Público • Sexta-feira, 13 de Setembro de 2019 • 15
POLÍTICA
Nem morno chegou a ser o debate
entre Rui Rio e Jerónimo de Sousa,
que durante meia hora de conversa
muito cordata concordaram nos pro-
blemas mas divergiram na maior par-
te do caminho a percorrer para os
resolver. Até na importância que cada
um dá ao Parlamento: o presidente
do PSD voltou a desvalorizar o cargo
PSD e PCP perto nos problemas,
longe em boa parte das soluções
de deputado – “não me entusiasma
ser deputado; o que me entusiasma
é ganhar as eleições e ser primeiro-
ministro” –; o secretário-geral do PCP
aproveitou para admitir que “há ale-
grias maiores na vida” e defender a
“centralidade” da Assembleia e o tra-
balho de “exigência e convicção”.
Mas Rui Rio fez outra coisa: prati-
camente admitiu que não quer ser
Governo. Contou que pôs o seu lugar
de candidato a deputado “à disposi-
ção” mas que “foi o partido que disse
que tinha que ser candidato”. Ora,
Æcou por explicar a incoerência de
dizer que o seu entusiasmo por ser
primeiro-ministro sem ser eleito pri-
meiro, já que essa é a tradição demo-
crática portuguesa.
Ambos concordam com a neces-
programa que se propõe limitar o
ordenado dos gestores de topo para
reduzir as disparidades salariais e até
penalizar Æscalmente as empresas
que não respeitem tais princípios.
“Ter um administrador a ganhar um
milhão de euros e cá em baixo
ganham 600 ou 700... quando uma
empresa se desenvolve têm que
ganhar todos”, disse Rio.
Jerónimo avisou que divergem “no
tempo e no modo”, e preferiu enca-
minhar a conversa para a necessidade
da valorização global dos salários e o
aumento do salário mínimo para os
850 euros. Até lembrou a Rui Rio que
este já disse publicamente que não
sabe como se pode viver com 600
euros. O comunista insistiu no abono
de família universal por se tratar de
“um direito da criança e não dos
pais”, Rio contrapôs que este deve ser
apenas “para os mais carenciados”.
Jerónimo insistiu com uma rede de
creches pública gratuita e Rui correu
atrás lembrando que o PSD prefere
uma rede “tendencialmente gratuita
que inclua o sector social”. “É uma
ideia parecida”, admitiu.
Praticamente sem ataques ao PS,
o inimigo comum, o debate fez-se
num tom excessivamente cordial,
quase como se não se tratasse de
partidos com ideologias tão distin-
tas. Rio nem se exaltou quando Jeró-
nimo de Sousa o acusou de olhar
para a saúde como “uma área de
negócio e não um direito”.
Frente-a-frente
Maria Lopes
Debate na RTP foi morno.
Rio repetiu que não o
“entusiasma” ser deputado.
Do inimigo comum, PS,
praticamente não se falou
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sidade de ter horário de trabalho
igual no privado e no público e de
aumentar os salários. Mas com rit-
mos bem diferentes: aos 850 euros
do PCP, o PSD responde com 700
euros até ao Æm da legislatura; às 35
horas para todos já dos comunistas,
Rui Rio diz que “agora é impossí-
vel”. “Quando tivermos crescimen-
to económico que o permita”, disse,
usando a mesma justiÆcação para o
salário mínimo - que as empresas
não aguentam tal esforço neste
momento. Jerónimo vincou que o
PS é que não deixa que haja margem
para isso por causa da dívida e do
dinheiro dado à banca.
Mas para provar a sua preocupação
com os salários, Rio fez questão de
dizer que é mesmo sua a proposta do