FOTOS:CALIFORNIA FILMES/DIVULGAÇÃO
Joanna Kulig e Tomasz Kot protagonizam o drama
Amor e política
Filme polonês “Guerra Fria” estreia no Estado credenciado por três indicações
ao Oscar e com história de um casal às voltas com as impossibilidades da vida
GUERRA FRIA
Drama.(Zimnawojna,
Polônia/ReinoUnido/França,
89min.).
Direção:PawelPawlikowski.
Elenco:JoannaKulig,TomaszKot,
BorysSzyc,AgataKulesza,Cédric
Kahn,JeanneBalibar.
Estreia quinta-feira.
Cotação:VVVVV
Editor:Rafael [email protected]
Telefone:(27) 3321.8608
QUARTA,6 DE MARÇO DE 2019
ATENDIMENTO AO ASSINANTE(27) 3321-8699
SUSANA SCHILD
“Os personagens não são
apenas vítimas do nazis-
mo, mas de suas próprias
personalidades e desti-
nos”.AssimIsaacBashevis
Singer, escritor polonês,
radicado nos Estados Uni-
dos e Prêmio Nobel de Li-
teraturaem1975,“alerta-
va” o leitor de “Inimigos,
umahistóriadeamor”,so-
bre descaminhos dos afe-
tos. O alerta e o título po-
deriam ser aplicados a
“GuerraFria”,dirigidopor
Pawel Pawlikowski, com-
patriotaecomvivênciano
exterior, como Singer, e
nome de ponta de um no-
víssimo cinema polonês.
Com“Ida”,de2015,elear-
rebatou o primeiro Oscar
de filme de língua estran-
geira para seu país; este
ano foi indicado nova-
menteaFilmeEstrangeiro
e também a Direção e Fo-
tografia (Lukasz Zal) –
perdeu as três estatuetas
para “Roma”, de Alfonso
Cuarón.
A primeira imagem
apresenta músicos do po-
vo, malvestidos, sofridos,
cantandoetocandoparaa
câmera. Estamos na Polô-
nia, em 1949, e um casal
percorre o país em busca
de talentos locais para re-
presentar uma nova épo-
ca. Ele é Wiktor (Tomasz
Kot) e logo terá como mis-
são escolher moças para
um grupo folclórico. Na
audição, a jovem Zula
(JoannaKulig)sedestaca.
Bastam poucas frases e te-
mos um perfil obstinado,
com zonas obscuras, des-
tinadoasobreviveraqual-
quer custo. A moça ganha
opapeleocoraçãodeWik-
tor – elementos habituais
de uma história de amor –
ou algo próximo. Mas não
é este o desenvolvimento
escolhido por Pawlikows-
ki, autor da história e
coautor do roteiro.
IMPOSSIBILIDADES
Na trama que se estende
a 1953 e atravessa Polônia,
Alemanha Oriental, Iugos-
lávia e França, Zula e Wik-
torviverãoumamorconde-
nado, alimentado por en-
controsardenteseimpossi-
bilidades recíprocas, seja
de temperamento, visão de
mundo ou experiências
passadas. Elementos que
poderiam render um dra-
ma de época incorporam
diferenciais de peso em
uma atmosfera estontean-
te,quesomainterpretações
decompletaentregadadu-
pla principal, uma fotogra-
fia absolutamente deslum-
branteeamúsica,comoex-
pressão de mudanças polí-
ticas e sociais (a incorpora-
çãodefotosgigantesdoca-
marada Stalin, por exem-
plo).Zula,decorpoevoz,é
a estrela do show, e entre
promessas de amor eterno
ao namorado é assediada
por líderes importantes.
Apaixonada sim, mas tam-
bém cautelosa e calculista,
a moça não hesita em de-
nunciar o namorado “por
precaução”.Masoamor,in-
siste, é para sempre.
TRANSFORMAÇÕES
Uma reviravolta acon-
teceemParis,ondeocasal
vive por algum tempo. As
coisas mudam no mundo
livre ocidental, a música
temaganhaversãofrance-
sa e tom jazzístico, Zula
tem sucesso mas não tem
paz – e não pode compar-
tilhar o que não tem. Wik-
tor, como sempre, aceita
todas as condições.
Combrilhantedomínio
narrativo, Pawel Pawli-
kowski (melhor diretor
emCannespelofilme)cria
uma obra singular no pa-
noramaatual,compontos
em comum, sobretudo es-
téticos,comseuaclamado
“Ida”. Dedicado aos seus
pais, que deram nome aos
personagens e inspiração
pelo tumultuado relacio-
namento, “Guerra Fria”
entrelaça as esferas social
e individual em áreas ilu-
minadas e sombrias de
grande impacto visual
mas sem fácil conclu-
são.(AgênciaOGlobo)