A Gazeta [ES] 6 03 2019

(Pinheirojpa) #1

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ECONOMIA QUARTA,06 DE MARÇO DE 2019


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MÍRIAM LEITÃO


A questão


militar


no atual


governo


Os comandantes militares, princi-
palmente do Exército, viram o cres-
cimento do então candidato Jair Bol-
sonaro como uma oportunidade de
tratar uma velha questão mal resol-
vida com a sociedade brasileira.
O general Villas Bôas soltou suas
notas nos momentos certos para dei-
xar claro o seu lado no tempo em que
o país ainda estava no processo de-
cisório. Urnas fechadas, o desembar-
que no novo governo foi natural e
coerente. Mas uma nova questão co-
meçou: será bom ou ruim para as
Forças Armadas tamanha simbiose?
O governo Bolsonaro é resultado de
uma mistura eclética. Há o ultracon-
servadorismo dos costumes, que não
tem necessariamente correspondência
com os valores da instituição, nem é
conveniente estar ligado à imagem das


Forças. Até porque é um conservado-
rismo farisaico, que gosta de procla-
mar-se, mas não viver sob aqueles di-
tames. Que relação tem alguém que diz,
como Bolsonaro, que usava o auxílio-mo-
radia para “comer gente” com a defesa da
família tradicional? A interferência da re-
ligião em decisões de Estado também não
tem conexão com os valores laicos das
Forças Armadas. Nelas, integrantes de vá-
rias denominações convivem.
Os militares estão sendo vistos como
panaceia para qualquer tipo de impasse.
Neste momento, quadros da reserva estão
povoando todas as áreas. Generais muito
bem qualificados foram nomeados para
ministérios e têm tido bom desempenho,
a ponto de virarem um dos poucos elos
de concordância entre eleitores que es-
tiveram em lados opostos. Foi, por exem-
plo, com alívio que o país viu os militares
liderando as negociações na tensão da
fronteira com a Venezuela. Assim, res-
peitou-se a tradicional posição brasileira
de rejeitar o papel de ser linha auxiliar
dos Estados Unidos na região.
A guerrilha digital do bolsonarismo
continua atacando os que manifestam
qualquer divergência em relação ao go-
verno. Seus líderes, inclusive os filhos do
presidente, não entenderam o básico so-
bre o que é governar. Não lançam pontes,

aprofundam as divisões. Não diluem de-
sentendimentos, cultivam rancores. Não
cedem, querem a eliminação dos que
divergem. O episódio do ataque a Lula,
protagonizado pelo deputado Eduardo
Bolsonaro, no momento em que o
ex-presidente vivia dor profunda, é uma
demonstração do problema.
Essa cultura do conflito não faz bem
à imagem das Forças Armadas, que
precisam ser vistas como instituições
de todo o país, e não de uma facção
política e ideológica.
Há também os casos de corrupção que
começaram precocemente a aparecer no
novo governo. Movimentações bancárias
suspeitas e candidaturas-laranja. Tudo
próximo ao centro do novo governo. Isso
constrange qualquer sócio do poder que
defenda com sinceridade o combate à
corrupção.
As Forças Armadas passaram os úl-
timos 30 anos ressentidas com a in-
terpretação dos fatos políticos ocorridos
durante a ditadura. Em seus quartéis e
escolas, em conversas internas e algumas
declarações públicas, manifestavam a
convicção de que não tomaram o poder,
foram chamadas em momento de risco.
Ficaram ofendidas com a Comissão da
Verdade. E nunca condenaram a tortura.
Quando a campanha de Bolsonaro

começou a decolar, os seus apoiadores
dentro das Forças Armadas foram dei-
xando claro de que lado estavam. Pa-
recia ser a oportunidade de recontar a
história e mostrar as qualificações dos
seus quadros. O capitão reformado ha-
via saído mal do Exército, depois de
atos de indisciplina, mas tinha feito sua
carreira política defendendo os ex-co-
legas de farda. Bolsonaro prometeu de
público ao então comandante do Exér-
cito, general Villas Bôas, que jamais re-
velaria o que os dois conversaram. Mas
se pode imaginar.
Esta simbiose com o governo Bolso-
naroéomovimento mais arriscado feito
nos últimos tempos pelas Forças Arma-
das. Elas estão emprestando seu pres-
tígio a um governo cheio de contro-
vérsias e conflituoso. Já são mais de 100
militares no primeiro e segundo escalões,
como informou o “Estado de S.Paulo”.
Na área do meio ambiente, depois
da demissão de 27 superintendentes
regionais, fala-se em nomear apenas
militares. Eles estão orgulhosos exer-
cendo o poder nas áreas sob seu co-
mando. O risco é virarem bucha de
canhão nas guerras que interessam
apenas ao bolsonarismo.

Com Álvaro Gribel (de São Paulo)

| PREVIDÊNCIA |


Onyx diz que governo


está seguro com reforma


Ministro da Casa
Civil se reuniu com
Bolsonaro para discutir
agenda após o carnaval


BRASÍLIA


O ministro da Casa Civil,
Onyx Lorenzoni, disse on-
temqueogovernoJairBol-
sonaroestá“muitoseguro”
em relação à proposta de
reforma da Previdência
apresentada ao Congresso
Nacional.Eleressaltouque
deputados e senadores fa-
rão ajustes no texto pro-
posto pelo governo.
“Estamos muito segu-
ros da nova Previdência,
queapresentamosaoCon-
gresso. Agora tem aquela
fase de passar pela Comis-
são de Constituição e Jus-
tiça da Câmara, depois a
comissão especial e, aí, vi-
rão os ajustes que o parla-
mentoseguramentedeve-
rá fazer”, afirmou.
A proposta prevê, entre
outrospontos,estabelecer
uma idade mínima para


aposentadoria de 65 anos
parahomeme62anospa-
ramulher.Nasemanapas-
sada, porém, Bolsonaro
admitiu que a idade míni-
maparamulherespoderia
cair para 60 anos.
A reforma começará a
ser analisada na Câmara.
Após passar por comis-

sões,terádeseraprovada,
em duas votações em ple-
nário, com os votos de ao
menos 308 dos 513 depu-
tados.Casosejaaprovada,
a proposta segue para o
Senado, com a exigência
de mais duas votações,
com o apoio de 49 dos 81
senadores.

Onyx se reuniu na ma-
nhã de ontem com Bolso-
naronoPaláciodaAlvora-
da. O ministro afirmou
que o encontro foi marca-
do para discutir a agenda
de trabalhos do governo
após o carnaval.
O presidente volta a
despachar no Palácio do
Planalto a partir das 14h
de hoje. A reunião com
seus ministros, que tem
sido realizada semanal-
mente, só ocorrerá no
dia 14 de março, segun-
do Onyx.
“Ficou ajustado que a
reunião ministerial vai
acontecer na quinta-feira
dia 14, já também com
uma pauta de governança
pública, que será uma
apresentação do Tribunal
deContasdaUnião(TCU)
sobreosmelhorespadrões
de governança, que é o
que o governo vem traba-
lhandodesdeatransição”,
explicou o ministro.
(AgênciaOGlobo)

ANTONIO CRUZ/AGÊNCIA BRASIL

Onyx Lorenzoni após reunião com Jair Bolsonaro

FRAUDE FISCAL


Fiança de quase


R$ 34 milhões


para deixar cadeia


Após três meses,
Justiça japonesa libera
o brasileiro Ghosn,
ex-executivo da Nissan

A Justiça japonesa rejei-
tou ontem a tentativa de
promotores de manter na
prisão o ex-presidente da
Nissan, o brasileiro Carlos
Ghosn,de64anos,aodeter-
minar que o brasileiro deve
ser liberado com o paga-
mentodeumafiançade1bi-
lhão de ienes, valor equiva-
lente a R$ 33,8 milhões.
O executivo foi preso em
19 de novembro, acusado
defraudefiscaleusodever-
bas da empresa para uso
pessoal. O Tribunal Distrital
de Tóquio, que mais cedo
concedeu a liberdade sob
fiança a Ghosn, negou uma
apelação dos promotores
que buscavam mantê-lo
preso até seu julgamento.
Adecisãorepresentauma
vitóriaparaanovaequipede
defesa,emseuterceiropedi-
do de fiança. Ele poderá,
portanto, deixar o centro de
detenção em Tóquio.
O tribunal aceitou as ga-

rantias dos advogados de
defesadequeGhosnsesub-
meteria a uma vigilância in-
tensa para sair da prisão. A
soltura permitirá que o exe-
cutivo,idealizadordaparce-
riadaNissancomafrancesa
Renault, se reúna com seus
advogados com mais fre-
quência e prepare uma de-
fesa antes do julgamento.
Ele é acusado de fraude
fiscal por ter informado va-
lores inferiores aos venci-
mentos de US$ 82 milhões
recebidosdaNissandurante
quase uma década. O valor
que o executivo teria deixa-
do de declarar chegaria a
US$ 44 milhões, segundo a
promotoria japonesa.(AG)

ARQUIVO

Carlos Ghosn, ex-CEO da
Nissan, foi preso no Japão
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