Público - 13.09.2019

(Martin Jones) #1

26 • Público • Sexta-feira, 13 de Setembro de 2019


ECONOMIA


São 88 os credores da


Maló Clinic que reclamam


94,6 milhões de euros


Empresa está em Processo


Especial de Revitalização


desde Agosto. O Novo


Banco é o maior credor,


com 56 milhões de euros


Empresas


Sónia Trigueirão


[email protected]

A lista provisória de credores do
grupo Maló Clinic, que está em Pro-
cesso Especial de Revitalização
(PER), já foi publicada. Ao todo são
88 os credores que reclamam o
pagamento de mais de 94,6 milhões
de euros — dos quais apenas são
reconhecidos efectivamente 66,9
milhões, que, com juros, colocam o
valor nos 70,8 milhões.
O Novo Banco lidera a lista, com
um crédito reclamado e reconhecido
de 56,07 milhões de euros, seguido
do Banco Nacional Ultramarino, de
Macau (da CGD), com 6,9 milhões, e
das empresas Nobel Biocare Portugal
e Nobel Biocare Services, que recla-
mam cada uma mais de 2,4 milhões
e 1,02 milhões, respectivamente.
Entre os maiores credores está ainda
o Instituto da Segurança Social, com
mais de 1,9 milhões.
O próprio Paulo Sérgio Maló, fun-
dador da empresa mas que já não é
accionista, reclama cerca de 2,6
milhões de euros, mas nas notas
anexas à lista provisória de credores,
o administrador judicial provisório
indica que “não se reconhece o valor
reclamado, porquanto não se viu
junta com a reclamação de créditos,
como competia, qualquer documen-
tação comprovativa do valor recla-
mado, sendo que da contabilidade
revitalizanda não resulta a existência
de qualquer crédito para com o
reclamante”.
A Unicre — Instituição Financeira
de Crédito reclama 20,8 milhões,
mas apenas lhe são reconhecidos
cerca de 6,59 mil euros. Nas notas, o
administrador judicial provisório
explica o porquê do não reconheci-
mento. É que a Unicre entendeu
reclamar como créditos o montante
dos pagamentos efectuados pelos
clientes das clínicas Maló através dos
terminais de multibanco em 540
dias. Em causa está o facto de os con-
sumidores poderem anular os paga-
mentos num prazo de 540 dias. Ou
seja, um cliente poderia eventual-
mente cancelar, nesse prazo, uma


compra feita com recurso ao cartão
de débito ou crédito, que segundo a
lei pode acontecer por dois motivos:
“um deles é o não reconhecimento
da compra por parte do titular do
cartão e o outro pode-se dar pelo
facto de a transacção não obedecer
às regulamentações previstas nos
contratos”, lê-se nas notas do admi-
nistrador, que a seguir explica que a
Unicre “não procedeu a justiÆcar o
valor que reclamou neste apartado,
apenas se limitou a informar do mon-
tante em causa”.
Depois, o administrador argumen-
ta que, os serviços prestados pela
Maló são clínicos e foram integral-
mente prestados, aceites e cobrados
após prévio consentimento expresso
do consumidor. E a Maló também é
alheia à “relação contratual existente

NELSON GARRIDO

ao titular do contrato e ao emissor do
cartão, ao abrigo de um contrato de
emissão de cartão de crédito, não
sendo, subsequentemente, devedor
de qualquer quantia fruto do contra-
to de crédito existente entre o banco
e o seu cliente”.
A Maló Clinic entrou em PER —
um processo previsto na lei que per-
mite às empresas tentar a reestrutu-
ração da dívida com os seus princi-
pais credores a Æm de evitar a insol-
vência, sob a apreciação da justiça
— a 2 de Agosto, conforme avançou
já o Expresso.
Em Julho, foi noticiado pelo Jornal
de Negócios que a Atena Equity
Partners, sociedade de capital de ris-
co, que adquirira as clínicas Maló em
Maio, já tinha fechado um plano
estratégico para a Maló Clinic. De
acordo com o jornal, esse plano estra-
tégico previa um acordo com os ban-
cos credores para uma redução da
dívida, o eventual fecho de consultó-
rios e um investimento de quatro
milhões de euros. Sobre o fecho dos
consultórios, em Julho, a empresa
disse que seriam encerradas as clíni-
cas de Sintra, Guimarães e Loulé — os
clientes teriam ao serviço as de Lis-
boa, Porto, Faro ou Portimão.
A Maló Clinic está em mais de 60
cidades, de 25 países, com consultó-
rios próprios ou franchising. O volu-
me de negócios será de cerca de 30
milhões de euros, segundo avançou
o Negócios em Julho.
O PÚBLICO contactou a Atena, mas
não foi possível obter mais esclareci-
mentos adicionais em tempo útil.

Não se reconhece


o valor reclamado
[de 2,6 milhões

de euros a Paulo


Sérgio Maló por


falta de] qualquer
documentação

comprovativa do


valor reclamado


Administrador judicial
provisório

Turismo
Carlos Cipriano

Dezoito barcaças,
construídas em estaleiros
de Liverpool, irão acolher
até cem turistas na marina
do Parque das Nações

As célebres barcaças que servem de
casas e que estão atracadas nos
canais de Amesterdão, no Sena em
Paris ou no Tamisa em Londres ser-
viram de inspiração para um projec-
to turístico inédito em Portugal.
Dezoito embarcações deste tipo,
equipadas com o conforto e a tecno-
logia do séc. XXI, serão a âncora do
Tagus Marina, uma marca da empre-
sa Meridian Seasons Lda, que pre-
tende apostar num turismo com
preocupações ambientais, não mas-
siÆcado e inteiramente voltado para
o estuário do Tejo.
Rui Alecrim, que com o sócio Dio-
go Carvalho montou este negócio,
explica que a operação tem duas
vertentes: a parte de alojamento nas
barcaças e os passeios no Tejo para
observação das aves nos mouchões
e dar a conhecer a cultura dos aviei-
ros. A empresa possui dois barcos
eléctricos para navegar no estuário
e levar os turistas ao Evoa, um espa-
ço de visitação de aves que está inte-
grado na Companhia das Lezírias e
com a qual tem uma parceria.
“É uma opção estratégica não nos
misturarmos com o turismo massiÆ#

Investimento


de três milhões atraca


na marina da Expo para


dar a conhecer o Tejo


cado nos passeios em frente de Lis-
boa. Estamos no Parque das Nações
e o que faz sentido é ir para cima”,
explica Rui Alecrim.
A vertente hoteleira deste projecto
está — literalmente — bem amarrada
à marina da Expo. De momento ain-
da só chegaram cinco barcaças, mas
até Dezembro, o empresário espera
receber as 18 que encomendou a dois
estaleiros de Liverpool, especializa-
dos neste tipo de embarcações.
As cinco que neste momento
estão atracadas, e que vão permitir
que a empresa comece a receber
clientes já em Outubro, têm um
quarto com cama de casal, outro
com beliches e ainda uma sala com
cozinha e sofás que se transformam
em mais duas camas. No fundo são
autênticos T2, por oposição às
embarcações T1, mais pequenas e
constituídas apenas por um quarto
e uma sala com cozinha.
O investimento está estimado em
três milhões de euros, dos quais 30%
foram Ænanciados por fundos comu-
nitários ligados ao turismo, dado que
o projecto conta com o apoio do
Turismo de Portugal, que nele valo-
rizou o seu ineditismo. “Temos tido
um grande apoio e interesse das
várias entidades, desde o Turismo
de Portugal à Capitania do Porto de
Lisboa, a marina do Parque das
Nações, a Câmara de Lisboa e aos
próprios vizinhos aqui da zona da
marina, que também estão entusias-
mados com este projecto”, diz Rui
Alecrim. O Marina Tagus deverá criar
dez postos de trabalho.
“O nosso público são famílias de
classe média ou média alta, e essen-
cialmente franceses, belgas, holan-
deses e ingleses, gente de países que
tem tradição nesta área, onde é nor-
mal viver-se em barcos nos rios ou
nos canais”, diz o empresário. “Moro
no Parque das Nações, mas passei os
últimos 15 anos no estrangeiro, e faz-
me alguma confusão a zona sul da
Expo estar um bocado desaprovei-
tada e a marina não ter outras activi-
dades. E como vi noutros países que
o contacto com o rio funciona tão
bem, pensei ‘porque não também
em Lisboa?’.”
Os preços variam entre os 98 e os
135 euros, podendo aumentar mais
50% na época de Verão. Mas Rui Ale-
crim aÆrma que não pretende espe-
cular com os grandes eventos como
a Web Submmit ou outros que se
realizem no Parque das Nações.

Clínica Maló entrou em processo de revitalização em Agosto

Rui Alecrim diz que serão
criados dez postos de trabalho
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