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(Pinheirojpa) #1

O Globo Sociedade • p. 18
Brasil recicla apenas 1% do lixo plástico produzido
Média global é de 9%: WWF alerta que fabricação do material dobrará até 2030 e a poluição dos oceanos
comprometerá a sobrevivência de espécies marinhas e o desempenho de setores como a pesca e o turismo
RENATO GRANDELLE
[email protected]
Uma pesquisa do WWF
baseada em dados do
Banco Mundial indicou
que, entre os 15 países que
mais geram lixo plástico no
mundo, o Brasil é o que me-
nos recicla. Das 11,3 mi-
lhões de toneladas do mate-
rial produzidas anualmen-
te, apenas 1,2% —ou 145
mil toneladas —têm o des-
tino correto. Trata-se de um
índice muito inferior à mé-
dia global, que é de 9%.
O país é o quarto maior
produtor de lixo plástico no
mundo, atrás de EUA (que
recicla 34,6% do material ge-
rado), China (21,9%) e índia
(5,7%). A comunidade inter-
nacional despeja cerca de 10
milhões de toneladas de plás-
tico nos oceanos por ano,
uma quantidade que preen-
cheria 23 mil Boeing 747.
Estima-se que a produção
de plásticos dobre até 2030,
sendo os oceanos os mais visi-
velmente afetados por essa
poluição — haverá cerca de
26 mil garrafas de meio litro
no mar a cada quilômetro
quadrado. Além de contami-
nar a água, a presença dos re-
síduos plásticos causa danos a
diversos habitais, como as frá-
geis colônias de corais, além
do estrangulamento de mais
de 200 espécies de animais,
que ingerem os produtos.
Diretora de engajamento
do WWF-Brasil, Gabriela
Yamaguchi atribui a popu-
laridade do plástico ao baixo
custo de produção e à facili-
dadepara descartá-lo.
— E um material barato, e
nunca houve incentivo para
que fosse substituído ou con-
sideração ao impacto social
provocado pela poluição, in-
clusive à nossa saúde —con-
dena. — Não existe disposi-
ção para discutir a Política
dos Resíduos Sólidos, que
abordaria o manejo adequa-
do destes produtos. Por en-
quanto, presenciamos ape-
nas iniciativas isoladas, co-
mo alei que baniu os canudos
de plástico no Rio.
O levantamento do WWF
enumera medidas que de-
vem ser adotadas por todos
os governos, como o estabe-
lecimento de metas nacio-
nais para a redução, recicla-
gem e controle de plástico.
O poder público também
deve fornecer incentivos
para que indústrias e grupos
da sociedade civil contro-
lem a gestão de resíduos.
—Precisamos usar a ciência
e a tecnologia para criar novos
materiais, cujafonte de produ-
ção seja 100% reutilizável —
reivindica Yamaguchi. —Não
existe atualmente uma forte
alternativa ao plástico. No Bra-
sil, é ainda pior, porque amaio-
ria do plástico passa por cata-
dores, onde eles mesmos re-
passam o descarte às coopera-
tivas. E um método informal,
que envolve pessoas de baixa
instrução e mal remuneradas.
Segundo o estudo, o plástico
não é inerentemente nocivo. E
uma invenção criada pelo ho-
mem que gerou benefícios sig-
nificativos para a sociedade:
"Infelizmente, a maneira com
a qual indústrias e governos li-
daram com o plástico e a ma-
neira com a qual a sociedade o
converteu em uma conveni-
ência descartável de uso único
transformou essa inovação em
um desastre ambiental mun-
dial. Aproximadamente meta-
de de todos os produtos plásti-
cos que poluem o mundo hoje
foram criados após 2000".
Pesquisa feita em 2016 pelo
Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente consta-
tou que a poluição por plástico
gerou um prejuízo de mais de
US$ 8 bilhões ao mundo, atin-
gindo principalmente os seto-
res pesqueiro, de comércio
marítimo e turismo.
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I PÁTRIA AMADA


25 BRASIL


I GOVERNO FEDERAL

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