Público - 13.09.2019

(Martin Jones) #1
Público • Sexta-feira, 13 de Setembro de 2019 • 29

OLIVIER HOSLET/EPA
esclarecidas durante as audições dos
comissários nas comissões do Parla-
mento Europeu — uma maratona que
vai decorrer entre 30 de Setembro e
8 de Outubro, com dois candidatos a
serem ouvidos pela manhã, dois à
tarde e outros dois ao Ænal de cada
dia. No Ænal da sessão, os coordena-
dores de cada comissão procedem à
avaliação individual do candidato.
Depois de ouvidos todos, o Parlamen-
to Europeu pode dar as audições por
encerradas e avançar para a votação
do colégio (marcada para a sessão
plenária de 23 de Outubro) ou solici-
tar audições adicionais.

Nomeações de risco


O Parlamento Europeu avalia os
comissários propostos em função da
sua competência pessoal, do conhe-
cimento e empenho na respectiva
pasta e a sua independência e ade-
quação ao cargo, para decidir se acei-
ta ou não a nomeação. Já houve casos,
no passado, de candidatos que foram
afastados por causa da rejeição dos
eurodeputados.
Na bolsa informal de apostas, o
nome que lidera a tabela dos candi-
datos à reprovação do Parlamento
Europeu é do comissário húngaro,
Laszlo Trocsanyi, que foi o ministro
da Justiça que levou avante as refor-
mas judiciais que motivaram a activa-
ção do procedimento de infracção a
Budapeste por violação do artigo 7.º.
As bancadas da extrema-esquerda,
dos Verdes e dos liberais já disseram
que não aceitavam a sua nomeação.
Igualmente difícil de aceitar para
alguns grupos é a indicação da rome-
na Rovana Plumb para comissária dos
Transportes, por causa do seu envol-
vimento num processo de corrupção
no seu país.
Outros dois candidatos, o polaco
Janusz Wojciechowski, e a francesa
Sylvie Goulard, podem contar com
complicações no processo de conÆr-
mação. Os dois estão a responder à
justiça em casos de despesas irregu-
lares com verbas do Parlamento
Europeu, e não contam com a bene-
volência dos seus pares — ainda que
beneÆciem da presunção de inocên-
cia, como lembrou Ursula von der
Leyen. “Não vou comentar os inqué-
ritos em curso, e que são totalmente
independentes. Quando terminarem,
avaliaremos as conclusões”, disse.

Não me agrada a
ideia. Da maneira

que eu vejo,


o modo de vida


europeu passa por
aceitar aqueles

que vêm de longe


Jean-Claude Juncker
Presidente da Comissão Europeia

Há denominações


originais e bizarras
[que] devem

merecer


reconsideração
David Sassoli
Presidente
do Parlamento Europeu

Por melhores


intenções que a


futura presidente
tenha tido, o

que podemos ler


ali é uma espécie


de tentativa
de acalmar a

extrema-direita


Margarida Marques
Eurodeputada socialista

Quando se trata


da nomeação
das pastas, devem

ser denominações


objectivas


e neutrais,
que apontem para

o seu conteúdo


Paulo Rangel
Eurodeputado
social-democrata

[email protected]

dentes executivos, que serão, ao
mesmo tempo, responsáveis por
pastas especíÆcas (embora elas nem
sempre sejam óbvias nos títulos que
lhes foram atribuídos). E além des-
tes indicou mais cinco vice-presi-
dentes, aos quais reportam, confor-
me os seus pelouros, os restantes
comissários.
Mas alguns destes vice-presiden-
tes não supervisionam qualquer
pelouro nem têm pasta atribuída,
ou seja, não são responsáveis por
nenhuma direcção-geral. Em con-
trapartida, alguns dos comissários
com títulos menos “poderosos”
foram brindados com a criação de
novas direcções-gerais. E em vez de
reportarem a um, reportam a dois
vice-presidentes.
Depois, também parece difícil per-
ceber em quem vão recair algumas
responsabilidades na nova estrutura.
De acordo com o esquema apresen-
tado por Von der Leyen, as matérias
relativas ao Estado de direito tanto
caem no âmbito da acção do vice-pre-
sidente para os Valores e Transparên-
cia, Vera Jourova, como do comissá-
rio da Justiça, Didiers Reunders. Qual
deles assinará as decisões da Comis-
são Europeia sobre os processos de
infracção levantados contra a Polónia
e a Hungria por violação do artigo 7.º
do Tratado de Lisboa?
E com qual dos dirigentes da
Comissão discutirão os ministros do
Eurogrupo os assuntos relativos ao
euro e à união económica e mone-
tária: o vice-presidente executivo da
Economia que Funciona para as
Pessoas, e comissário para os Servi-
ços Financeiros, Valdis Dom-
brovskis; o comissário do Orçamen-
to, Johannes Hahn; o comissário da
Economia, Paolo Gentiloni; ou a
comissária da Coesão e Reformas,
Elisa Ferreira, que será responsável
pela futura capacidade orçamental
da zona euro?
O Parlamento Europeu já pediu
explicações sobre estas mudanças
na organização das pastas e no rela-
cionamento dos diferentes comis-
sários, chamando a atenção para as
diÆculdades que o novo desenho
institucional coloca à sua missão de
supervisão do executivo comunitá-
rio. A comissão das Pescas fala com
o comissário dos Oceanos, que tute-
la também o Ambiente? E a comis-
são da Cultura interage com a comis-
sária da Inovação e Juventude?
Essas são dúvidas que poderão ser

que haverá, do lado da equipa de
Von der Leyen, “disponibilidade
para essa mudança”. O eurodeputa-
do social-democrata concorda que
a designação da pasta “é infeliz” e
deve ser alterada. “Foi um erro”,
considera, explicando que no mani-
festo do PPE a referência à protecção
do modo de vida europeu aparecia
em contraposição com o american
way of life.
“Essa expressão surgia exactamen-
te no sentido contrário de defender
uma Europa mais inclusiva e cosmo-
polita. Quando ela agora é usada a
propósito do pelouro com a compe-
tência das migrações, a sua interpre-
tação é automaticamente negativa e
problemática”, reconhece Rangel.


Mudanças que
geram confusão

Mas não são só as denominações
“perifrásticas” e “bizarras” das pastas
da futura Comissão Von der Leyen
estão a gerar confusão. As críticas
estendem-se da forma ao conteúdo,
com a leitura do organograma que a
futura presidente desenhou para o
seu colégio de comissários a levantar
reservas sobre a hierarquização e
operacionalização, tendo em conta a
dispersão e o cruzamento de compe-
tências dos comissários e das diferen-
tes pastas.
Algumas diferenças são difíceis de
entender. Por exemplo, Ursula von
der Leyen nomeou três vice-presi-

Ursula van der
Leyen juntou
ontem os
comissários
nos arredores
de Bruxelas
para que se
conehcessem
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