A Gazeta [ES] 6 03 2019

(Pinheirojpa) #1

QUARTA,06 DE MARÇO DE 2019 | 15


| FUTURO EM JOGO |


VIDA POLÍTICA


ATIVA PODE


SER SAÍDA


PARA SIGLAS


CARLOS ALBERTO SILVA

Fila de eleitores em 2018: reconquistar bases é estratégia em busca de resultados

Terreno agora será disputado também com novas lideranças


MAÍRA MENDONÇA
[email protected]


Deumlado,obstáculosim-
postosno cenário nacional
com a explosão de denún-
cias por corrupção e a des-
confiança do eleitorado
diante da política tradicio-
nal. Do outro, equívocos
estratégicos em nível local
dentro e fora do período
eleitoral.Estaé,paraespe-
cialistas, a combinação
que levou à desidratação
de partidos de longa traje-
tória no Estado, como PT,
PSDB e MDB. O caminho
para a recuperação é tão
longo quanto incerto e,
agora, eles terão que dis-
putar espaço lado a lado
com as novas lideranças.
Em nível nacional, o
cientista político Fernando
Pignaton destaca primeira-
menteaperdadeespaçode
partidosdecentro–aexem-
plo de PSDB e MDB – em
função da polarização do
pleitode2018entreoPTde
LulaedeFernandoHaddad
e o PSL de Jair Bolsonaro.


Mas lembra também
que, ao final, o próprio PT
saiu prejudicado. “No pri-
meiro turno o PT centrou o
discurso em Geraldo Alck-
min (PSDB), não em Bolso-
naro.Achouqueatacandoo
centrodemocráticoeacen-
tro-esquerda ele se imporia
comoumdospolosevence-
ria, mas isso custou caro no
segundo turno”, explica.
Tudo isso se reverbera
no Estado, afirma Pigna-
ton,assimcomoasdenún-
cias e as condenações por
corrupção alavancadas
pela Operação Lava Jato,
que também atingem es-
ses partidos, minando a
imagem de caciques e fi-
guras tradicionais.
Por outro lado, a reali-
dade local também se im-
põe como fator decisivo
para as urnas. Pignaton
lembra, por exemplo, o
desgaste interno do PSDB
estadual gerado após a
disputa de comando entre
Max Filho e César Colna-
go. Já no MDB, a saída de

PauloHartung,quesedes-
ligou do partido, deixou
uma lacuna de capital po-
lítico para a sigla preen-
cher.OPT,porsuavez,tem
grande rejeição no Estado
e também colhe frutos de
gestões no Executivo mu-
nicipal mal sucedidas.
“Lideranças como João
Coser(ex-prefeitodeVitó-
ria) e Carlos Casteglione
(ex-prefeito de Cachoeiro

deItapemirim)foramder-
rotadas pelo descontenta-
mentodapopulação.Uma
prova disso é que Helder
Salomão, que teve uma
gestão bastante razoável
como prefeito de Cariaci-
ca, conseguiu se reeleger
como deputado federal”,
argumenta Pignaton.

VIDA ORGÂNICA
Para o doutorando em
HistóriaPolíticadasIdeias
e professor da Universida-
dedeVilaVelha(UVV)Ra-
fael Simões o grande pro-
blema que é comum aos
três partidos é que eles
deixaram de ter vida polí-
tica ativa no Espírito San-
to, reunindo esforços ape-
nas em torno dos interes-
ses eleitorais. A conse-
quência disso é a perda de
legitimidade e de repre-
sentatividade.
“Essespartidosnãotêm
praticamente nenhuma
vida orgânica aqui no Es-
tado. Todos são marcados
por lideranças muito per-

sonalizadas, que instru-
mentalizavam os partidos
para seus interesses elei-
torais”, critica.
O professor continua:
“Como elesviviamapenas
de ocupar estruturas de
poder e o resultado foi
ruim na última eleição (o
MDB acabou não tendo
candidato com a saída de
Hartung; o PSDB, que iria
junto com MDB também

ficousemcandidatoaogo-
verno e o PT lançou uma
candidata sem expressivi-
dade), esses partidos aca-
baram ficando muito des-
conjuntados”.

MUDAR É A SAÍDA
“A situação para eles é
bastante complicada. Não
seiseterãoacapacidadede
se reinventar para poder
terreconhecidaalgumale-
gitimidade por parte dos
eleitores.Paraisso,épreci-
so que eles se desliguem
dessa percepção de cor-
rupção por parte da socie-
dade e que tenham uma
proposição ativa de políti-
cas”, aponta Simões.
Para o professor, a saída
para o fortalecimento dos
partidos tradicionais está
em enxergar as necessida-
deseacompanharosrumos
do próprio eleitorado. “Os
eleitores estão demandan-
do políticos mais próximos
das pessoas. Políticos só de
arranjos de gabinete não
são bem-vistos”, conclui.

“Lideranças como
João Coser (PT) e
Carlos Casteglione
(ex-prefeito
de Cachoeiro,
também do
PT) foram
derrotadas pelo
descontentamento
da população”

FERNANDO PIGNATON
CIENTISTA POLÍTICO

“Esses partidos
não têm vida
orgânica. Todos
esses são
marcados por
lideranças muito
personalizadas,
instrumentalizavam
os partidos para
seus interesses”

RAFAEL SIMÕES
PROFESSOR DA UVV

A SITUAÇÃO E OS PLANOS DOS PARTIDOS

MDB
MUDANÇAS
aComo era antes
Na legislatura anterior, o
MDB chegou a ter sete
deputados estaduais,
depois passou para três.
Em 2014, elegeu Lelo
Coimbra a deputado
federal.


aComo é agora
Em 2018, o MDB elegeu
dois deputados
estaduais e nenhum
federal. Em 2016,


quando Hartung, ainda
estava no MDB e
comandava o governo, a
sigla elegeu 16 prefeitos.

RETOMADA
aReestruturação
Fontes do partido
indicam que há um
descontentamento com
a atual gestão de Lelo
Coimbra. Nas
convenções, em junho, o
posto poderá ser
disputado entre ele e
Marcelino Fraga.

PSDB
MUDANÇAS
aComo era antes
Em 2014 o PSDB elegeu
Max Filho a deputado
federal (mas ele se
tornou prefeito em 2016)
e dois deputados
estaduais.

aComo é agora
Em 2018, o partido
elegeu três deputados
estaduais, mas nenhum
federal. Também não
reelegeu Ricardo Ferraço

ao Senado. A sigla possui
14 prefeitos.

RETOMADA
aAlinhamento interno
Para recuperar seu
espaço no Estado,
lideranças do PSDB
aguardam o período de
convenção partidária
para definir suas
lideranças. O objetivo é
unir o partido, que foi
abalado em 2017 após
Max Filho e César
Colnago disputarem a

presidência do diretório
e provocarem um racha.

PT
MUDANÇAS
aComo era antes
Em 2014, o PT elegeu
três deputados estaduais
(mas depois Rodrigo
Coelho desfiliou-se e foi
paraoPDT)edois
deputados federais.

aComo é agora
Em 2018, o PT elegeu
uma deputada estadual e

um deputado federal.
Desde as eleições de
2016 o partido possui
apenas um prefeito no
Estado.

RETOMADA
aEleições 2020
Para se reerguer, o PT
investirá,
principalmente, na
eleição de vereadores
em pelo menos 30
cidades. A expectativa é
eleger prefeitos em
metade delas.
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