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(Pinheirojpa) #1

Sociedade • p. 17B
Citado por Vélez, sistema alemão é eficiente e complexo
Modelo do país é gratuito em todos os níveis, com escolas técnicas que pagam
salário a alunos e unem prática a estudo
LUCIANA RANGEL
Especial para O GLOBO
[email protected]
BERLIM
Citado amiúde pelo minis-
tro da Educação, Ricar-
do Vélez, como inspiração
para o Brasil, o sistema edu-
cacional alemão é complexo
e cercado de debates, mas,
para a maioria dos especia-
listas do país, eficiente.
O ensino é obrigatório e
gratuito a partir dos seis
anos, até o Abitur (o equi-
valente ao vestibular ale-
mão). As famílias pagam
pelo almoço (cerca de €
37, ou R$ 160) e pelo trans-
porte público (€ 17, ou R$
74) de seus filhos (em Ber-
lim, a partir de agosto des-
te ano, a prefeitura irá sub-
sidiar esses custos).
Após o ensino primário, o
estudante pode ir para um
ginásio — escola para alu-
nos que aprendem mais rá-
pido —ou para uma escola
secundária integrada.
Concluída essa etapa, os
alemães escolhem entre a
universidade ou um dos
cerca de 350 Ausbildung
cursos técnicos em que o
aluno ganha um salário en-
tre € 500 e € 1 mil (R$
2.165 e R$ 4.330, aproxi-
madamente) para estudar.
Os cursos técnicos ale-
mães unem prática a estu-
do. O de enfermagem, por
exemplo — na Alemanha
não há universidade para es-
sa área —, dura três anos e
paga cerca de € 800 men-
sais (R$ 3.465, aproximada-
mente) aos estudantes. A
cada trimestre, eles fazem
um mês de estágio em algu-
ma especialidade, como
UTI ougeriatria.
No grau universitário,
tem sido visto com muito
entusiasmo o Duales Stu-
dium, um curso remunera-
do em parceria com em-
presas, no qual o estudan-
te recebe um diploma uni-
versitário aprendendo e
estudando dentro do mer-
cado de trabalho.
Mas o economista e espe-
cialista em educação Klaus
Klemm não vê apenas as-
pectos positivos. O sistema
educacional alemão, ele
aponta, ainda é muito sele-
tivo: apenas 20% das crian-
ças de famílias socialmente
carentes freqüentam os gi-
násios. Cerca de 15% das
crianças filhas de imigran-
tes fazem o Abitur.
—As crianças de famílias
carentes recebem menos
ajuda com os estudo e os fi-
lhos de pais estrangeiros
não são apoiados o sufici-
ente para aprender a língua
alemã. Defendo a dissolu-
ção da atual estrutura esco-
lar, para que as crianças
continuem juntas após o
ensino primário.
Marko Neumann, do Ins-
tituto Leibniz de Pesquisa e
Informação Educacional,
afirma que a carência de
universitários nas últimas
décadas levou a uma políti-
ca de incentivo para aumen-
tar o número deles, mas que
é hora de nova mudança.
Na Alemanha atual, há
uma lista das chamadas
"profissões em falta" —co-
mo enfermeiros, açouguei-
ros e padeiros —em que, pa-
ra cada cinco vagas, apenas
uma é preenchida.
— E preciso incentivar
mais a escolha pelos cursos
técnicos, mas sem pressão.
Para torná-los mais atrativos,
primeiro é preciso ter o in-
centivo financeiro e, em se-
guida, valorizar essas pro-
fissões, tão importantes
quanto um curso acadêmico.
Klemm e Neumann acredi-
tam que o ensino gratuito em
todos os graus é o grande dife-
rencial do sistema alemão, e
um exemplo a ser seguido.
M, 24


" PÁTRIA AMADA


.BRASIL

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