TERÇA,05 DE MARÇO DE 2019 POLÍTICA
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VITOR VOGAS PRAÇA OITO
LEIA.AG/VITORVOGAS
Os muros
de Moro - 1
No exato instante em que aceitou o
convite de Bolsonaro para ser ministro
da Justiça e Segurança Pública, o agora
ex-juiz Sérgio Moro incorreu na pri-
meira das suas contradições (ou, se pre-
ferirem, no primeiro dos seus recuos).
Dois anos antes, entrevistado pelo “Es-
tadão”, ele refutou enfaticamente a pos-
sibilidade de exercer cargo político no
futuro: “Não existe jamais esse risco”.
Pode-se atalhar que o cargo de Moro
não é político, seu trabalho é estritamente
técnico etc. Não é bem assim, como os
primeiros dois meses de governo trataram
de demonstrar. Por mais técnica que seja
a atuação de Moro, ele está colocando,
desde o “sim” a Bolsonaro, sua expe-
riência, seus conhecimentos e suas horas
de labor a serviço de um projeto, es-
sencialmente, político. Além disso, como
a realidade tem provado, esse trabalho de
Moro, em seus avanços e sobretudo nos
recuos, tem sido condicionado aos hu-
mores e às idiossincrasias políticas de Bol-
sonaros. E de bolsonaristas.
Esse é o primeiro grande muro com
queMorosedepara:omuroquelimita
os seus movimentos, o que o impede de
evoluir na direção que ele mesmo gos-
taria de seguir, se dele unicamente de-
pendesse o caminho a percorrer. Foi
esse mesmo muro – onde está grafitado
“Bolsonaro”, “Viva as armas!” etc. – que
submeteu Super Moro, o vingador da
Lava Jato, ao maior “mico” de sua ges-
tão até agora. Um muro virtual, erguido
na tuitosfera por um dos mais ruidosos
segmentos da multifacetada base social
de Bolsonaro: os armamentistas.
Pedindo máximas vênias, em uma nota
na qual se lia (sem se ler) “constran-
gimento”, o todo-poderoso ministro foi
forçado a “desconvidar” a cientista po-
lítica Ilona Szabó do cargo de conselheira
nacional de Política Criminal e Peniten-
ciária. Moro decidiu levá-la para a sua
equipe pela razão de ouro que deveria
presidir toda nomeação do tipo: reco-
nhecida competência técnica e conheci-
mentos comprovados na área de atuação
específica para a qual foi escalada. Szabó
é mestre em estudos de conflito e paz e
especialista em segurança.
Já a revogação da nomeação foi de-
cidida acima da cabeça de Moro, em
razão do levante virtual armado pelos
armamentistas. O pecado de Szabó foi ter
conduzido estudos cuja conclusão, com-
partilhada por muitos pesquisadores, bate
no muro das convicções de Bolsonaro e
dessa fração da sua base: para ela, mais
armas de fogo equivalem a mais mortes.
Cedendo à grita, Moro informou o re-
cuo atribuindo-o à “repercussão negativa
em alguns segmentos”. Enfim, Moro de-
cidiu uma coisa; “desdecidiram” por ele.
Chocando-se com esse muro político, ruiu
a promessa de que o superministro teria
carta branca para tocar suas políticas. Se
—
Como a realidade tem
tratado de provar, o
trabalho do ministro,
em seus avanços e
sobretudo nos recuos,
tem sido condicionado
aos humores e às
idiossincrasias políticas
de bolsonaristas.
| BRAÇO QUEBRADO |
PT acusa policiais de agressão
Confusão começou em
bloco. Homem vestia
camisa “Lula livre” e
irritou bolsonaristas
SÃO PAULO
LiderançasdoPTcompar-
tilharam um vídeo no Twit-
ter ontem que mostra uma
confusão em uma delegacia
de polícia. Segundo eles, o
vídeo mostra o presidente
do diretório municipal do
PTemAtibaia(SP),Geovani
Doratiotto,sendodetido.As
lideranças alegam que Do-
ratiotto teria tido o braço
quebrado pelos policiais.
O vídeo mostra um ho-
memcomumacamisaescri-
to “Lula Livre”, que seria
Geovani, discutindo com os
policiais.Opolicialdiz:“Vou
tealgemardenovo.”EGeo-
vani pergunta: “O que você
vai fazer além de me alge-
mar?”. Depois, os PMs imo-
bilizam Doratiotto, viram o
braço dele e o colocam em
uma cela. Nesse momento,
ele diz: “quebrou meu bra-
ço, caramba!”.
A presidente nacional
do PT, Gleisi Hoffmann,
compartilhou o vídeo e
disse que Geovani teve o
braço quebrado pela PM
após ser agredido por
apoiadores do presidente
Jair Bolsonaro (PSL). Ela
cobrouexplicaçõesaogo-
verno de São Paulo e me-
didas duras de responsa-
bilização. “Até onde essa
violência persistirá?”,
questionou no Twitter.
No Facebook, a namora-
da de Geovani, Pham Dal
Bello, disse que os dois par-
ticipavamdeumaaçãocon-
tra o assédio no carnaval
quando foram intercepta-
dosporapoiadoresdeBolso-
naro. De acordo com o rela-
to, eles foram xingados e
ofendidos e depois Geovani
levouummurronoolho,te-
ve o rosto pressionado con-
tra o chão, e levou chutes.
Aindaconformeela,quando
chegaramàdelegacia“opo-
licial disse que toda aquela
agressãoerapouca”.OsPMs
envolvidos no caso foram
afastados e serão investiga-
dos.(Agência Estado)
REPRODUÇÃO
Vídeo mostra petista imobilizado tendo o braço torcido
nem uma conselheira ele pode nomear...
Mas não foi esse o primeiro episódio
em que Moro precisou ceder em suas
próprias ideias a fim de contemporizar
com Bolsonaro e contemplar as ideias
do presidente em suas próprias medidas.
O ex-juiz, por exemplo, nunca foi um
armamentista convicto. Ninguém jamais
o viu defender com espontâneo entu-
siasmo o decreto de janeiro que fle-
xibilizou sumamente as exigências para a
posse de armas de fogo no Brasil (“fle-
xibilizou” é eufemismo; difícil imaginar
critérios mais frouxos do que os novos).
Na verdade, questionado sobre o tema
logo após ter aceitado ser ministro, em
entrevista ao “Fantástico” no dia 11 de
novembro, Moro pareceu pouco à von-
tade e preferiu frisar a promessa de
campanha de Bolsonaro: “O senhor pre-
sidente foi eleito com base nessa pro-
posição. E me parece que existe um
compromisso com os seus eleitores”.
Prova maior de que Moro não é o
maior entusiasta das políticas armamen-
tistas é justamente o fato de ele ter
tentado levar Szabó para seu time. Ape-
sar de tudo isso, foi exatamente do ga-
binete dele que saiu o esboço do decreto
assinado por Bolsonaro que, na prática,
instituiu um quase “liberou geral”. Ainda
assim, a primeira versão, de Moro, al-
terada na Casa Civil, não era tão liberal.
Ele preferia, por exemplo, que o cidadão
só pudesse ter direito a adquirir até duas
armas, não quatro. Moro bateu no muro.
Também o seu pacote anticrime apre-
sentado em fevereiro ao Congresso tem
lá seus trechos na linha “contemplar as
promessas de campanha do chefe”. Em
geral, em que pese alguns pontos pas-
síveis de discussões jurídicas, o pacote é
uma bela iniciativa, a mais consistente e
aguda já apresentada por um ministro a
fim de endurecer o combate à corrupção
e ao crime organizado no país. Mas há
um jabuti que destoa e que parece in-
cluído ali sob encomenda de Bolsonaro:
o que alarga imensa e temerariamente a
definição de “legítima defesa” (o cha-
mado “excludente de ilicitude”).
Pela redação do projeto, se ele apro-
vado for, o juiz poderá reduzir a pena até
a metade ou até deixar de aplicá-la se “o
excesso [por parte de quem matou] de-
correr de escusável medo, surpresa ou
violenta emoção”. A redação tem sido
criticada por boa parte da comunidade
jurídica porque os conceitos são vagos
demais e, portanto, por demais abran-
gentes: qualquer coisa poderá ser con-
siderada ação por “medo, surpresa ou
violenta emoção”, logo “em legítima de-
fesa”. Na prática, policiais poderão ser
colocados fora e acima da lei. Resumin-
do: licença para nomear, Moro não tem;
mas pode estar dando a outrem licença
para matar em serviço. Jabuti não sobe
em árvore. Nem em muro...
OAB INVESTIGA
Advogado
desejou
morte de
netos de Lula
RIO
A Ordem dos Advogados
do Brasil no Rio abrirá vai
apurar a conduta do advo-
gado Rogério Kahn. A infor-
maçãoédacoluna“Informe
O Dia”. No Facebook, ele es-
creveu: “Ficarei realmente
feliz quando todos os netos
do genocida morrerem. Aí
vou comemorar”. A mensa-
gem vem seguida de sorri-
sos.RogérioKahnserefereà
morte de um dos netos do
ex-presidente Lula, Arthur,
de 7 anos. Em outra mensa-
gem, Rogério Kahn ironi-
zou: “Endosso em número,
gênero e grau. Peço aos
PTralhas que continuem di-
vulgando meus posts”.