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OPINIÃO SEGUNDA,04 DE MARÇO DE 2019
OPINIÃO DA GAZETA
Editora: Carol Rodrigues [email protected]| Telefone: (27) 3321.
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gazetaonline.com.br 25/04/2018-25/04/
DESASTRE
POPULISTA
A
Venezuela se encontra cada vez mais isolada. En-
quanto Nicolás Maduro fecha violentamente suas
fronteiras para evitar a fuga de venezuelanos e a
entrada de ajuda humanitária no país, escreve por
suas próprias linhas o desfecho do desastre popu-
lista imposto pelo chavismo, que nos últimos vinte
anos paulatinamente implodiu a democracia no país. É um beco
sem saída para um regime consolidado sobre bases frágeis, mo-
vediças. Foram seus próprios erros que abriram espaço para a rea-
çãoquesefortalece,apoiadapelacomunidadeinternacional.
A situação venezuelana pode ser didática, servindo de aprendi-
zadoparagovernantesecidadãosaoredordomundo.Ensinaqueo
populismo, de esquerda ou de direita, seduz multidões, mas tem
prazo de validade por não garantir um desenvolvimento pleno.
Ergue a escada para o autoritarismo ao desvirtuar as instituições
democráticas em um constante reembaralhar de cartas, com as
regras do jogo alteradas de acor-
do com os próprios interesses.
Hugo Chávez soube usar seu ca-
risma em favor de uma falsa sen-
saçãodejustiçasocial,patrocina-
da pelos petrodólares. Aprovei-
tou-se dos sentimentos de uma
população pobre e desconfiada,
liderandoumrevanchismoàseli-
tes que acabou por camuflar os
reaisproblemasdopaís.Enquan-
to tomava decisões autoritárias
como substituir juízes na Supre-
ma Corte, na metade da década
passada,conseguiaencantarseus
eleitorescomjustificativasdema-
gógicas: enfatizava que estava
abrindo os olhos da Justiça para
os interesses populares. Com sua
morte, chegou-se a duvidar das habilidades de Maduro em sus-
tentar o projeto de poder bolivariano, mas ele manteve a linha.
Funcionouporumbomtempo,masnãoparasempre.
Maduro pode permanecer no comando por algum tempo,
mas seu governo não mais existe. Há a sombra de uma lide-
rançaquecontoucomoapoiopopular,jáesgotado.Qualquer
vestígio de qualidade de vida acabou desaparecendo, com os
constantes desabastecimentos. A corrupção saiu da penum-
bra, ficou mais evidente. Índices de homicídios foram às al-
turas. E assim o castelo de cartas começou a ruir. A queda é
inevitável, cedo ou tarde. E o próprio povo acabou pagando o
preçodessaaventurapopulista.
Beco sem saída no qual se encontra a
Venezuela serve de alerta para governos
demagógicos com intenções autoritárias
O Bisonho
A palavra “bisonho“ tem, pelo menos,
dois significados em português, “sol-
dado inexperiente na tropa, recruta” e
“quem tem pouca ou nenhuma expe-
riência, habilidade, treinamento ou co-
nhecimento em alguma capacidade ou
ofício”. O bisonho é o inseguro, tímido,
inábil, inexperiente, palavra cuja origem
está no italiano “bisogno”, “necessidade
de obter algo que falta”, cf. dicionário
Houaiss da Língua Portuguesa.
Essa introdução é para dizer que li a
narrativa autobiográfica “O Bisonho”,
do catarinense Pipe Floriani, que narra,
de forma leve e bem-humorada, sobre o
período em que serviu ao Exército bra-
sileiro, ao fazer 18 anos e se alistar como
recruta. Nos agradecimentos, ao final, o
autor diz que o livro é uma homenagem
“a todos os homens da mochila, sejam
eles recrutas, soldados, alunos, praças,
aspirantes ou oficiais, mas principal-
mente os bisonhos”.
Em seu texto, o sentido de “bisonho” é
ampliado, pois além de recruta e inex-
periente, o jovem que se alistou é tratado
pior do que a um animal, igual a um porco,
e seu prestígio na caserna é igual a zero.
Seu único direito é saber que não possui
qualquer direito e, conforme o autor, no
prólogo, “Na última tentativa de se livrar
do Exército, alguns se passavam por lou-
cos, outros se fingiam de cegos e mais
tardesórestavaafuga”.
Li “O Bisonho”, de Floriani, como uma
denúncia, já que sua narrativa foi feita
baseando-se em “história real” e isso me
remeteu à juventude quando, aos 18 anos,
como todo jovem brasileiro, fui obrigado a
me alistar e, apesar de ser arrimo de
família, de trabalhar em dois turnos e de
fazer faculdade à noite, tive de “servir o
Exército”, como se diz, comumente. Essa é
uma das arbitrariedades da democracia
nacional, pois assim como o voto, o serviço
militar não deveria ser obrigatório para
ninguém. Servir às Forças Armadas deve
ser uma opção profissional e aqueles que o
desejarem devem ser preparados para essa
profissão com todo respeito que um ser
humano merece. Não é através de hu-
milhações, sadismos e atos de crueldade
que se forma um cidadão e, muito menos,
um militar. Gasta-se muito, no país, com as
Forças Armadas, e grande parte desse
investimento se vai nessa inadequada,
infrutífera e estúpida instituição do serviço
militar obrigatório, cuja ideia surgiu há um
século, no início da República, com o poeta
Olavo Bilac, ardoroso nacionalista e gran-
de propugnador do serviço militar obri-
gatório e dos tiros de guerra.
Para isso, percorria o país numa jor-
nada cívica, conclamando a mocidade
para servir à pátria, e seu enterro, em
1918, foi acompanhado pela artilharia
com o mesmo fervor que acompanhou o
féretro do General Osório, um dos heróis
da Guerra do Paraguai. Um século após a
morte do Patrono do Reservista bra-
sileiro, é hora de mudar, acabando com
essa instituição nefanda e investindo-se,
melhor e com mais qualidade, no pro-
fissional das armas, para que tenhamos
militares mais bem qualificados que, se
vierem a ocupar cargos políticos, via voto
popular, não sejam “bisonhos” como o
capitão que ora nos governa.
FRANCISCO AURELIO RIBEIRO
É professor e escritor
Não é através de sadismos,
humilhações e crueldade
que se forma um cidadão e,
muitomenos,ummilitar
HÁ 50 ANOS
Brasileiros acompanham
lançamento da Apolo-
Ocorreu na véspera o lançamento da cápsula
espacial Apolo-9. Tudo ocorreu conforme os
planos elaborados pelos técnicos de Cabo
Kennedy. O lançamento foi visto em todo o
Brasil, transmitido por duas grandes redes
de televisão nacionais que recebiam imagens
do satélite Intelsat III, instalado
recentemente em Itaboraí (RJ). A missão
tinha o objetivo de rodear a Terra, uma
preparação para a chegada à Lua.
Tensão entre China e URSS
O governo soviético foi enérgico ao direcionar
documentos à República Popular da China,
protestando contra as incursões armadas em seu
território. Os russos classificaram os
acontecimentos como “provocação”.
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A situação
venezuelana pode
ser didática. Ensina
que o populismo, de
esquerda ou de
direita, seduz
multidões, mas tem
prazo de validade
por não garantir um
desenvolvimento
pleno de qualquer
país”
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