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(Pinheirojpa) #1

Opinião • p. 3A
motivo maior pelo qual Maia botou o bloco
na rua, razão de haver colocado a boca no
mundo ao longo da semana passada.
Ele não apenas apregoou sua independên-
cia, reforçando a condição de gestor dos inte-
resses de todos os partidos, como, no mesmo
conjunto de recados, foi explícito, quase duro,
ao chamar o presidente da República à respon-
sabilidade. Eis a mensagem: a reforma da Pre-
vidência é fundamental para o Brasil, mas o
projeto é de Bolsonaro, aquele que colherá os
maiores dividendos da aprovação, aquele,
pois, a quem cabe a primazia de convencer a
ARTIGO
0 Brasil viúvo
da esquerda
CÂNDIDO
MENDES
sociedade. Maia foi categórico: no sistema
presidencialista brasileiro, quem dáo norte da
vida pública do país —incluídaapautade prio-
ridades —é o chefe do Executivo.
No caso de Bolsonaro, eleito de maneira
espetacular, conquistar o Parlamento passa
obrigatoriamente por arriscar o próprio e
imenso capital poli tico. Tem de botar a cara.
O recado não tem senões: se o presidente
não o fizer, se não se submeter ao ônus de
governar, não será Maia —não será o Con-
gresso —a fazê-lo.
ticular. Não tem o governo ainda a
noção da escalada desestatizante, e
dos seus círculos viciosos, senão de
seus bloqueios. Além disso, o Exe-
cutivo não se decidiu ainda sobre a
entrada, ou não, do capital estran-
geiro nessa nova frente, e do volume
e impacto de seu aporte.
Ressente-se de qualquer novo prota-
gonismo de esquerda nessa alternativa,
tanto se depara a evanescência do PT e
de seu corpo político. Só se multiplicam
os donatários das antigas siglas, ciosos
da sua independência, e hoje prisionei-
ros de um irredutível divisionismo pro-
gramático. Fica a interrogação sobre Ci-
ro Gomes, na expectativa de seu retor-
no, na retirada siberiana a que se voltou.
Mas expõe-se aum protagonismo obso-
leto, numa toma descompassada.
Nenhuma nova liderança emerge
para polarizar o desempenho que Lula
encarnou, e agora vemos o abate do
personagem, masadeixarintactosare-
levância de seu papel na história brasi-
leira e seu carisma incontornável. O
quadro é implacável para que nele se
possam arriscar novas ambições políti-
cas. E é sobre esse cenário falseado que
Bolsonaro pode —até quando? —des-
frutar de uma imunidade histórica.
Cândido Mendes é membro
A do Conselho das Nações Unidas
para a Aliança das Civilizações
N. da R.: José Casado, excepcionalmente,
não escreve hoje
Adesaparição das esquerdas no Bra-
sil só ecoa uma perspectiva global
dos nossos dias. E só deparar a mina do
socialismo francês, despencado para o
quinto lugar nas opções eleitorais do
país, ou o esvaziamento espanhol e a
agregação à chanceler Merkel dos
contingentes restantes do que poderia
ser a sua contraposição na Alemanha.
Verificamos, ao contrário, estacu-
mulação das direitas em superdirei-
tas, e toda a série de novos extremos
partidários ao redor do mundo. E o
que leva, inclusive, em tal radicali-
zação, a confundir estabilidade com
mudança, e à confusão de progra-
mas como o do governo Bolsonaro.
Só deparamos o entulho do setor
público, ao se cogitar, hoje, da sua
privatização. Claro, como já viram
os especialistas, ela envolve uma
primeira desconcentração dessas
atividades e, por força, a gradação
dos setores a virem ao domínio par-
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PÁTRIA AMADA


.BRASILG 0 V E R N 0 FEDERAL (^)

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