Público - 17.09.2019

(C. Jardin) #1
8 • Público • Terça-feira, 17 de Setembro de 2019

ESPAÇO PÚBLICO


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CARTAS AO DIRECTOR


OO “povo de esquerda”
e as sondagens

Pelas conversas que tenho tido com
várias pessoas, de várias
sensibilidades, que considero no
espectro da esquerda política, já
cheguei a algumas conclusões em
relação às próximas eleições.
Curiosamente estas conclusões
coincidem com as últimas
sondagens conhecidas. Como são
de esquerda, todos querem que ela
ganhe; porém, a maior parte não
quer que o PS tenha maioria
absoluta; por outro lado, também
não querem que o BE tenha mais
do que 10% dos votos e que,
portanto, se mantenha o equilíbrio
actual entre os dois partidos. Todos
têm pena se a CDU descer muito e
gostariam que não perdesse muita
força parlamentar e social. Em
relação ao Livre, gostariam que
entrasse um deputado por Lisboa,

para testar a sua originalidade e o
seu contributo político real. Em
relação aos partidos da direita não
vêem com bons olhos uma descida
acentuada do PSD para não abrir a
porta ao aparecimento de forças
extremistas de direita no
Parlamento. Quanto ao PAN, todos
acham que é bom haver mais um
partido ecologista, independente
do PCP, mas não querem que
venha alterar muito a correlação
de forças no hemiciclo, até porque
ninguém percebe bem o seu
ideário político e, por isso, de que
lado está da barricada. No fundo o
chamado “povo de esquerda” quer
que tudo Æque mais ao mesmo na
mesma, o que é curioso, mas prova
também que a experiência dos
últimos quatro anos foi
considerada equilibrada e
produtiva.
José Carlos Palha,
Vila Nova de Gaia

Abstenção
não aumentou

Ao contrário do que se refere no
(interessante) artigo que abre o
PÚBLICO de ontem sobre
sondagens — e que tem sido
aÆrmado por inúmeros órgãos de
comunicação social —, nas últimas
eleições europeias não se atingiu o
pico da abstenção. Se se entrar em
linha de conta com todos os dados,
até se veriÆcou, em Portugal, uma
tendência para a diminuição da
abstenção. A questão está nos
eleitores portugueses no
estrangeiro, que passaram de 244
mil inscritos em 2014 para 1441 mil
em 2019, uma vez que todos
passaram a estar automaticamente
inscritos e não apenas aqueles que
o quiseram fazer. Não é pois
possível comparar os dados dos
eleitores no estrangeiro. E,
relativamente aos eleitores em

Portugal, veriÆcou-se uma
diminuição
da taxa de abstenção de 65,34% em
2014 para 64,68% em 2019.
Continua a ser alta, mas diminuiu.
Manuel Arons Carvalho,
Alfornelos

E assim vamos
cantando e rindo...

É curiosa esta obsessão da
generalidade dos comentadores e
políticos com as fragilidades do
PAN, em vez de discutir seriamente
as questões ambientais que estão,
queira-se ou não, na primeira
ordem do dia. É um bocadinho
como insistir em discutir o uso de
capacete nas trotinetes sempre que
se debate o caos da utilização
automóvel nas grandes cidades e a
sinistralidade rodoviária.
Fernando José Carvalho,
Porto

O realizador de Erva Daninha foi distinguido
domingo à noite com o Prémio MoteLX/
Méliès d’Argent para Melhor Curta de Terror
Portuguesa. Após ganhar o prémio em 2018 com a
adaptação de um conto de H.P. Lovecraft, Guilherme
Daniel voltou a ser distinguido, agora com uma
curta-metragem por ele escrita e realizada. Apesar
de querer apostar numa carreira como director de
fotografia, a verdade é que está a fazer um caminho
(aplaudido) na realização (Pág. 32) J.J.M.

O surfista português teve um brilhante
desempenho nos Mundiais de surf que
decorreram no Japão com um sétimo lugar
que lhe permitiu ser o melhor europeu em prova,
conseguindo ainda uma vaga para os Jogos
Olímpicos de 2020. O resultado dá a Frederico
Morais esperança para as duas provas que vão
decorrer em águas portuguesas, onde procura a
requalificação para o circuito mundial, o que nesta
Guilherme Daniel Frederico Morais altura está um pouco distante (Pág. 47) J.J.M.

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Um bom tónus para a campanha que aí vem


A


determinado momento do debate
de ontem entre Rui Rio e António
Costa, falava-se da produção do
Serviço Nacional de Saúde e
perante uma nuvem de números
Rio condescendeu: “Empatámos.”
Empataram no débito de consultas
realizadas nos hospitais ou nos centros
de saúde, de euros de investimento ou
de despesa corrente, mas, face às
expectativas iniciais do debate, Rui Rio
ganhou. Ganhou pela diferença mínima
não porque fosse mais claro, mais
contundente, mais preparado ou mais
astuto a aproveitar as falhas do

adversário. Ganhou porque provou aos
que tinham dúvidas que é dono de um
conhecimento sólido sobre os principais
assuntos do Estado e de um programa
para o país que, não estando nos
antípodas do que Costa defende, é
ainda assim mais próximo dos velhos
pergaminhos do PSD: uma visão mais
liberal da sociedade e uma série de
propostas políticas mais próxima das
empresas.
António Costa esteve bem e só uma
vez precisou de recuar no tempo para
culpar as heranças da troika. Sabia bem
quais eram os Çancos de ataque que Rio
iria explorar e ensaiou respostas para as
acusações da mais alta carga Æscal ou do
menor investimento público. Foi
inteligente e assertivo na forma como
desmontou as dúvidas sobre obras
públicas, como o aeroporto do Montijo.
Tinha a lição preparada sobre as
alegadas vulnerabilidades do SNS e, em

geral, dos serviços públicos. Foi
particularmente sereno nas respostas e
nas explicações. Fez o que se esperava
de um primeiro-ministro que, ainda por
cima, está à frente nas sondagens.
Rio não tinha activos desta natureza a
seu favor. Apareceu neste debate que
ele próprio considerou como um
“Portugal-Espanha em hóquei” com
tudo para perder e muito pouco a
ganhar. Já tinha dado sinais em
momentos anteriores que se sente
melhor neste período de pré-campanha
do que a gerir o dia-a-dia da política e a
turbulência do seu partido. Ontem
voltou a provar o que outrora Miguel
Veiga disse dele um dia: que é melhor
quando Æca sob pressão. Foi nesta
condição que se revelou capaz de cavar
as vulnerabilidades do Governo — o país
que cresce pouco em comparação com
os congéneres europeus no mesmo
estágio de desenvolvimento, o

executivo que não aproveitou as
políticas do BCE ou a conjuntura
internacional favorável, a ausência de
reformas ou uma gestão que considerou
estar apegada ao presente e sem
perspectivas de futuro. Mostrou
também que é uma pessoa com nervo
emocional quando exigiu ao Ministério
Público mais eÆcácia e menos
“condenações na praça pública”. E um
político normal quando tergiversou
sobre a regionalização — no que foi bem
acompanhado pelo primeiro-ministro.
O debate de ontem não servirá para
que a imagem de António Costa se
esvazie, servirá apenas para que a de
Rui Rio se revitalize. Pode ser tarde de
mais. Mas que o frente-a-frente foi
excelente para reavivar a política,
animar a discussão e dar vida à
campanha, lá isso foi.

Manuel Carvalho
Editorial
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