sinal de que não estamos a trabalhar
em vão”, continua. “E dá sempre
uma exposição diferente ao Ælme, é
importante para mais pessoas o
verem e para se conseguir continuar
a falar dele.” Para ele, o importante
é o prémio do MoteLX, não o de
Sitges. “Acaba por ser um evento
um bocado secundário. Na altura
tive de estar a pesquisar para ver
quem é que tinha ganho e não foi
fácil, é uma coisa feita à porta fecha-
da, é um prémio importante, mas a
ideia com que Æquei no ano passado
é que não há grande cerimónia à
volta”, conta.
Para isso ajuda o valor pecuniá-
rio: o festival português dá 5000
euros aos vencedores. Foi, aliás,
dessa maneira que o Ælme foi em
parte Ænanciado: com o dinheiro do
ano passado. “É um prémio genero-
so, que dá pelo menos para pensar
em fazer uma curta”, comenta. É
que, por agora, ainda não há planos
para se aventurar no mundo das
longas, que “em termos de Ænancia-
mento é uma escala completamen-
te diferente” e porque não sente que
“a escrita de uma longa” seja algo
“muito confortável”.
Não quer dizer que tal nunca vá
acontecer. “Há uma ideia de, a mui-
to longo prazo, fazer um conjunto
de curtas-metragens com uma liga-
ção entre si e dar uma longa, mas
não sei o que vai acontecer”, revela.
E já tem prevista uma nova curta
que não é de terror e para a qual
está a tentar encontrar Ænanciamen-
to. Mas tem muita vontade de voltar
a concorrer ao MoteLX — “é um
bocado um hábito” — e, “mesmo
conseguindo fazer este Ælme”, tal-
vez acabe por realizar “duas curtas
no próximo ano”, só para poder
voltar ao festival.


[email protected]

Cinema


Rodrigo Nogueira


Actores Isabel Costa e Daniel Viana : casal num ambiente isolado

outro tipo de subtextos por debaixo
dessa camada”, resume. Fascina-o
“o trabalho duplo, o género que está
por cima e um bocado o que é mais
importante escondido por baixo,
que ganha força nesta maneira de ser
trabalhada”.

Ganhar raízes
No caso de Erva Daninha, o autor
queria explorar “uma coisa negra
que pode crescer dentro de uma
pessoa e ganhar raízes, começar a

Há uma ideia de,
a muito longo
prazo, fazer um
conjunto de
curtas-metragens
com uma ligação
entre si e dar uma
longa. Para já, é
um prémio
generoso, que dá
pelo menos para
pensar em fazer
uma curta

Guilherme Daniel

inÇuenciar comporta-
mentos e as pessoas
que estão mais pró-
ximas, como namo-
radas ou esposas ou
amigos, que sentem
algo de errado com a
pessoa e tentam aju-
dar, mas não conse-
guem porque a coisa
está enraizada”.
Prefere não
usar “depres-

pelo me
pensar
uma cu

Guilherm

po ta
ssoas s
pró-
amo-
as ou
entem
com a
am aju-
conse-
a coisa
da”.
Free download pdf