Público - 17.09.2019

(C. Jardin) #1

36 • Público • Terça-feira, 17 de Setembro de 2019


Nova salamandra-gigante pode


ser o maior anfíbio do mundo


A maior salamandra-gigante-da-china conhecida até agora — encontrada no Sul do território chinês


na década de 1920 e que tinha 1,8 metros de comprimento — pode, aÄnal, ser de uma espécie diferente


Zoologia


André M. Nóbrega


CIÊNCIA


Até agora, a salamandra-gigante-da-
china, a Andrias davidianus, era
conhecida por ser o maior anfíbio do
mundo. Contudo, num artigo publi-
cado hoje na revista Ecology and Evo-
lution, uma equipa de cientistas iden-
tiÆcou duas novas espécies de sala-
mandras-gigantes-da-china e sugere
que uma delas pode ser o maior anfí-
bio do mundo, destronando a Andrias
davidianus.
Em 2018, um estudo publicado na
revista Current Biology mostrou que
poderiam existir entre cinco e oito
espécies de salamandras-gigantes-da-
china. Porém, este trabalho não con-
seguiu situar geograÆcamente as
linhagens genéticas descobertas, pois
muitas das salamandras estudadas
poderiam ter fugido de quintas de
salamandras, onde eram criadas para
serem vendidas. A reprodução entre
espécies diferentes e a libertação inad-
vertida destes anfíbios — pois não há
o cuidado de os colocar nos habitats
mais adequados — põem em risco a
diversidade das salamandras, devido
aos perigos de alastramento de doen-
ças e de homogeneização genética.
Agora, a equipa composta por
investigadores da Sociedade Zooló-
gica de Londres (ZSL, na sigla em


1920 pode ser uma Andrias sligoi.
Samuel Turvey, investigador da ZSL
e primeiro autor do artigo, explica,
citado num comunicado da sua insti-
tuição, que as espécies de salaman-
dra-gigante-da-china agora reconhe-
cidas divergiram entre o Ænal do Plio-
ceno e o começo do Plistoceno — entre
há 3,1 milhões de anos e 2,4 milhões
de anos. “Estas datas correspondem
a um período de formação de monta-
nhas na China e à subida rápida do
planalto do Tibete, o que pode ter
isolado populações de salamandras-
-gigantes e levado à evolução de dife-
rentes espécies em locais distintos.”

Adaptar a conservação
Sobre as novas espécies de salaman-
dras os cientistas destacam que entre
os 17 espécimes de museu estudados
agora está uma salamandra encontra-
da em Hong Kong em 1920, que já em
1924 tinha sido descrita como uma
espécie diferente da única salaman-
dra-gigante-da-china que se conhecia
na altura. Mesmo
assim, em 1968, foi
considerada uma
Andrias davidianus.
Agora, a equipa da ZSL
sugere que este exem-

plar possa fazer parte de uma das
espécies descobertas.
Antes de ser uma espécie ameaçada,
a salamandra-gigante-da-china distri-
buía-se em abundância pelo centro,
Sul e Leste da China. Está classiÆcada
como “criticamente em perigo” pela
União Internacional para a Conserva-
ção da Natureza, desde 2004.
As causas da diminuição das popu-
lações de salamandras-gigantes-da-
-china são a exploração para consu-
mo humano, a destruição de habitats
e as alterações climáticas. “Espera-
mos que esta nova compreensão
sobre a diversidade das espécies [de
salamandras-gigantes-da-china] che-
gue a tempo de contribuir para a con-
servação bem sucedida destes anfí-
bios”, assinala Samuel Turvey. “São
necessárias medidas urgentes para
proteger qualquer população de sala-
mandras-gigantes ainda existente.”
Melissa Marr, investigadora do
Museu de História Natural de Londres
e também autora do artigo, acrescen-
ta que é preciso “pôr em prática medi-
das de conservação coordenadas que
preservem a integridade genética de
cada espécie”. Os investigadores
defendem ainda a actualização dos
planos de conservação, de modo a
reconhecer a existência destas três
espécies de salamandras-gigantes. A
movimentação destes anfíbios
com Æns comerciais também
deve ser proibida para que
se consiga reduzir o risco de
transferência de doenças e
de hibridização genética,
escreve-se no artigo.
A salamandra-gigante é um anfí-
bio da família Cryptobranchidae,
que divergiu de outros anfíbios
durante o período Jurássico, entre
há 200 milhões e 145 milhões de
anos. Além das espécies de salaman-
dra-gigante-da-china agora
conhecidas, existem
duas espécies reconhe-
cidas de salamandras-
-gigantes — uma no Japão
e outra nos Estados Unidos.
Estes animais vivem nos rios e cur-
sos de água e podem pôr 500 ovos
de cada vez. Texto editado por
José J. Mateus

no Sul da China, que tinha 1,8 metros
de comprimento. Mas este novo estu-
do sugere que, aÆnal, esse exemplar
pode ser da espécie Andrias sligoi.
Porquê? A partir da distribuição dos
espécimes estudados e de várias
amostras genéticas, percebeu-se que
a Andrias sligoi se distribui e domina
mais toda a região sul da China do que
a Andrias davidianus. Como tal, a sala-
mandra-gigante descoberta nos anos

inglês) e do Museu de História Natu-
ral de Londres analisou 17 exempla-
res de salamandra-gigante-da-china
(da espécie Andrias davidianus) de
vários museus, que foram obtidos
antes de se iniciar a captura, trans-
porte e libertação de salamandras-
gigantes-da-china no território chinês
na segunda metade do século XX.
Foram analisadas também amostras
de tecidos de salamandras selvagens
desta espécie.
Desta forma, detectou-se três linha-
gens genéticas e percebeu-se que
estas salamandras provinham de
vários rios e cordilheiras da China.
Além da espécie de salamandra-gi-
gante-da-china já conhecida, identi-
Æcaram-se então outras duas espécies
de salamandras-gigantes: a Andrias
sligoi, designada por salamandra-gi-
gante-do-sul-da-china; e uma espécie
encontrada nas montanhas
Huangshan, no Sudeste do país, que
para já não tem nome, pois ainda será
descrita formalmente.
Até este momento,
pensava-se que o
maior anfíbio do mun-
do conhecido era uma
salamandra-gigante da
espécie Andrias davidianus,
devido a um exemplar cap-
turado nos anos 1920 na
província de Guizhou,

[email protected]

a

zhou,

que divergiu
durante o perí
há 200 milhõ
anos. Além das
dra-gig
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    Estes animais v
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    de cada vez.
    José J. Mateu


andre.nobreg

SOCIEDADE ZOOLÓGICA DE LONDRES

Pintura da salamandra-gigante
da espécie Andrias sligoi agora
descrita


Esperamos que
esta nova
compreensão
sobre a diversidade
das espécies
chegue a tempo de
contribuir para a
conservação destes
anfíbios
Samuel Turvey,
investigador
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