Sociedade • p. 17A
tempo, alinhar os ponteiros
com o mercado de trabalho.
De acordo com o levanta-
mento, quando uma pessoa
com formação técnica ocu-
pa uma vaga específica pa-
ra esse tipo de qualificação,
seus rendimentos tendem
a aumentar em média25%.
Apesar disso, essas posi-
ções continuam não aten-
dendo ao público para o
qual são destinadas.
O pesquisador Maurício
Reis, um dos autores do es-
tudo, afirma que o ensino
técnico brasileiro está des-
conectado das demandas do
mercado e que muitos cur-
sos estão obsoletos. Acrítica
é antiga também entre os
educadores e foi, inclusive,
uma das justificativas para
embasar a necessidade de
uma reforma no ensino mé-
dio brasileiro.
— Esse é um tipo de cur-
so que visa ensinar as pes-
soas a desempenhar deter-
minadas ocupações, a sin-
tonia com o mercado de
trabalho precisa ser forte
—afirma Reis.
O ensino técnico tem re-
cebido atenção especial nos
últimos anos. Em 2014, o
Plano Nacional de Educa-
ção (PNE) estabeleceu que,
até 2024, o Brasil deve al-
cançar cerca de 5,2 milhões
de matrículas de educação
profissional de nível médio.
Atualmente, há 1,9 milhão,
de acordo com o último
Censo Escolar.
Em 2016, com a reforma
do ensino médio, a educa-
ção profissional ganhou
destaque. A partir da nova
lei, os alunos podem esco-
lher o caminho para sua
formação entre cinco áre-
as: Ciências Humanas,
Ciências da Natureza,
Matemática, Linguagens
ou Formação Técnica e
Profissional.
O novo ministro da Edu-
cação, no entanto, ainda
não apresentou publica-
mente os seus planos para o
ensino técnico. Em entre-
vistas, citou apenas que ana-
lisava de perto o modelo ale-
mão (leiamais abaixo).
A educadora Mônica
Gardelli, diretora-execu-
tiva do Centro de Estudos
e Pesquisas em Educação,
Cultura e Ação Comunitá-
ria (Cenpec), diz que a re-
forma pode ser uma opor-
tunidade para fortalecer
esse tipo de ensino, mas
ressalta que é necessário
planejamento na imple-
mentação de novas regras.
— E preciso um diagnós-
tico para identificar a qua-
lificação profissional de-
mandada por região. Não
adianta um jovem ser for-
mado em tecnologias de
comunicação e onde ele
mora não ter demanda pa-
ra essa área. Sem esse pla-
nejamento, continuare-
mos com a distorção de va-
gas do mercado ocupadas
por pessoas sem qualifica-
ção —diz Gardelli.
ALAVANCA PARA O SUPERIOR
O estudo do Ipea mostra
que pessoas sem formação
técnica têm um ganho de
apenas 6% no salário
quando atuam em uma va-
ga para a qual essa qualifi-
cação é exigida. Além da
desconexão com o merca-
do, outra hipótese que ex-
plica a falta de técnicos
ocupando vagas específi-
cas para sua formação é o
uso do curso técnico como
alavanca para o ensino su-
perior. Segundo os especi-
alistas, essa é uma evidên-
cia de que os jovens brasi-
leiros não têm uma pers-
pectiva de formação para o
mercado de trabalho.
—Temos que entender o
curso técnico com uma vi-
são mais emancipatória,
como o começo do ingres-
so do jovem no mercado de
trabalho. Mas hoje o ensi-
no não universitário ainda
é visto como uma função
menos qualificada do que
o curso superior. Novas
maneiras de formar e se-
guir aprendendo precisam
ser construídas —defende
Ana Inoue, assessora de
Educação do Itaú BBA.
pinheirojpa
(Pinheirojpa)
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