Folha de São Paulo - 06.09.2019

(ff) #1

aeee


opinião


A2 Sexta-Feira,6DeSetembroDe2 019

UMJORNALASERVIÇO DO BRASIL


a


Publicado desde 1921–Propriedade da EmpresaFolha da Manhã S.A.

PresidenteLuizFrias
diretorderedaçãoSérgio Dávila
suPerintendentesAntonio ManuelTeixeiraMendeseJudith Brito
Conselho editorialRogério CezardeCerqueiraLeite,
Marcelo Coelho,Ana Estela de SousaPinto, Cláudia Collucci,
CleusaTurra, Hélio Schwartsman, Heloísa Helvécia, MônicaBergamo,
Patrícia Campos Mello,Suzana Singer,Vinicius Mota,
AntonioManuelTeixeiraMendes, LuizFriaseSérgio Dávila(secretário)
diretoria-exeCutivaMarcelo Benez(comercial),Marcelo Machado
Gonçalves(financeiro)eEduardo Alcaro(planejamentoenovos negócios)

[email protected]

editoriais


Mororesiste


Reino partido


Sergio Morocontinuaaser omi-
nistro mais populardogoverno do
presidente Jair Bolsonaro(PSL).
Considerado ótimo ou bom por
54 %dos brasileirosque dizemco-
nhecê-lo,otitular daJustiça, em
pesquisa Datafolha, superapor lar-
gamargemosegundomais bem
avaliado de seuscolegas,Paulo
Guedes,daEconomia,com 34 %.
Deixatambémacomer poeirao
próprio mandatário,quecolheu
nãomais de 29 %deaprovação.
Tamanha popularidade, obvia-
mente, nãofoiconstruída emoi-
tomeses nem se deveàatuação
doex-juiz de Curitiba no Executi-
vofederal —seu desempenhoaté
aqui não deixou marcasnotáveis.
Trata-se, sem dúvida,deheran-
ça de seutrabalhoàfrentedaOpe-
raçãoLavaJato, num paísemque
condenar ricosepoderososàpri-
sãosemprefoi raridade.
Após se projetarcomoreferência
nacionaldocombateàcorrupção,
Morodecidiu investir numacarrei-
ra política.Sua passagem dama-
gistraturaparaogovernofederal
decertosematerializou antes do
que muitos esperavam.
Ao aceitaraofertaparacoman-
darumsupostosuperministério
daJustiça, Moroassumiu riscos,
queaesta altura já setransforma-
ram, diga-se, em problemasreais.
Em poucotemponafunção,so-
freurevesescontundentes em im-
portantesbandeirasetem sido al-
vo de investidas do presidenteque
questionam suaautoridade—ca-
so notório das mudanças empau-

ta nocomando da PolíciaFederal.
TantoBolsonaroquantomem-
bros do LegislativoedoJudiciário,
nãoraro commotivaçõesduvido-
sas,têmatuadoparadiminuiro
protagonismo depromotoresede
órgãos de investigaçãoecontrole.
Dentreasderrotas sofridas, omi-
nistroviu frustrar-seatentativade
transferiroConselho de Controle
deAtividadesFinanceiras (Coaf)
da áreaeconômicaparasua alça-
da,movimento quefavoreceria a
cruzadaanticorrupção.
Anovidade não passou no Con-
gresso,eoórgão, rebatizadocomo
UnidadedeInteligência Financeira,
hojeseencontranoBanco Central.
Nãoavançou,atéaqui, aprincipal
incursão do ministronasearale-
gislativa,opacoteque buscaendu-
recerregras contraacriminalida-
de,comboa dose decontrovérsia.
Em meioainiciativas do Congres-
so no mesmoramoeànecessida-
de decolocar em primeiroplano
areforma daPrevidência,oproje-
to perdeu urgência na agenda da
Câmara. Maisrecentemente, lan-
çou-se um programa de segurança
públicademodestos montantes.
Por fim, houveovazamentode
mensagens trocadas entreMoroe
membrosdaforça-tarefadaLava
Jato —obtidas pelo siteThe Inter-
cept Brasiledivulgadastambém
por estaFolhaeoutrosveículos.
Nãodeixa de ser umfeitoque a
popularidade do ministroresista
atantoscontratempos.Sinal, ao
que parece, de que seu nome per-
manecerá notabuleiropolítico.

Asemana nãofoiauspiciosa para
oprimeiro-ministro doReino Uni-
do,BorisJohnson. Após manobrar
paraencolherotempo queoPar-
lamentoteráparadiscutirasaída
do país da União Europeia,olíder
conservadorrecebeuotrocodos
deputados, que lhe impuseram su-
cessivas derrotas nos últimosdias.
Depois detomar naterça( 3 )o
controle da agenda parlamentar, a
Câmara dos Comuns aprovou, no
dia seguinte, propostaque obriga o
governoapedir àUEprorrogação
de três meses no prazoparaobre-
xit,caso nãosealcance um acordo
sobreostermos da ruptura.
Oobjetivoéevitar queopaís dei-
xe obloconodia 31 de outubrode
formacaóticaedesordenada,com
potenciais prejuízosàeconomia.
Aposição nãoencontrarespaldo
noParlamento, mastemsidode-
fendidadeformaintransigente
porJohnson, que alegaanecessi-
dade deteressacartanamanga
parasua estratégia de negociação.
Oprincipal impasse se dá emtor-
no da fronteiraentreaIrlanda, in-
tegrantedaUnião Europeia,eaIr-
landadoNorte, quefazpartedo
Reino Unido.Otemoréqueacri-
ação de barreiras possareavivar o
sangrentoconflitoentrenaciona-
listas norte-irlandeses (simpáticos
àfusãocomaIrlanda)eospartidá-
rios da autoridade britânica.

Johnsonrechaçou as negocia-
ções conduzidas por sua anteces-
sora, Theresa May, masnão apre-
sentou soluçãoalternativa.
Arebelião parlamentarcontou
comoapoiodecorreligionários e
abriu crise noPartido Conserva-
dor,levandoàexpulsão de 21 re-
beldes.AtéJoJohnson,irmão do
primeiro-ministro, renunciouasua
cadeiranoParlamento.
Logoapóstersofrido sua pri-
meira derrota,naquarta,Johnson
submeteu aos deputados um pedi-
do de novaseleições em 15 deou-
tubro. Perdeu novamente. Há na
oposiçãootemordeque umplei-
to agorapoderia dar ao mandatá-
rioachancedeimporum brexit
sem acordo ao fim da data-limite.
Aindaépoucoclaro, contudo,
comoaquestãovaisedesenrolar
nas próximassemanas.Nãosepo-
de descartarahipótese dequeo
caso termine judicializado.
Detodo modo,pareceinevitável
que novaeleiçãovenhaaocorrer
no curtoprazo —ogoverno,afinal,
nemcontamaiscommaioria legis-
lativa, após um deputado deser-
tarparaaoposição nesta semana.
Emborauma vitória claradeum
dos lados deva colaborar parade-
senredar odebate,umParlamen-
to mais fragmentado pode deixar
oReino Unidonuma paralisia ain-
da mais gravequeaatual.

adespeitodemuitoscontratempos no executivo


federal, ex-juiz mantémpopularidadeelevada;ao


que parece, seu nome seguiránotabuleiro político


SãoPauloHá um ano,JairBolsona-
roeraesfaqueado por Adélio Bis-
po,numatentadoque quasecus-
touavida ao entãocandidato àPre-
sidência. Se Bispo tivesse tido suces-
so em seu intentomacabro,oBrasil
estaria em outrolugar? Líderesfa-
zemdiferença?
Essaéuma dasmais pungentes po-
lêmicas da historiografia.Deum la-
do estão aqueles que,como Thomas
Carlyle, afirmam queaHistória na-
damaisédoqueahistória das deci-
sõeseatosdegrandes homens.Do
outro, estão autores mais determi-
nistas, notadamenteosmarxistas,
para os quais líderestêmpoucaou
nenhumarelevância, já que proces-
soseconômicos,sociaisepolíticos
prevalecemsobreações individuais.
Atéoiníciodesteséculo,acon-
trovérsia eraobjetivamenteinde-
cidível. Masaíveioumaturma que
acha queépossível trazer um pou-
code matemáticaàhistoriografia e
começouainvestigarexperimentos
naturais, istoé,acomparareventos
semelhantesnum número razoável
de paíseseépocas paraextrair,senão

umarespostadefinitiva,aomenos
umatendência quevalha sobcer-
tascondições.
Foiissooque fizeram em dois es-
tudosBenjaminJones(Northwes-
tern University)eBenjaminOlken
(MIT).Noprimeiro,adupla mediu
oque acontecia comaeconomia de
um país quando seulíder morria no
cargodevidoacausasnaturaisou
acidentes.Apartir da análise de 57
casosregistrados entre 1945 e 2000 ,
concluiu queocrescimentoeconô-
micoéafetado pelo óbito.
Nosegundo trabalho, os autores
compararamoque aconteciacom
um país quandoseu líder eraassas-
sinadoequando ele escapava de um
atentado.Deuma base de 298 ten-
tativas entre 1875 e 2005 ,verificou
que osataquesexitosos ( 59 )tiveram
mais impactoinstitucional do que
os fracassados ( 239 ).
Se asconclusões dosBenjamins es-
tãocertas,ateoria do grande homem
não pode ser descartada,eosmédi-
cosprovavelmentefizeramhistória
quando salvaramJair Bolsonaro.
[email protected]

BRaSÍlIaNadisputapelacadeirade
procurador- geraldaRepública,ven-
ceuaquele que se curvoumaisaJair
Bolsonaro. Ocargodeveria ser mar-
cado pela independência, masAu-
gustoArasficoucomopostodepois
deterdado sinais claros de submis-
sãoàagendadopresidente.
Decididoanão participar da elei-
çãointernadaassociação de procu-
radores,Aras tentou chamaraaten-
çãodoresponsável diretopela esco-
lha. Ele destooudealgumas missões
do MinistérioPúblicoelançou uma
plataforma na língua deBolsonaro
emtemascomoomeio ambiente,
os direitos individuaiseaLavaJato.
Aras não sevestiu deverde-ama-
relo,mas assumiuaretóricadaso-
berania nacional.“Aproteçãodas
minorias, inclusiveindígenas, passa
porinteresseseconômicosrelevan-
tes, internoseexternos”,declarou à
Folha,antesda crisenaAmazônia.
Oentãocandidatodissetambém
que as políticasde preservaçãodo
meio ambiente“não podem serra-
dicalizadas”.Parecia responderaum
anúncio de emprego:Bolsonarodi-

zia queochefedaPGR nãopoderia
ser “um xiitaambiental”.
Opresidenterecebeu Aras cinco
vezesantes de anunciá-lo para ava-
ga.Olongoprocesso seletivofez com
que eleeosdemaiscandidatosso-
fressemdesgastespúblicosetives-
sem que demonstrar afinaçãocada
vezmaiorcomoPaláciodoPlanalto.
QuandoArassetornoufavorito, foi
bombardeado por militantes que o
acusavamdeser alinhadoàesquer-
da. Emresposta,ele anunciou que
formaria umaequipecompartidári-
os deBolsonaro, elogiouopresiden-
te eatacoua“ideologia degênero”.
Onome ainda enfrentaoutrotipo
deresistência. Integrantes dacarrei-
ra edevotos da Lava Jato criticam a
escolha de alguémquefazreparos
àoperação. Aras jádisse que houve
“pequenos desvios” nocaso.
Adesconfiançasedánum mo-
mentoemqueopresidenteinterfe-
re sobre órgãos decontroleevêum
dos filhos sob investigação.Antigos
bolsonaristasreclamaram.Eleste-
mem que Aras trabalhe parablindar
aprimeira-famíliaeoutros políticos.

RIoDEJaNEIRoQuandomorreum
brasileirofamoso,voudiretoaos
jornais no dia seguinteparaapre-
ciaracaricaturadofalecido,deca-
misola brancaeasinha, sendorece-
bido numa nuvem por seuscolegas
deturma,também de asinhaeca-
misola, queterãopartido antes. Al-
guns são desenhadostocando har-
pa.Éuma alegoria, umarepresenta-
çãodacrençadeque,comachega-
da do fulano,océu entrou emfesta.
Foiassimcomamorterecentede
João Gilberto, sendorecebido nocéu
porTomJobimeViniciusdeMora-
es;comade MillôrFernandes,em
2012 ,juntando-seaPauloFrancise
Ivan Lessa;comado poetaFerreira
Gullar, em 2016 ,sentando-seàme-
sa comJoão Cabral de MeloNeto e
CarlosDrummond de Andrade;com
adocraque NiltonSantos, em 2013 ,
tendoaesperá-lo Garrincha. Curio-
samente, não seveemcartunscom
mulheres indo de asinhaecamisola
paraanuvem —BibiFerreiramor-
reuoutrodia enão me lembroseum
cartumamostrou sendorecepcio-

nada porTonia Carrero.
Mas, supondo queaditanuvem
existaeosgrandes mortos se dirijam
paraela ao morrer,por que encon-
trariam apenas os parescomquem
se davam? Por que nãotambém os
parescom quem não se davam?
Ficoimaginando os arranca-rabos
do encontrodeLimaBarretocom
CoelhoNettonocéu, de Mario de
Andradecom Oswald de Andrade,
deNoel Rosa comWilsonBaptista,
deGetulioVargascom Carlos Lacer-
da, de EmilinhaBorbacomMarlene
—oprimeirodecadadupla,tendo
morrido antes,assistindocomdes-
prazeràchegada do outro, seu desa-
feto em vida,ejáprevendoofimdo
seu sossegocelestial. Seueodeseus
vizinhosdenuvem, que nãotêmna-
daaver comabrigaentreeles.
Nãoestou agourando ninguém,
maséfatalque, um dia,cada qual
em suacamisola, LulaeSergio Mo-
ro se encontrem por lá. Sótemo que,
comavenda antecipada, os ingres-
sos paraesse clássiconanuvem já
estejam esgotados.

Por um triz


Bolsonaroachou seu procurador


Clássiconanuvem



  • Hélio Schwartsman


  • BrunoBoghossian




  • RuyCastro




Escrevo doRiodeJaneiro,onde
se reuniram, nestaquarta( 4 ),
dirigentesmunicipaisdeedu-
caçãodoestadocomaSecre-
taria estadualeoConselho de
Educação parafazeravançar o
currículo fluminense, uma tra-
dução daBaseNacional Co-
mum Curricular,num esforço
já feitopor outros 24 estados e
pelo DistritoFederal.
Defato,faltam sóoRio deJa-
neiroeoAmazonasparater-
mostodasas unidadesfede-
rativascomosobjetivosde
aprendizagemde suascrian-
çaseadolescentesmaiscla-
rosetraduzidos paraareali-
dade local.Nãoéuma inicia-
tivamenor,afinal,emdezem-
brode 2017 ,depoisdemuitas
rodadas de discussão, foiapro-
vadooque podemos chamar
de nosso pré-currículo nacio-
nal paraaeducação infantil e
oensino fundamental.Faltava
porém transformá-lo em docu-
mentocurricular paraqueca-
da estado,municípioeescola
pudesse usá-lo em sala deaula,
no processo de ensino.
Issoésuficiente paramelho-
raraqualidade daeducação no
Brasil? Comcerteza não.Com
os currículos aprovados, co-
moofizeramhábastantetem-
po os melhoressistemasedu-
cacionais do mundo,precisa-
mos aindaalinhar três outros
elementos paraqueacrise de
aprendizagemquevivemosse-
ja enfrentada.
Oprimeiro éaformação do
professor. Nãohánenhumele-
mentomais importantenopro-
cesso de ensino queaqualida-
de dos docentes. Para resolver
isso,precisamosinvestir na
atratividade dacarreiraeme-
lhorar aformação queelesre-
cebem no ensino superior,co-
nectando-a maiscomaprática.
Precisamostambém usarme-
lhorotempo deatividadeex-
traclasseprevistoemlei,para
uma aprendizagemeumpla-
nejamentomaiscolaborativos
entremestres.Eestaformação
em serviçodevesedarapar-
tir dos currículosedepesqui-
sa efetivasobrecomoestáo
aprendizado dos alunos.
Outroelementosão asavali-
ações, quepermitirãosaber o
quantocriançaseadolescentes
dominam ascompetências pre-
vistasnocurrículo eondeexa-
tamentepermanecemdificul-
dades. Estasavaliações deveri-
am seranalisadas porgestores
educacionaiseequipes escola-
res, paratraçarestratégias de
recuperação de aprendizagem.
Porúltimo, definidos os cur-
rículos, materiais de apoio aos
professores precisam serpre-
parados ou adquiridos.Para
fazerumbom trabalhoéim-
portantesequenciaroproces-
so de ensino, aprendercom os
colegas,conhecerasdificulda-
des, mas, sem materiaiscom-
patíveiscomoséculo 21 para
ensinarcomaltasexpectati-
vasparatodos, não seconse-
gueavançar.Daí aurgênciade
dotarcada docentecom livros
eobjetosdigitais que lhe per-
mitamoferecerumensinode
qualidade.
Há ainda um longocaminho
apercorrer.

Melhorar a


aprendizagem



  • Claudia Costin
    DiretoradoCentrodeexcelênciae
    inovação em Políticaseducacionais,
    da FGV. escreve às sextas


Jaguar
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