Público - 17.09.2019

(C. Jardin) #1

44 • Público • Terça-feira, 17 de Setembro de 2019


DESPORTO


O adversário que o BenÆca recebe
hoje, na estreia na Liga dos Cam-
peões 2019/20, é odiado de forma
feroz por boa parte de uma Alema-
nha apegada às regras, mas intensa-
mente amado pela cidade de Leipzig,
há muito sedenta de um grande clu-
be na Alemanha Oriental.
Para perceber o que rodeia este
jovem clube da antiga Alemanha
comunista é preciso recuar uns
anos. Em 2009, a empresa Red Bull,
que factura muitos milhões anuais
na venda de bebidas energéticas,
decidiu comprar um clube modes-
to, o Markranstädt. Assumiu a licen-
ça deste clube e quis “dar-lhe asas”,
até com cunho pessoal no nome.
Qual era o problema? As regras.
A Federação Alemã de Futebol
não permite que uma empresa dê
nome a um clube — excepto quando
esteja há mais de 20 anos no negó-
cio, como a Bayer no Leverkusen ou
a Volkswagen no Wolfsburgo —, e a
Red Bull foi, portanto, criativa: o
novo clube passou a chamar-se
Rasenballsport que, em alemão,
signiÆca algo como “desporto com
bola na relva”. “Curiosamente”,
esta escolha encaixou, na perfeição,
nas iniciais da Red Bull, que conse-
guiu o que queria: este clube
“bebé”, chamado Rasenballsport
Leipzig, Æcou conhecido como “RB
Leipzig”.
Criatividade, dizem uns, contorno
às regras, dizem outros, e este clube-
empresa começou, desde a nascen-
ça, a provocar ódio. Ódio de quem,
no futebol germânico, não abre mão
do tradicionalismo. “Este clube foi
fundado com o objectivo de aumen-
tar apenas as receitas da Red Bull,
nada mais”, chegou a dizer um diri-
gente do BorussiaDortmund.
Outra regra alemã estipula que
nenhum investidor possa deter mais
de 50% do clube, dando aos sócios
peso real na gestão. Outro problema


Bruno Lage assume possíveis mudanças no “onze” habitual


“É


uma possibilidade
[chamar Jota ao ‘onze’] e
uma opção para quando
o adversário joga com
uma linha de cinco defesas.” As
palavras são de Bruno Lage,
treinador do Benfica, na
antevisão do jogo de hoje frente
ao RB Leipzig. Este jogo é a
estreia do técnico na principal
prova europeia de clubes, mas
Lage, a cumprir castigo, após a

expulsão em Frankfurt, na Liga
Europa, na época passada, não
estará no banco. “Só será
diferente em presença física. A
nossa dinâmica de trabalho não
se vai alterar. Teremos analistas a
preparar o que será importante
dizer ao intervalo e pessoas a ver
de cima e a comunicar com o
banco. Nada se vai alterar e
confiamos em todos.” E disse
ainda onde verá o jogo: “Vou ver

o jogo no meio dos adeptos. Já
que não posso estar o banco,
quero sentir o calor.”
Por fim, na antevisão da
partida, o técnico “encarnado”
garantiu que Pizzi, Rafa e André
Almeida, ausentes do treino de
ontem, não têm “nada de
especial nem anormal”, falando
de gestão de esforço perante a
proximidade dos jogos frente a
Gil Vicente e RB Leipzig.

Benfica 4-4-2

RB Leipzig 3-5-2

Ferro

Pizzi Rafa

A. Almeida

Odysseas

Gulácsi

Werner

Mukiele

Klostermann
Orbán Konaté

Halstenberg

Forsberg Sabitzer

Fejsa

R. Tomas

Estádio da Luz
Lisboa

Árbitro: Tasos Sidiropoulos Grécia

20h
TVI

Taarabt

R. Dias

Seferovic

Grimaldo

Laimer

Poulsen

para a Red Bull? Talvez não. Nada
que o aumento do preço para ser
sócio não resolva, dando apenas a
investidores mais “recheados” — e
próximos da Red Bull — boa parte
do poder dos associados.
Após uma ascensão meteórica da
quinta divisão até à Bundesliga, o
capital de ódio por este clube
aumentou. AÆnal, juntou-se uma
fundação polémica a um bom ren-
dimento desportivo. E começaram
os protestos: cabeças de touro (tou-
ro é o símbolo da Red Bull) atiradas
para os relvados, confrontos entre
adeptos rivais, apedrejamentos,
recusas de ter o emblema do RB
Leipzig nos cachecóis dos jogos e
nos ecrãs gigantes, “negas” para
partidas de pré-época e até adeptos
a recusarem acompanhar o seu clu-
be só para não terem de entrar no
recinto do odiado RB Leipzig.
Protestos que, na prática, de pou-
co valeram: o RB Leipzig tornou-se o
maior clube da Alemanha Oriental,
cuja reuniÆcação com o restante ter-
ritório, em 1990, não deu, em maté-

RB Leipzig, um “bebé com asas”


e profundamente detestado


Com apenas dez anos de história, o


projecto da Red Bull tem sido vencedor,


sustentável e com uma ÄlosoÄa vincada.


E o líder da Bundesliga irá à Luz para


mostrar que a Red Bull lhe deu asas


Futebol internacional


Diogo Cardoso Oliveira

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