Público - 17.09.2019

(C. Jardin) #1

46 • Público • Terça-feira, 17 de Setembro de 2019


DESPORTO


O segredo do sucesso do Famalicão


tem um nome — Jorge Mendes


RUI FARINHA/LUSA

O Famalicão fez 20
contratações para esta
época e Jorge Mendes foi
fundamental para isso

Quando a 12 de Maio do ano passado
o Famalicão terminou a II Liga no
14.º lugar com uma sequência de
quatro derrotas e um empate, mui-
tos dos adeptos famalicenses terão
respirado de alívio pela chegada do
Ænal da temporada. Após duas déca-
das perdido nos escalões não proÆs-
sionais, com direito a passagem
pelos distritais da AF Braga, o clube
minhoto garantia pela terceira época
consecutiva a permanência na II
Divisão e consolidava a sua posição
no escalão. Porém, um ano depois,
a realidade do Famalicão parece saí-
da de um Ælme de Æcção. Com quatro
vitórias e um empate, os famalicen-
ses repetem um feito apenas conse-
guido por Boavista e Sp. Braga no
século XXI: furar o domínio dos
“grandes” e liderar de forma isolada
a I Liga à quinta jornada. O segredo
do sucesso do Famalicão não é, no
entanto, obra do acaso e tem um
nome: Jorge Mendes.
Para alguns será apenas um foga-
cho, para outros terá um prazo de
validade curto, mas a surpreendente
liderança do Famalicão ao Æm das
primeiras cinco jornadas da I Liga
resulta de um projecto que começou
a ser delineado há mais de um ano,
após 92,4% dos sócios do clube apro-
varem a autorização da venda de até
90% do capital social da SAD (socie-
dade anónima desportiva). A autori-
zação para a entrada de investidores
foi a oportunidade perfeita para Jor-
ge Mendes.
Com uma relação próxima com o
Rio Ave até 2017, o empresário e líder
da Gestifute começou a resfriar a sua
ligação com o clube de Vila do Conde
depois de os sócios rioavistas terem
optado em manterem-se como SDUQ
(sociedade desportiva unipessoal
por quotas). Sem possibilidade de
assumir o controlo do Rio Ave — a
Fosun era apontada como interessa-
da em entrar no capital da formação
de Vila do Conde —, Mendes mante-
ve-se por perto, mas virou a agulha
para este. O “plano B” estava a ape-
nas a 30 quilómetros de distância.
No Ænal de Junho de 2018, na mes-


Group, holding detida pelo magnata
israelita Idan Ofer, um dos accionis-
tas do Atlético de Madrid (32%). O
puzzle completava-se e o projecto
podia arrancar.
Dono de uma das maiores frotas
de navios a nível mundial, Ofer, de
64 anos, nasceu em Haifa, mas reside
em Londres. Com negócios ligados
também ao petróleo, produção auto-
móvel e telecomunicações, Ofer sur-

giu no futebol no Ænal de 2017 ao
entrar no capital social do Atlético
de Madrid, clube com ligações
conhecidas e próximas à Gestifute.
Quatro meses depois de assumir o
controlo da SAD, surgiu a primeira
aparição pública de Ofer em Fama-
licão. Com Mendes ao seu lado, o
israelita assistiu à vitória frente ao
Sp. Covilhã, por 2-1. Curiosamente,
o triunfo coincidiu com a subida dos
famalicenses ao segundo lugar, posi-
ção que o clube não mais perdeu até
Ænal da II Liga, garantindo assim o
regresso à principal divisão do fute-
bol português um quarto de século
depois.
Garantido o primeiro objectivo do
projecto, a Quantum PaciÆc Group
reforçou a sua posição ( já detém 85%
da SAD) numa parceria que, segundo
Miguel Ribeiro, pretende “deixar
marca no futebol português”. Para
isso, o Famalicão apostou em João
Pedro Sousa, antigo adjunto de Mar-
co Silva, para liderar a equipa e revo-
lucionar o plantel.
Com um orçamento de sete
milhões de euros — os históricos Boa-
vista e Belenenses SAD juntos não
gastam esse valor —, o Famalicão
reforçou-se com duas dezenas de
contratações, dando-se a um luxo
que diÆcilmente estaria ao alcance
de qualquer outro clube português,
exceptuando os três “grandes”. Com
a indispensável inÇuência de Men-
des, a base de recrutamento foram
clubes como o Wolverhampton, o
Valência ou o Atlético de Madrid, de
onde chegaram cedidos algumas
jovens promessas.
A transformação da equipa em
relação à última época Æca bem
reÇectida no “onze” escolhido por
João Pedro Sousa na última jornada.
Contra o Paços de Ferreira, equipa
que terminou à frente do Famalicão
na II Liga, os minhotos tinham dez
reforços (apenas o guarda-redes
Defendi transitou da última época),
sendo que o técnico ainda se deu ao
luxo de deixar no banco de suplentes
dois internacionais pelas camadas
jovens de Portugal (Guga Rodrigues
e Diogo Gonçalves) e um internacio-
nal sub-18 inglês ( Josh Tymon).

Impulsionado pelos milhões de Idan Ofer, milionário israelita com fortes ligações ao líder da Gestifute,


o clube famalicense é a equipa-sensação deste início de temporada e lidera a I Liga ao Äm de cinco jogos


Futebol


David Andrade


ma semana em que os sócios do
Famalicão acederam a que o clube
perdesse o controlo da SAD, os fama-
licenses anunciaram que Miguel
Ribeiro — era director-geral do Rio
Ave desde 2011 e construiu uma rela-
ção próxima com Mendes — seria o
homem forte do futebol do Famali-
cão. No mesmo comunicado, era
revelado que a SAD passava a ser
detida em 51% pela Quantum PaciÆc [email protected]

Com a
indispensável
inÅuência de
Mendes, a base de
recrutamento
foram clubes como
o Wolverhampton,
o Valência ou o
Atlético de Madrid,
de onde chegaram
cedidos algumas
jovens promessas

STEFAN WERMUTH/REUTERS
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