Folha de São Paulo - 06.09.2019

(ff) #1

aeee


ilustrada


Sexta-Feira,6De SetembroDe 2019 C3

Famílias são pratos fartos pa-
ra adramaturgia, mais ainda
quandoconstroemumne-
gócio bem-sucedido.Tretas
abundam,etodadiscussão so-
bredinheiro édissecadacom
atençãopsicanalítica.“Sopra-
nos”, “Empire”e“Succession”
tratam disso muitobem.
Soma-se agoraaessa lista
“The Righteous Gemstones”,
uma produção menos preten-
siosada HBOque lançaum
olhar sarcásticosobreuma
família detelevangelistas.
Atenção,não se tratadefa-
zerpiadacomafé dequem
quer que seja—emboraal-
guns chistes inocentescomo
santonometenham passado.
Agraçaéjustamenteque
osGemstones do título con-
duzem seu negócioreligio-
socomomesmo afincopa-
ratorná-lo um sucessocom
que os Sopranosgeriam sua
rede criminosa, osLyon cui-
dam de seu selofonográfico e
os Roydesuarede midiática.
Deus, ali,étambémuma
marca eumproduto,que pre-
cisaganhar novosmercados e
serconsumido pelas massas.
Masotomadotado pelo
autoreatorDannyMcBride
émenos críticoemaiscômi-
co,até desbragado,eele pre-
fere tirar suas piadas muito
mais dasrelaçõestumultu-
adas dafamília,edafamília
comseus detratores, que da
fé em si,tratadacomo algo
legítimo porém acessório.
McBride, cujacarreirase
deu nogênerobesteirol, in-
terpretanasérieoprimogê-
nitodeumcasaldetelevange-
listas ou superpastores,Jesse.
Amãe,que tinhaumafé fir-
meeumtalentoinconteste
parapregaroevangelho, mor-
reuemcircunstâncias pouco
comentadas pelos demais; o
pai, Eli(o sempremaravilho-
so JohnGoodman),querman-
tereexpandirolegado,mas
se desmotivaaosaber que só


contacom os filhosparaisso.
Jessetemdois irmãos:are-
calcadaJudy (EdiPatterson),
inconformada por ser deixa-
da em segundoplano pela ala
masculinadafamília,eoca-
çulaKelvin (AdamDeVine,de
“ModernFamily”), aparente-
menteumhomossexual en-
rustidofascinado pelo ami-
goKeefe.Nenhumdosdois,
contudo,parecedesejoso de
manterolegadodos pais.
Os netos de Eli, filhos deJes-
se,tampoucosemostram ap-
tos; omaisvelho,Gideon (Sky-
ler Gisondo), abandonouafa-
mília paraser dublê em Hol-
lywood; devoltaaolar,tem
como intuitosabotar opai.
Ahistória se passa no miolo
sul dos Estados Unidos,umlu-
garbastantereligiosoemuito
peculiar em suarelaçãocoma
fé —foi ali que brotaram, por

exemplo, as megaigrejas pen-
tencostais de sede única, que
atraemaseuscultos dezenas
de milharesde fiéis; ostele-
vangelistas, que levamapa-
lavraamilhões;eapromís-
cuarelação entrepolíticos e
chefes de igrejaevangélicos.
Aféjamaiséquestionada
—a crençados Gemstones em
Deus éinequívoca—,mas isso
nãoésuficiente para inibir a
família de enriqueceresebe-
neficiardacrençadeseure-
banho.Tampoucofreia seus
delitos, pecadoseaté crimes,
desde queosfins sejamnobres
—daí o“righteous” do título,
algocomo“virtuosos”,gente
que se acreditasempre certa.
Édiversão ligeira, mas em
tempos de homens de bem,
funcionacomoexpiação.
“the righteous Gemstones” vai ao ar na
Hbo,aos domingos, 23 h 05

‘The Righteous Gemstones’,naHBO,


satirizaasmegaigrejasevangélicas


críticaserial


Luciana Coelho
[email protected]

OsatoresTimBaltzeEdi Patterson emcena da série Divulgação


  • FábioZanini


SãoPauloOrganizaçõescon-
servadorasvêmtendo discus-
sões frequentescomrepresen-
tantes dogovernofederal so-
brepolíticasparaocinema,
da Lei doAudiovisualàcom-
posição doconselho do setor.
Um dos gruposmaisatuan-
tesreúneativistasenvolvidos
comaorganização da Cúpula
Conservadoradas Américas.
Atal cúpulafoicriadacomo
umaalternativa dedireitapa-
ra oForodeSãoPaulo,reuni-
ãode partidosde esquerda.
Sua primeiraedição aconte-
ceuemdezembrodoano pas-
sadoemFozdoIguaçu, noPa-
raná,etevecomo um de seus
principaisproponentesode-
putadofederal EduardoBol-
sonaro, doPSLpaulista, filho
do presidenteJairBolsonaro.
Emjunho,membrosdaor-
ganizaçãodaCúpulasere-
uniramcomoministroda
Cidadania, OsmarTerra,
cuja pastaagregouaáreade
cultura.Tambémparticipa-
ramrepresentantesdoBrasil
2100 ,que reúne empresários e
pesquisadoresconservadores.


Segundoaassessoria domi-
nistério,entreostemasdis-
cutidos nareunião estiveram
aLei doAudiovisualeane-
cessidade de se promoverfil-
mes que destaquem símbolos
nacionaisevaloresconser-
vadores, como patriotismo
epreservaçãodafamília.
Pela Cúpula, participaram
dareuniãoaconsultoraem
comércioexteriorKatiane
Gouvêa,omédicoLuciano
Azevedo, da Marinha,opro-
dutoreroteiristaFábio Cava-
leiro, omaestroDanteMan-
tovani eocuradorRomildo
Silva, entreoutros membros.
Dolado dogoverno,além de
Terra, participouJoséPaulo
Soares Martins, secretário de
Fomento eIncentivoàCultura.
Em 28 de agosto, houvenova
reunião de integrantes da Cú-
pula, dessaveznaCasaCivil.
Segundoorelatode um
participante, umtema dis-
cutidofoi como transformar
os filmes brasileiros em pro-
dutos deexportação mais
bem-sucedidos.
Umaconclusãoaque che-
garamfoi quetemas polê-
micos,como drogaseques-

Conservadores


fazem pressão


por mudanças


na áreadecinema


Grupoligadoaeduardobolsonaropediu


ao governo alteração emconselhoena


formadeaplicação derecursos públicos


tões degênero, afugentam
públicoereduzemoapelo
comercial de filmes, por não
poderem ser classificadosco-
modecensuralivre.
Por isso,navisão deles, es-
sestemas deveriam serevita-
dos em produções incentiva-
dascomrecursospúblicos.
Também nessareuniãofoi
debatidaaimportância de
haverumrepresentanteda
equipeeconômicanoCon-
selho Superior de Cinema,
instânciaresponsávelpor
formulareimplementar
políticas paraosetor.
Isso seria fundamental pa-
ra ajudaratraçarestratégi-
as devenda das produções
para omercadoexterno.
Nodia seguinte, um decre-
to dogoverno incluiuumre-
presentantedoMinistério da
Economia noconselho, res-
tabelecendo uma práticaque
já ocorreu nopassado.
Essaalteração no órgão
consultivonãofoiaprimei-
rafeitaporBolsonarodes-
de que assumiuoAlvorada.
Emjulho,outrodecreto já
havia transferidooConselho
SuperiordeCinemadoMi-
nistério da Cidadania paraa
Casa Civil.Seriaumaforma
de aumentarocontrole do
Planaltosobreoórgão.
Em mais de uma ocasião,
Bolsonarojáexpressoucon-
trariedadecomproduçõesfi-
nanciadasporrecursos pú-
blicos quetenhamtemáticas
como sexoedrogas.
Lembroucomo principal
exemploofilme“Bruna Sur-
fistinha”, de 2011 ,queconta
ahistória de umaex-garota
de programaetemDeborah
Seccono papel principal.
Aotodo,oconselhotemre-
presentantes de oitoministé-
rios, mais três do setor audio-
visualedois da sociedade civil.
Procurados, os ministérios
da Casa Civil, Cidadania eEco-
nomia não se manifestaram.

Animação sobre cães darainha Elizabeth


pinta Trump como um boçal fã de selfies


Cinema
Corgi:TopDog
*****
bélgica, 2019. Direção:
VincentKestelooteben
Stassen.emcartaz. Livre


  • Bruno Molinero


Existem filmes de animação
que de alguma maneirase
destacamnahistória do cine-
ma —por suainovação, por
usar algumatécnicanova,
por trazer diferentescama-
dasànarrativaououtromo-
tivo.Geralmentesão anima-
ções quefazemmuito adulto
se perguntar se aquiloémes-
moumfilmeparacrianças.
Dooutro lado estãooslon-
gasque sãopuroentreteni-
mento, que não trazem nada
de novoequepodematéar-
rancar uma risada ou outrae
desaparecem da memóriaco-
mo se não tivessemexistido.
Éocasode“Corgi:TopDog”.

Ofilmeébaseado na vi-
da doscachorros darainha
Elizabeth, que vivem no
bem-bom,rodeados de
mordomoseregalias.
Navidareal, arainhaédo-
na doscachorroseéconhe-
cida por serapaixonadapor
umaraça,owelshcorgipem-
broke. Elizabethganhou o
primeirocorgi de seu pai,
aindanos anos 1930 .Depois,
nãoparou mais de criarara-
ça —até que, no ano passado,
morreuoúltimoexemplar.
Oscachorros ficaramtão
conhecidos que apareceram
em diferentes produções,
comoasérie“The Crown” e
olonga“ARainha”.“Corgi:
TopDog”vemsesomaraelas.
Naanimação,ocachorro
preferido darainhaépas-
sado paratráspelo melhor
amigo,um dos outros corgis.
Issofazcom queoherói de
quatropatas deixeopalácio
eváparar num abrigodeani-

mais abandonados. Lá, des-
cobreque umcachorrova-
lentãoorganiza um clube da
luta nas madrugadas,fazen-
doapancadariarolar solta.
Epor quemonosso nobre
peludo protagonistaresol-
ve se apaixonar?Éclaroque
pela namorada do pit boy
de dentes afiados, que mais
pareceuma misturadepit-
bullcombúfalo selvagem.
Oroteirotransborda cli-
chês,asoluçãodosconfli-
tosémambembeemes-
mo as piadaspolíticas,
mesmo que provoquem al-
gumriso,parecem frouxas.
Éocaso dacaricaturade
DonaldTrump,que surge co-
mo um boçal que só quertirar
selfies. Ou do príncipe Philip,
retratadocomo alguém que
nãogostados corgis.
Forçado, “Corgi:Top
Dog” podeaté entreter por
uma horaemeia. Mas não
consegue ir além disso.

DonaldeMelaniaTrump emcena da animação ‘Corgi:To pDog’ Divulgação
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