Público - 13.09.2019

(Martin Jones) #1

46 • Público • Sexta-feira, 13 de Setembro de 2019


DESPORTO


“Depois do Mundial, tenho batido


a muitas portas e até agora nada”


Luís Sénica Presidente da Federação de


Patinagem, fala das diÄculdades em


angariar patrocínios para o hóquei e


aborda as modalidades emergentes


Luís Sénica já fez quase tudo no
hóquei em patins. Começou como
jogador no clube da sua terra, o
Sesimbra, e passou a treinador por
vontade própria na viragem dos 30
anos. Depois, construiu uma
segunda carreira, passando pela
formação do BenÆca e pelas
selecções de Portugal, com um
título europeu em 2016. No ano
passado, com espírito de missão,
aceitou começar uma terceira
carreira, a de presidente da
Federação Portuguesa de
Patinagem, cargo que ocupa desde
Dezembro. Em conversa com o
PÚBLICO, este sesimbrense de 55
anos fala das diÆculdades que o
hóquei português tem em
assegurar Ænanciamento apesar de
ser o melhor do mundo, um
estatuto conÆrmado há dois meses
no Mundial em Barcelona, mas
congratula-se com o pico que a
modalidade atravessa. Mas como a
patinagem não é só hóquei, a
conversa também vai pelos
sucessos da patinagem artística e
da velocidade, e pelas esperanças
portuguesas no skate, que será
modalidade olímpica em 2020.
Com o título mundial da
selecção, mais o título europeu
do Sporting numa final four com
três equipas portuguesas, é
possível dizer que o hóquei em
patins português está no melhor
momento da última década?
Inequivocamente está num melhor
momento. Se é o melhor da última
década, pode ser que sim, é uma
questão histórica. O hóquei mantém
a excelência há muitos anos e está
num pico dessa excelência. A
selecção conquistou aquilo que
trabalhámos para conseguir e com
este impacto todo, que foi muito
positivo para nós. Agora vamos
tentar potencializar dentro das
nossas capacidades.
Era um título que Portugal já não


conquistava há 16 anos. O que é
que foi diferente agora?
Há um trabalho progressivo, estas
coisas não se fazem por geração
espontânea. Quase todos estes
atletas estiveram em quatro Ænais
nos últimos anos e ganharam um
Europeu em 2016 e este Mundial. O
que aconteceu foi a maturação
desse trabalho, com novas energias
e sinergias que permitiram que os
atletas e seleccionadores
estivessem focados na vertente
competitiva. Em termos de futuro,
creio que as dinâmicas irão
continuar dentro deste padrão e
agora é não desestruturar o que
tanto trabalho nos deu e não nos
desviarmos por força desta euforia.
Há aqui um outro ponto positivo
neste título: hoje é mais fácil cativar
as crianças, aquilo que viram foi
muito intenso e o hóquei em patins
voltou a ter ídolos. As crianças
procuram-nos com mais vontade e
isso é algo facilitador. Agora, é
convergir com os clubes.
Acredita numa fase de
crescimento acentuado?
O hóquei em Portugal tem o seu
espaço, pela história e pelo culto. É
uma actividade desportiva
culturalmente portuguesa e sofre
muitas vezes o que é bom e o que é
mau na nossa realidade. Neste
momento está a sofrer
positivamente as boas energias — e
nós às vezes somos muito
dramáticos a dizer que as coisas
não evoluem. Estamos na fase da
potencialização. Temos o melhor
campeonato do mundo, temos as
melhores equipas portuguesas a
jogar hóquei, temos quase todos os
melhores jogadores nacionais,
somos campeões do mundo... O
que eu queria é que esta fase se
mantivesse potencializada por
forma a valer uma evolução e
sustentabilidade da modalidade.
Do ponto de vista dos praticantes,
vai-se mantendo e evoluindo, do
ponto de vista económico não
temos a capacidade de gerir muito
dinheiro, somos muito

dependentes do que o Estado vai
protocolando connosco. Entrei em
Dezembro e, em Janeiro, comecei a
fazer contactos no sentido de ter
algum apoio de patrocínios.
Pós-Mundial, tenho batido a portas
e até agora nada. Temos os nossos
apoios nos materiais, mas
precisávamos de ir mais além.
Somos dependentes do Estado.
Por que razão é tão difícil
angariar esses apoios?
Há uma desatenção das marcas para
o potencial do hóquei. Em Portugal,
temos um foco desportivo para uma
determinada realidade e ninguém
consegue combater essa realidade.
A maior parte dos grandes

patrocínios prefere canalizar o
apoio para essa realidade. E há mais
gente a competir em Portugal e a
ganhar internacionalmente. Tudo
isto aponta para a menor vontade
de olhar para o hóquei em patins.
Temos a certeza de que somos um
bom acelerador de marca.
Neste contexto, é importante
haver um jogador como o Ângelo
Girão a ser representado por
Jorge Mendes?
Sim, claramente. É uma
oportunidade positiva que pode
abrir caminho a outros jogadores.
São esses pequenos aceleradores
que, em conjunto com tudo o resto,
fazem que possa haver uma

É preciso que a


World Skate seja


promotora do


desenvolvimento
do hóquei em

países em que tem


menor expressão


Entrevista


Marco Vaza

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