14 • Público • Sexta-feira, 13 de Setembro de 2019
RUI GAUDÊNCIO
Rui Rio na Festa do Pontal, em Monchique, que marcou a rentrée do PSD
Rui Rio admitiu, em entrevista à Ante-
na 1, que um resultado “baixíssimo”
do PSD nas próximas legislativas põe
em causa a sua liderança no partido.
Mas, como qualquer político em
momento pré-eleitoral, não foi explí-
cito sobre essa fasquia eleitoral. Só
deixou uma certeza: “Obviamente
que 20% era muito mau.”
Com as últimas sondagens que dão
ao PSD valores entre os 20% e os 23%,
o líder do PSD assegura que, se não
ganhar as eleições, toma posse como
deputado, mas não assegura o cum-
primento do mandato: “Depois vejo.”
Para Rui Rio, é evidente que a sua
liderança se joga nestas eleições: “Se
o PSD tivesse um resultado baixíssi-
mo, obviamente, o que é que uma
pessoa Æca lá a fazer?”
A resposta em jeito de pergunta
surge já no Ænal da entrevista, que
começou por explorar qual o resul-
Rio reconhece resultado de
20% como “muito mau” e não
garante ficar como deputado
tado com que o PSD se sente confor-
tável para tentar inÇuenciar as polí-
ticas do próximo Governo e para
fazer compromissos com o PS. Rui
Rio preferiu assinalar que o “com-
promisso preferencial é com o
CDS”, que é “histórico”, e não vol-
tou a repetir a ideia (que deixou, por
exemplo, na entrevista à TVI há
duas semanas) de que é preciso “um
acordo no Parlamento que dê ao
país a oportunidade de fazer as
reformas estruturais” mesmo em
caso de derrota eleitoral do PSD.
Questionado sobre se há interesse
nacional em fazer acordos com o PS,
Rio alarga o âmbito desses compro-
missos a “todos os partidos”, embo-
ra depois reconheça que as “refor-
mas de fundo” exigem as duas maio-
res forças políticas — PS e PSD. É
nesse sentido que Rio assume não
desejar uma maioria absoluta do PS
— “Ui, não, não, nem pensar” — por
considerar que “seria um obstáculo”
ao seu entendimento sobre o que o
“país precisa”. O que defende é que
“o poder político tenha a força neces-
sária e a coragem necessária” para
fazer as reformas inadiáveis. O líder
social-democrata assume que essa
sua convicção sobre a necessidade
de compromissos em nome de refor-
mas estruturais é compreendida
pelo eleitorado social-democrata,
mas não é bem vista pela “massa
associativa” do PSD.
Entre as reformas que apontou
como essenciais está a do sistema
político, da Segurança Social e a da
Justiça. Neste campo, assumiu a
necessidade de uma revisão constitu-
cional para concretizar uma das alte-
rações que propõe — a possibilidade
de o Presidente da República nomear
elementos para o Conselho Superior
da Magistratura. A recomposição des-
te órgão para permitir que tenha uma
maioria de não magistrados — que é
proposta pelo PSD — foi precisamen-
te a solução que António Costa, líder
do PS, fez questão de rejeitar numa
entrevista à SIC, um dia depois de Rio
ter dado sinais claros do desejo de
assumir compromissos com os socia-
listas para as reformas estruturais.
Líder social-democrata,
que há alguns meses não
admitia demitir-se em caso
de derrota nas eleições,
já mudou de discurso
Legislativas
Sofia Rodrigues
[email protected]
Campanha
Helena Pereira
Parceiro da “geringonça”
lembra contributo para o
aumento do salário
mínimo, pensões e criação
do estatuto do cuidador
[email protected]
Menos de 24 horas depois, Catarina
Martins respondeu à ambição
expressa pelo PS de ser eleito com
uma tão grande maioria que não pre-
cise de “empecilhos”. “Quem ganha
o salário mínimo nacional e viu
aumentar o seu rendimento em 95
euros por mês em quatro anos sabe
que o BE não foi empecilho, foi o
contrário”, aÆrmou a coordenadora
do BE, ontem, em entrevista à Renas-
cença, dando ainda o exemplo da
aprovação do estatuto dos cuidado-
res informais e o aumento das pen-
sões. “O BE foi quem puxou por essa
luta tão justa e outras. E é importan-
te que assim continue a ser”.
O destinatário destas palavras era
o PS e o vice-presidente da bancada
parlamentar, Carlos Pereira, que
anteontem, no plenário da Assem-
bleia da República, fez um apelo à
maioria absoluta sem dizer a expres-
são, mas com uma provocação: “O
que precisamos mesmo é podermos
governar sem empecilhos”.
Na Renascença, a coordenadora
do Bloco aÆrmou ainda que as maio-
rias absolutas são “perigosas”, des-
valorizando o argumento de que
estas permitem legislaturas mais
Catarina Martins responde
ao PS: “O Bloco de Esquerda
não foi empecilho,
foi o contrário”
estáveis: “Fala-se em estabilidade,
mas não tivemos estabilidade nestes
quatro anos? A estabilidade está em
as pessoas saberem que podem con-
tar com a sua pensão, com os seus
salários, com a sua escola pública,
com o SNS”.
Catarina Martins não poupou o PS
e voltou a acusá-lo de não apresentar
os verdadeiros custos das suas pro-
postas. “Nós dizemos que é preciso
100 mil casas para controlar os pre-
ços das rendas e 50 mil para famílias
vulneráveis e o PS diz que quer erra-
dicar as carências habitacionais até
- Mas depois nós dizemos qual
é o investimento público possível e
necessário, mas o PS não diz nada”.
“Se vamos alterar as carreiras dos
funcionários públicos, as pessoas
devem saber se é para cima ou para
baixo. Quando o PS não tem no seu
programa dinheiro para melhorar as
condições de vida de quem trabalha
para o Estado, quer dizer que quan-
do fala na revisão das carreiras, se
calhar os polícias, professores, enfer-
meiros, médicos e oÆciais de justiça
pode ser uma revisão em baixo, e
querem saber o que lhes vai aconte-
cer. Achamos que é bom haver essa
transparência. As contas do PS não
existem no programa”, insistiu.
OBE não escondeu também a sua
indignação com o facto de 14 ban-
cos, entre os quais a CGD, terem sido
condenados pela Autoridade da
Concorrência por prática concerta-
da de informação sensível no crédi-
to ao longo de mais de dez anos,
entre 2002 e 2013. “Como é que é
possível a supervisão [BdP] nunca
ter visto nada e a CGD ter entrado
num esquema destes de assalto do
país?”, questionou Catarina Martins
na quarta-feira à noite, em Beja,
numa acção de campanha, referin-
do-se à condenação dos 14 bancos,
pela Autoridade da Concorrência,
ao pagamento de 225 milhões de
euros em coimas por prática con-
certada de informação sensível no
crédito, entre 2002 e 2013.
“É de tal forma a impunidade da
banca que, depois de uma crise
Ænanceira que nos Æzeram pagar
tantas e tantas vezes os desmandos,
Æcámos agora a saber que [14 ban-
cos] andaram a fazer um conluio
durante uma década para cobrar
mais nos créditos ao consumo, à
habitação e às empresas”, aÆrmou.
A coordenadora do BE
questiona as contas do PS
POLÍTICA
“Se o PSD tivesse
um resultado
baixíssimo,
obviamente, o que
é que uma pessoa
Äca lá a fazer?”