Público - 13.09.2019

(Martin Jones) #1
Público • Sexta-feira, 13 de Setembro de 2019 • 47

mudança de percepção.
É legítimo dizer que antes deste
pico de afirmação, houve um
momento de apagamento?
Não pôde haver apagamento
quando estivemos em tantas Ænais
consecutivas. E é preciso não
esquecer que os nossos adversários
directos, nomeadamente a
Espanha, passaram por um
momento de grande aÆrmação.
Nunca deixámos de ter selecções de
qualidade e de projectar os títulos.
Não embarco nessa ideia peregrina
de que o hóquei um dia destes
acaba. Tem uma vitalidade histórica
e há muita gente que não tem
memória ou que não liga a nada.


Nesse processo de afirmação e
sustentação, a televisão é
fundamental.
Nós temo-la. Isso era sempre tema
de conversa. A bola vê-se na
televisão, as transmissões são de
grande qualidade e com muita
dinâmica. Neste momento, posso
ver em casa quase a jornada
completa. Temos um contrato com
a TVI24 para a transmissão de 36, 37
jogos, mais a Taça, a Supertaça e a
final four, temos os canais dos
clubes, e, depois, temos os
streamings. Também por aqui o
hóquei conquistou o seu espaço
televisivo e tem um potencial muito
interessante.

O campeonato português é o
melhor do mundo neste
momento. Concorda?
Sim. E gostaria que se mantivesse
assim por muitos anos.
É um campeonato que tem quase
todos os melhores jogadores
nacionais e alguns dos melhores
estrangeiros. Isso pode dificultar
a afirmação de jovens jogadores
portugueses?
Não podemos contrariar a lógica de
gestão interna dos clubes. Podemos
é acompanhar e introduzir alguma
capacidade para que as coisas não
entrem em descompensação. O que
fazemos nunca será para cortar esse
melhor campeonato ou para proibir
esses melhores jogadores do mundo
de jogarem em Portugal. Será
sempre uma tentativa de criar
equilíbrios. Vivemos um bom
momento, mas temos de precaver
um caminho para garantir o futuro.
O que Æzemos foi a realização de um
campeonato de sub-23, com 31
equipas, como um espaço de
manutenção e evolução. Aqui
cabem aqueles que só querem jogar
e divertir-se e aqueles que querem
fazer uma carreira no hóquei.
Há quatro grandes nações de
hóquei no mundo e, depois, há
uma distância grande para os
outros. Por que razão é que o
hóquei não se tem expandido?
Essa pergunta acaba sempre por
surgir. Se formos à procura de
outras modalidades, e não falando
de futebol, também têm três, quatro
potências. Neste momento, já há
uma segunda linha aÆrmada —
França, Chile, Angola, entre outros,
o que não era verdade há uns anos.
E isso deve-se a uma proximidade
no contacto. Há mais gente
interessada e motivada. A grande
diferença é a forma como esses
países vivem a cultura do hóquei.
Não o vivem à dimensão das quatro
grandes nações de hóquei: Portugal,
Espanha, Argentina e Itália. E
também é preciso que a estrutura
internacional que gere o hóquei, a
World Skate, seja promotora do
desenvolvimento do hóquei em
países em que tem menor
expressão. Era preciso haver um
investimento, mas isso tem de vir de
cima. É um esforço que tem de ser
feito pela World Skate e Portugal
está disponível para ser parceiro
com o “know-how” que tem.
Nessa lógica da expansão, aqui

vai outra pergunta que também
já lhe devem ter feito muitas
vezes. Os Jogos Olímpicos de
1992, em Barcelona, foram uma
oportunidade perdida?
Ficarei muito satisfeito quando essa
pergunta não vier numa conversa
formal ou informal, porque será um
sinal de que foi ultrapassada. A
entrada do hóquei nos Jogos
Olímpicos é das coisas mais
consensuais para quem está na
modalidade: perdeu-se uma grande
oportunidade e, a partir daí, houve
uma descompensação e uma falta
de clarividência de processos.
Mesmo que não seja um caminho
claro nos próximos 15, 20 anos, a
estrutura internacional não pode
deixar de trabalhar para o projecto
olímpico. Tem de caminhar nesse
sentido, quanto mais não seja
porque isso obriga a evoluir, mas
não podemos fazer disso um drama.
Que opinião tem da gestão da
World Skate?
Há uma parte signiÆcativa de
pessoas que não pensa no hóquei
em patins, pensa nas outras
disciplinas. Não temos de levar a
mal, temos de compreender. A
visão da World Skate é muito
urbana, por força da aÆrmação do
skate, que é olímpico, e isso, no meu
entendimento, pode ser um bom
reboque para outras disciplinas,
incluindo o hóquei em patins.
Uma federação internacional só
para o hóquei seria uma solução
interessante?
Acho que haveria espaço para o
fazer, mas, conhecendo a realidade
e a organização internacional, acho
que acabaríamos por não vingar. Há
demasiados obstáculos. Temos a
ganhar muito com a entrada da
patinagem, através do skate, na
família olímpica. E outros olhares

irão acontecer sobre outras
disciplinas da patinagem.
Tem saudades de ser treinador?
Deixei de jogar aos 31 anos por
opção e, na altura, passei
convictamente para treinador de
jovens. Neste caso, aceder a este
cargo não estava no meu projecto
de vida, mas, depois de alguma
resistência, aceitei com espírito de
missão. A paixão é a mesma. E agora
posso fazer bem a muito mais gente.
Ainda se lembra do que o puxou
para o hóquei?
Antes de começar a jogar no
Sesimbra, e isto parece um
lugar-comum, habituei-me a seguir
o hóquei a ouvir os relatos de Artur
Agostinho e o meu foco era o
Portugal-Espanha. A minha paixão
começa sem ter visto um jogo.
Temos falado muito de hóquei,
mas há outras disciplinas que
têm tido sucesso, como a
patinagem artística. Um dos
grandes campeões portugueses,
o Ricardo Pinto, retirou-se...
Foi uma opção dele. Ele foi um
excelente atleta e é uma referência.
Continua ligado à modalidade, mas
temos outros jovens atletas. Ele
entendeu que chegou o seu
momento e que era a altura certa de
seguir outros projectos.
A patinagem de velocidade
também tem excelentes
resultados...
Fizeram um bom Mundial,
resultados que tiveram
continuidade no Europeu, onde
conquistaram 11 medalhas. Temos
um atleta de excelência, que é o
Diogo Marreiros, e temos um jovem,
o Marco Lira, que fez uma
competição soberba no seu escalão
[ juvenil], com sete medalhas. Há
muito bons indicadores de
evolução. É uma modalidade que
está na antecâmara da expansão.
Como já falámos, a patinagem
entra na família olímpica através
do skate. Quantos atletas terá
Portugal em Tóquio 2020?
Temos uma selecção que vai estar
no Campeonato do Mundo, no Rio
de Janeiro. Éramos para ter quatro
atletas, mas um deles mostrou-se
indisponível. Neste momento, o
nosso expoente máximo é o
Gustavo Ribeiro, que fechou o
ranking em terceiro. É qualquer
coisa de fantástico e inimaginável.

Do ponto de vista


dos praticantes,


o hóquei vai


evoluindo; do
ponto de vista

económico, somos


dependentes do


que o Estado vai
protocolando

connosco


Leia a entrevista na íntegra em
http://www.publico.pt

[email protected]

DANIEL ROCHA
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