Público - 13.09.2019

(Martin Jones) #1
6 • Público • Sexta-feira, 13 de Setembro de 2019

ESPAÇO PÚBLICO


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CARTAS AO DIRECTOR


SSobre o “museu
Salazar”: o povo de
esquerda no seu pior

Anteontem, dia 11 de Setembro,
suspirei de alívio quando li no
PÚBLICO o importante texto de
Luís Reis Torgal sobre este
assunto. Esclarece ele, com
autoridade (é um dos grandes
historiadores do Estado Novo)
que está instalada a
não-informação sobre o assunto:
um projecto credível, bem
desenhado e dirigido
cientiÆcamente pelo CEIS20,
prestigiada unidade de
investigação cientíÆca da
Universidade de Coimbra,
através dele próprio e de João
Paulo Avelãs Nunes, outro
reputadíssimo historiador do
Estado Novo.
Entre os poucos interessados,
ando há semanas a aÆrmar, para
espanto deles, que não acredito

que este fosse um projecto
salazarista, saudosista e defensor
das energias da extrema-direita,
tendo em conta a excelência dos
nomes dos investigadores
associados. Gerava-se silêncio
incómodo, como quem diz:
“Também tu andas por maus
caminhos.” O disparate torna-se
de gravidade extrema com a
aprovação na Assembleia da
República de uma proposta do
BE, condenando o dito “museu
Salazar”.
Espero que esta onda nefasta
de negação da História não
conduza o projecto inovador do
CEIS20 à desistência, como
aconteceu, parece, com o não
chamado “museu dos
Descobrimentos” em Lisboa.
Sem alarmismos, aÆrmo que o
“povo de esquerda” está cada vez
mais insuportavelmente
ignorante, e, apesar disso, exige
determinar o que os

historiadores devem fazer. O
Estado Novo e o seu chefe são
objectos fundamentais de estudo
e divulgação problematizadora
da história de Portugal do século
XX e Santa Comba do Dão tem
direito a ter um centro de estudo,
interpretação e divulgação do
Estado Novo, articulando os
valores, constrangimentos e
dinâmicas de uma sociedade
tradicional com alguns dos
princípios norteadores do
regime. Só para citar um caso
que certamente foi tido em conta
pelo CEIS20, a “dois passos” da
casa modestíssima onde nasceu
Salazar, estava a surgir um
dos equipamentos mais
modernos do Portugal de então,
o Sanatório do Caramulo. Não
reinava só a tacanhez em terras
da Beira Interior.
Como cidadã, venho propor,
a quem anteontem, na AR, votou
uma idiotice, que peça desculpas

públicas aos autores do
projecto que trabalham, há
décadas, sobre a recente história
de Portugal. E condená-los-ia a
lerem os seus livros e artigos.
Raquel Henriques da Silva,
directora do Instituto
Português de Museus
no período 1997-

PÚBLICO ERROU


Na edição de 11 de Setembro foi
erradamente noticiado que
Portugal tinha o dobro da média
da OCDE dos jovens que não
estudam nem trabalham.
A leitura correcta dos
dados mostra que Portugal
tem, sim, o dobro da
média da OCDE dos jovens
“nem-nem” que procuram
trabalho há mais
de um ano.

O romance Estuário, a mais recente obra da
escritora portuguesa, está entre os 13
finalistas do Prémio Médicis 2019.
Considerado pela imprensa francesa como um dos
destaques da rentrée literária naquele país, Estuário
é candidato ao lado de obras de autores como Joyce
Carol Oates, Manuel Vilas ou Edna O’Brien. O
romance de Lídia Jorge conta a história de Edmundo
Galeano, que regressou de uma missão humanitária
sem parte da mão direita. (Pág. 39) J.J.M.

Aos 36 anos, quase sete após ter pendurado
as raquetas, a tenista belga anunciou que vai
regressar à competição, o que acontecerá, se
se sentir em boas condições físicas, no início do
próximo ano, na Austrália. Depois de aos 23 anos se
ter retirado uma primeira vez devido a lesões e para
ser mãe, voltou dois anos mais tarde, conquistando
mais três torneios do Grand Slam e chegado a
número um mundial. Agora, com mais dois filhos,
Lídia Jorge Kim Clijsters não resistiu ao apelo do ténis. (Pág. 51) J.J.M.

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“Brexit”. Sim, devemos esperar o pior


V


amos lá fazer como nos Ælmes
do “agente de sua majestade” e
acertar os relógios para
estarmos todos sincronizados
no momento crucial desta
espinhosa missão a que se
convencionou chamar “Brexit”: o dia
31 de Outubro.
Esta data, que já foi 29 de Março e
22 de Maio, marcará com grande
probabilidade a saída do Reino Unido
da União Europeia, sem qualquer
tipo de acordo. É verdade que já
andamos nisto há três anos e que

ninguém munido de alguma dose de
razoabilidade achava que um país
com a interdependência que os
britânicos tem com a UE fosse capaz
de quebrar esta aliança sem qualquer
tipo de entendimento. Mas o
comportamento de quem mora no
número 10 de Downing Street tem
revelado que apostar num novo
adiamento é capaz de não ser muito
avisado.
“Você devia estar em Bruxelas a
negociar e está em Morley, em
Leeds...”, disse um cidadão a Boris
Johnson numa declaração de
absoluta clarividência sobre a atitude
do primeiro-ministro britânico.
Quando substituiu Theresa May,
Boris disse que a possibilidade de sair
sem acordo era uma arma negocial
que deveria manter em respeito uma
UE que tem igualmente muito a

perder com a saída desordenada. Só
que, desde aí, os esforços reais para
negociar, nomeadamente na matéria
mais controversa, o backstop na
Irlanda do Norte, foram nulos, como
puderam constatar ontem os
eurodeputados da boca do principal
negociador europeu, Michel Barnier.
Se isto não serve de alerta para os
que ainda acham que a voz da razão
se pode fazer ouvir, e se agarram à
decisão do Parlamento de considerar
ilegal a saída sem acordo, talvez não
seja de mais lembrar que o
primeiro-ministro disse que preferia
“morrer numa valeta” a pedir um
novo adiamento, e que uma
sondagem recente mostra que 73%
dos eleitores conservadores acham
mesmo admissível arriscar a
desagregação do Reino Unido, com a
saída da Escócia, País de Gales e

Irlanda do Norte, se for esse o preço a
pagar pelo “Brexit”.
Que só duas empresas portuguesas
tenham recorrido a fundos que lhes
permitem precaver a saída sem regras
daquele que, em 2018, era o nosso
melhor parceiro em trocas comerciais
só pode ser motivo de preocupação e
é de saudar a preocupação do
Governo de contactar as empresas
uma a uma, na esperança de
minimizar o impacto do “Brexit”. Se
os britânicos revelam uma acentuada
tendência para o abismo, mesmo
depois de ontem ter sido revelada
uma previsão das consequências da
saída desordenada, os portugueses
não podem responder com o seu
proverbial jeito para o improviso.
Vamos lá acertar os relógios?

David Pontes
Editorial
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