Público - 13.09.2019

(Martin Jones) #1

10 • Público • Sexta-feira, 13 de Setembro de 2019


POLÍTICA


Marcelo estende até ao limite


prazo para decidir recandidatura


Marcelo Rebelo de Sousa sempre
apontou Setembro de 2020 como a
altura apropriada para anunciar se se
recandidata a um segundo mandato
presidencial. Esta semana, porém, fez
uma discreta, mas também signiÆca-
tiva, extensão desse prazo para Outu-
bro do próximo ano. Isto depois de,
no início deste ano, ter feito declara-
ções que apontavam para uma recan-
didatura quase certa e antecipar o seu
anúncio para o próximo Verão. Ainda
que com subtilezas, parece agora
relançar o tabu da recandidatura.
“Como sabem, as eleições presi-
denciais são só em Janeiro de 2021.
Antes do Ænal de Setembro ou Outu-
bro do ano que vem haverá novida-
des”, disse nesta quarta-feira aos
jornalistas à saída do lançamento do
livro Uma campanha americana:
Humberto Delgado e as Presidenciais
de 1958, da jornalista da TVI Joana
Reis, editado pela Tinta da China, no
Museu da Presidência da República.
Marcelo aproveitou a presença da
comunicação social para explicar que
vai manter-se distante da vida política
até às eleições legislativas, mas dei-
xando claro que está “atentíssimo” à
campanha “exaustiva”. “Para não
haver sobreposições nem interferên-
cias, há de facto uma agenda reduzida
ao mínimo”, aÆrmou, acrescentando
que só vai manter os compromissos
internacionais (Assembleia Geral das
Nações Unidas) e as cerimónias mili-
tares já “apalavradas”.
Quando questionado sobre quanto
tempo precisava para lançar a recan-
didatura — já que Humberto Delgado
montou a sua num mês —, o Presiden-
te responde então com a possibilida-
de de adiar a sua decisão para Outu-
bro de 2020. Ainda em Junho, na
Costa do MarÆm, aÆrmava que a deci-
são seria tomada no Verão do próxi-
mo ano.
O que pode ter vários signiÆcados.
O primeiro e mais óbvio é que Marce-
lo não tem pressa nenhuma em anun-
ciar a sua decisão. E ao mesmo tem-
po, quer dar a entender que a possi-
bilidade de se recandidatar é menor
do que se pensa e que aquilo que ele


AÄnal, a decisão já só vai ser tomada em Setembro de 2020, ou seja, três meses antes das presidenciais.


Presidente estende prazo depois de Costa ter dito que o PS aguardava para ver o que fará Marcelo


entrevista ao Expresso, conjecturan-
do: “Primeiro porque não sabemos
quem são os candidatos, não sabemos
qual é o quadro político que iremos
ter... Iremos ter uma maioria clara na
AR, seja do PS ou de um conjunto de
forças políticas, em que é importante
que o Presidente seja um factor de
reequilíbrio, como aconteceu nesta
legislatura? Ou temos um Governo
frágil, dependente de jogos parlamen-
tares e em que o papel do Presidente
será distinto? É preciso também saber
qual é a ideia do Presidente sobre o
seu segundo mandato, visto que a
história nos tem ensinado que a regra
é que os segundos mandatos costu-
mam ser particularmente adversos
para os governos em funções...”.
As premissas políticas de Costa não

PAULO PIMENTA

Marcelo Rebelo de Sousa continua em alta nas sondagens e nas ruas

serão muito diferentes das de Marce-
lo, ainda que as conclusões que tirem
sejam diferentes, se não opostas. Des-
de logo em relação aos candidatos
que possam surgir até lá, pois as pre-
sidenciais são eleições unipessoais,
podendo surgir candidaturas por ini-
ciativa própria, à margem ou até à
revelia dos partidos — como foi o caso
da própria candidatura do actual
inquilino de Belém. Isso poderá con-
dicionar o apoio, ou pelo menos a
condescendência, em relação à
recandidatura de Marcelo.
As presidenciais deverão ser a 24
de Janeiro de 2021 e as candidaturas
têm de ser formalizadas até 30 dias
antes da data do sufrágio.

a 1 de Setembro na Festa do Livro em
Belém.
Outra razão possível é não querer
aparecer como candidato em cimeiras
internacionais de 2020, como a Ibero-
Americana ou o Grupo de Arraiolos,
que vem a Portugal comemorar o 20.º
aniversário, entre Setembro e Outu-
bro. Mas a razão mais plausível será
mesmo o quadro político que Æcar
deÆnido nas próximas legislativas e o
eventual aparecimento de outros can-
didatos, sobretudo da área do PS.
Apesar de alguns socialistas já
terem admitido o apoio a uma recan-
didatura de Marcelo, se as circunstân-
cias forem idênticas às actuais, Antó-
nio Costa tem sido muito mais pru-
dente. “Acho muito extemporâneo”,
aÆrmou o líder do PS em Agosto, em

Marcelo já tem o


apoio de


socialistas como


Ferro Rodrigues,
mas Costa ainda

não tomou posição


Presidenciais


Leonete Botelho


[email protected]

próprio quase deu por adquirido no
Panamá, ou na Web Summit do ano
passado, pode ainda não ser certo. E
assim, vai alimentando um tabu que
lhe permite ter uma porta entreaber-
ta para sair de cena face a alguma
situação adversa. “Há tantas coisas
que os comentadores não sabem...
Daqui a um ano falamos”, tinha dito
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