Público - 13.09.2019

(Martin Jones) #1

20 • Público • Sexta-feira, 13 de Setembro de 2019


SOCIEDADE


GONÇALO DIAS

O piloto Noel Ferreira era capitão da Força Aérea e comandante dos Bombeiros Voluntários de Cete

A queda do helicóptero que vitimou
Noel Ferreira, no dia 5 de Setembro,
durante o combate a um incêndio no
concelho de Valongo, deveu-se ao
choque entre o balde da aeronave e
um cabo de alta tensão. A conclusão
é de um relatório preliminar do Gabi-
nete de Prevenção e Investigação de
Acidentes com Aeronaves e de Aci-
dentes Ferroviários (GPIAAF) publi-
cado ontem.
“Após transpor uma primeira linha
de muito alta tensão, devidamente
sinalizada e composta por 14 condu-
tores, o balde suspenso da aeronave
colidiu nos cabos da segunda linha,
esta posicionada a uma cota inferior
e a cerca de 45 metros de distância
horizontal da primeira, motivo pelo
qual dispensa sinalização”, pode ler-
-se no relatório do GPIAAF.
O acidente ocorreu após o piloto
ter deixado no terreno uma equipa

Choque com linha de alta


tensão foi a causa da queda


de helicóptero em Valongo


de intervenção que tinha saído meia
hora antes da base da Afocelca, na
Quinta Rei, igualmente em Valongo.
A aeronave efectuou uma primeira
descarga, com o acidente a aconte-
cer na segunda aproximação que o
piloto fazia ao local onde ocorria o
incêndio Çorestal.
Após o embate do balde com a
linha eléctrica, também o rotor da
cauda do helicóptero chocou com
uma segunda linha de alta tensão,
resultando numa descarga eléctrica.
A aeronave e os seus acessórios fun-
cionaram como condutor entre os
dois cabos, como Æca demonstrado
pela imagem.
O impacto originou “um arco eléc-
trico intenso”, descreve o relatório.
O GPIAAF sustenta que esta conclu-
são vai ao encontro dos relatos das
testemunhas que assistiram ao aci-

dente e reportaram um “impacto
iluminado” entre a aeronave e os
cabos. Na sequência da destruição
do rotor de cauda, a aeronave per-
deu também o estabilizador vertical,
iniciando nesse momento uma que-
da abrupta em rotação.
Este gabinete diz que a perda de
controlo foi “inevitável”, com um
“incêndio intenso, que consumiu a
aeronave na totalidade,” a deÇagrar
após o embate do helicóptero com
o solo.
A linha de alta tensão em que a
aeronave embateu não estava sinali-
zada, mas não infringia a lei, visto
que, a cerca de 45 metros de distância
horizontal, se encontrava uma pri-
meira linha de muito alta tensão devi-
damente sinalizada. Estas conclusões
têm carácter provisório, podendo ser
alteradas no decorrer do processo de
investigação ao acidente.
Operado pela empresa Helibravo,
o helicóptero fazia parte do dispo-
sitivo de combate aos incêndios, a
par dos meios aéreos que estão ao
serviço da Protecção Civil. A vítima,
Noel Ferreira, de 36 anos, era capi-
tão da Força Aérea e, simultanea-
mente, comandante dos Bombeiros
Voluntários de Cete.

Balde da aeronave embateu
contra linha eléctrica,
indica relatório preliminar.
O piloto, de 36 anos, acabou
por morrer

Incêndios
Miguel Dantas

[email protected]

A situação foi denunciada por Mário
Barroco de Melo, presidente do Sin-
dicato dos Técnicos da Direcção-Ge-
ral de Reinserção e Serviços Prisio-
nais (SinDGRSP): um grupo de rapa-
zes, a cumprir medidas de
internamento no Centro Educativo
de Santo António, no Porto, agrediu
um par de seguranças.
Naquele centro educativo, estão
neste momento duas dezenas de rapa-
zes que cometeram actos tipiÆcados
como crime. Cerca de metade está em
regime fechado. Os outros estão em
regime aberto ou semiaberto.
Tudo terá acontecido na quarta-
feira à noite. Chegou a hora de reco-
lher e um dos rapazes recusou-se a ir
para o quarto. A técnica de reinserção
social alertou um elemento da equipa
de segurança. Segundo a Direcção-
Geral de Reinserção e Serviços Prisio-
nais (DGRSP), o rapaz “tentou agre-
dir” o segurança. De repente, outros
cinco jovens envolveram-se no con-
fronto. E, logo, um segundo seguran-
ça.
Na versão de Mário Barroco de
Melo, os dois seguranças terão sido
agredidos ao soco, ao pontapé e com
pés arrancados de cadeiras ou mesas.
Na versão da DGRSP, o conÇito foi
sanado “em cerca de 10 minutos,
tendo os seis jovens nele intervenien-
tes recolhido a um quarto de onde
foram levados, sem qualquer outro
incidente, para as suas acomodações
individuais”. Adianta que os dois
seguranças tiveram de receber assis-
tência hospitalar. A DGRSP conÆrma,
esclarecendo que daquele episódio
“resultou um hematoma num dos
seguranças e uma escoriação no
outro segurança”.
O caso não morreu ali. Conforme o
regulamento, foi aberto procedimen-
to disciplinar aos jovens intervenien-
tes no tumulto. A ocorrência foi tam-
bém comunicada ao Serviço de Audi-
toria e Inspecção (Norte) desta
Direcção-Geral para abertura de
inquérito. Não são crianças, lembra
Mário Barroco de Melo. No dia 31 de


Rapazes agridem


seguranças em


centro educativo


Julho de 2019, estavam 142 jovens
internados nos centros educativos
espalhados pelo país. São quase todos
(90%) rapazes. Mais de metade
(58,04%), estão em regime semiaber-
to. E 76% já tinham 16 anos ou mais.
Em causa estão sobretudo crimes
contra as pessoas (63%), com desta-
que para as ofensas à integridade
física voluntária simples (23) e grave
(29). Também pesam os crimes con-
tra o património (35%), sobressaindo
os vários tipos de roubo e furto.
Ontem o sindicato emitiu um
comunicado no qual “manifesta a sua
solidariedade com todos os trabalha-
dores afectados” e insiste “na neces-
sidade de reforço urgente do número
de trabalhadores da carreira técnica
proÆssional de reinserção social”,
denunciando haver “um número
reduzidíssimo de trabalhadores,
sobrecarregados por turnos e a exce-
der o número de horas extraordiná-
rias legalmente permitidas não sendo
consequentemente remunerados”.
Ao telefone o presidente do sindi-
cato admitiu que esta situação podia
ter acontecido noutros centros edu-
cativos — Bela Vista, Navarro Paiva,
Olivais, Padre António Oliveira ou
Santa Clara. O número de trabalha-
dores está reduzido “a metade”, o
que gera stress, exaustão, menor
capacidade de acção. Por vezes, bas-
ta um técnico adoecer para que outro
tenha de fazer “dois turnos seguidos,
16 horas de trabalho”. Conhece casos
de pessoas que tiveram de fazer três
ou até quatro turnos.

Os dois seguranças receberam
assistência hospitalar

[email protected]

Justiça


Ana Cristina Pereira


Técnicos de Reinserção e


Serviços Prisionais insistem


“na necessidade de reforço


urgente do número de


trabalhadores”


É referido que a


perda de controlo
foi “inevitável” e

que o “incêndio


intenso” consumiu


a aeronave “na
totalidade”
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