Adega - Edição 159 (2019-01)

(Antfer) #1

Edição 159 >> ADEGA 65


sommeliers. “Minha ideia”, explica Moritz, “é
que um cliente possa descobrir e provar o Il Ca-
berlot Sommelleria no restaurante, onde se tem
a melhor apresentação e o melhor serviço para
um grande vinho; e depois, por praticamente o
mesmo preço, compre a magnum para sua casa
e adega”.
A terceira, e talvez mais importante novidade,
é a construção de uma nova e moderna adega de
vinificação para o vinho, batizada de La Canti-
na Ca’berlot. Como tudo o que se relaciona ao
vinho, ela é cercada de simbolismos. Para come-
çar, o autor do projeto da nova adega, o arquiteto
suíço Valerio Ogliati, é filho do também arquite-
to Rudolf Ogliati, que restaurou a antiga casa em
ruínas da propriedade. Totalmente em concreto
e em boa parte subterrânea, para minimizar o
impacto ambiental, a nova adega funcionará por
gravidade e abrigará também espaços para rece-
ber visitantes e realizar degustações especiais. A
forma de financiar, pelo menos parcialmente, a
construção é tão original como o próprio vinho.
Foram oferecidas 40 quotas no valor de 25 mil
euros cada uma a quem quiser fazer parte do gru-
po “Amici del Ca’berlot”, que não é o mesmo dos
que participam das vindimas. Cada quota dará ao
investidor/amante do vinho, entre outras regalias,
o direito de receber anualmente, ao longo de 25
anos, uma garrafa Salmanazar, ou seja, de 9 li-
tros, do Il Caberlot, da qual só serão produzidas
exatas 40 garrafas por safra. Ainda que o partici-
pante possa optar por receber seis magnuns (do
vinho) em lugar da Salmanazar, a expectativa é
que a valorização dessa última supere os rendi-
mentos normais de qualquer aplicação financei-
ra. A construção deve ter início em 2019 e, se
tudo correr bem, ficará pronta a tempo de pro-
cessar a safra 2020.
Mas engana-se quem por ventura pensar que
o Il Caberlot é apenas uma curiosidade genética
turbinada por marketing criativo. Trata-se de um
dos grandes tintos toscanos, ainda que não seja
muito fácil identificar sua origem quando prova-
do às cegas. Para muitos, ele faz lembrar os vi-
nhos de Saint-Émilion, o que é natural, já que es-
tes têm por base, justamente, Merlot e Cabernet
Franc. Mas há também quem veja semelhanças
com os grandes Syrah do Rhône ou identifique


notas encontradas em exemplares chilenos de
Carménère, uva com a qual partilha uma trajetó-
ria até certo ponto parecida. Afinal, a redescober-
ta da Carménère no Chile se deu em vinhedos
supostamente plantados com Merlot.

VINHOS AVALIADOS

AD 94 pontos
CABERLOT 2015
Il Carnasciale, Toscana, Itália (Mistral – não disponível). Degustar
este vinho é um privilégio para qualquer enófilo, afinal é como
presenciar o “nascimento” de uma casta. Mas não se trata apenas
de uma curiosidade, é ver a natureza criando uma nova casta que é
realmente capaz de gerar grandes vinhos. Daquelas coisas que tinha
tudo para dar errado, mas deu muito certo. Confirma as linhas de seu
irmão Carnasciale, mas com muita imponência. Mais concentração,
tanto de frutas quanto taninos. Também há mais presença de
“óleo da madeira”. Apresenta ainda um elegante mentol.
Merece ser decantado para que sua força dê espaço à
crescente elegância aromática, em que a fruta vermelha,
o perfil vinoso e o toque balsâmico abrem espaço para o
protagonismo floral de dama da noite. Muito longevo, ainda
tem a marca da boa passagem por madeira com um aspecto
lácteo e café que premiará a paciência até 2025 (ou mais). CB

AD 93 pontos
CARNASCIALE 2016
Il Carnasciale, Toscana, Itália (Mistral – não disponível). Tensão
de vinho italiano com uma finesse de França. O nariz entrega a
origem Cabernet Franc da variedade Caberlot. As camadas de
aromas vão se sucedendo, toque animal e rústico inicialmente,
passando por “merde de poulet” (jeito chique de falar titica de
galinha) e, por fim, um fascinante floral. Quando não mexemos
a taça, prevalece o animal. Em boca, tem muita cereja fresca.
Encantam os taninos e acidez por serem as marcas de um
vinho capaz de grande longevidade. Bastante seco e muito
gastronômico. A fruta deliciosa vai ganhando protagonismo gravitando
entre a cereja e o morango. CB

V

A
C
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