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TufãocausamorTeefalTadeluznoJapão
Proteçãolateraldecampo degolfecai sobrecasas naregião
metropolitana deTó quio duranteapassagem doFaxai,com
ventos de até207 km/h, nestasegunda (9); uma pessoa
morreue840 mil casas ficaram no escuro Jiji Press/AFP
Paraadvogada, ligar direitos humanosàesquerdaéignoraroque foiUnião Soviética
‘Violência sexual éumaforma
incrível de despedaçaralguém’
enTrevisTa
paTricia sellers
- AnnaVirginiaBalloussier
RioÉpor terosdireitos huma-
nos nocerne de seu trabalho
queaadvogadaPatriciaSel-
lers se espantacom umaten-
dênciaàdireita devê-losco-
mo uma bandeiraesquerdista.
“Dizer issoécompreender
bem malaUnião Soviética. Os
soviéticos tiveram osgulags
[campos de trabalhoforça-
do]”,diz aespecialistaemvi-
olência sexualeassessoraes-
pecialparagênerodoprocu-
rador doTribunal Penal Inter-
nacional, em Haia(Holanda).
Lá,integrouaequipeque
conseguiuaprimeiraconde-
nação da história, numjulga-
mentoglobal, para soldados
quecometeram crimes sexu-
ais numaguerra—nocaso,ex-
comandantes sérvio-bósnios.
Sellersparticipou, nestase-
gunda ( 9 ), deumcolóquio de
direitonaUniversidadeFede-
ralFluminense, em Niterói.
Nãoéuma estranha nare-
gião.Morou no Rio nos anos
em queopaís transitavada
ditaduraparaademocracia.
Conta queabsorveudemu-
lheresnegras brasileiras,edos
preconceitos degêneroera-
çaque tiveramdeenfrentar,
lições sobrefeminismoque
moldaram sua trajetória.
Questionada sobrearela-
çãoentregovernoJair Bol-
sonaro eminorias, pede que
paredegravaraentrevista.
Nessecaso,afirma,émais
estratégicosilenciar.
Há um padrão de violência
contramulheres emguer-
ras?** Eume especializei em
violência sexual emtempos
deguerra.Eposso estarfalan-
do de mulheres adultas ou de
meninas.Mas também de ho-
mens adultos ougarotinhos.
Etambémdeindivíduos não
binários, que não se identifi-
camcomo homem ou mulher.
Há histórias de soldados que
estuprammulheres parain-
fectá-lascom HIV. Abusos se-
xuaissão armadeguerra? Vi-
olência sexualésobre poder.
Talvezvocêestejanaprisão,
ou está andando na ruaesua
cidadeacabou de serinva-
dida.Talvez aconteçanuma
mundo
Terça-Feira,10DeSeTembroDe2 019 A
aula em sua universidade: os
soldados entramefalam pa-
ra os homens saírem da sala.
Escolhemuma ou duas,tal-
vezaprofessora,eteviolam
apenas porquepodem.Amen-
sagem passadaparatodos
olhando: eu sou poderoso,vo-
cêéfraco.Possofazeroque
quero. Escolho essaforma pa-
ra destruirvocê pordentro.
Asra.jáviveu no Rio.Como
isso influenciou suatrajetó-
ria? Morei naFontedaSau-
dade[zona sul].Vim paraana-
lisarcasosdegênero. Eramos
anos 1980 ,vocês estavamten-
do suasprimeiras eleições.
Tancredo[Neves], [José]Sar-
ney, BeneditadaSilva,apri-
meiraafrobrasileiraeleita. Eu
miravaaquestão degênero,
emuitas negrastateavam seu
lugar na sociedade. Havia mui-
ta violência doméstica.
Quandovoltei paraaBél-
gica, pudecolocar uma pers-
pectivafeministaaoolhar a
lei internacional. Meses de-
pois houveogenocídio em
Ruanda, milhares de mulhe-
resforam estupradas.Avio-
lência sexualéumaforma in-
críveldedespedaçar alguém.
Ojeito perfeito, fora amorte.
Aimprensa nem sempreabor-
datodos os casosque mere-
cematenção.Algum, hoje, de-
veria estar nos holofotes? Te
dou umexemplo:háguerras
há anosnaRepúblicaDemo-
cráticadoCongo, na Síria.
Comviolência sexualdocu-
mentadapela ONU.Tudore-
portado,discutido...Aíosi-
lênciovolta.Eparterefletea
incapacidade dacomunidade
internacionaldefazer algo.
Forças internacionais,como
os capacetes azuis da ONU,são
muitasvezesvistascomo mo-
cinhos. Mas há casos em que
são elas as violadoras. Temos
que lembrarque enviamosos
capacetes azuis parasituações
em queapopulação estáno
augedesua vulnerabilidade.
Oscapacetes azuis não che-
gamnomeio de Manhattan e
fazemisso,elesvãoalugares
ondeaspessoas estão penan-
do paramanter qualquer nível
de sobrevivência. Isso permite
oquê?Desequilíbrio de poder.
Enão só nomomentode
conflito, tambémnopós.Já vi-
mos meninosemeninas que
se colocam em situações para
trocar sexo por sobrevivência.
Há umacorrente que asso-
ciadireitoshumanosa‘coi-
sa de esquerda’. Dizer isso é
compreender bem malaUni-
ãoSoviética. Ouaimplemen-
taçãodosocialismo na Chi-
na.Nãosão sociedadesbase-
adas em direitos humanos,
entãoéumpoucoestranho
encaixar essafilosofiaaí. Os
soviéticos tiveram osgulags.
Aschances de um afrobrasi-
leiroter umamorte violenta é
muitomaior do que as de um
branco. Écomum ouvir que a
juventude negranoBrasilpas-
sa por umgenocídio.Acha a
expressão adequada? Usar
essetermoéumjeitodedi-
zer‘meuDeus,algohorrível
estáacontecendoaqui’.Não é
necessariamenteigual àcom-
preensão legal.Etambém não
podemos dizer quegenocídio
ésósobrematar.
Essaéapenas uma das mo-
dalidades.Nessecaso,éum
jeitodedizer que há algoacon-
tecendocomosjovens negros
brasileiros. Se eu usar umter-
mo horroroso,talvez agoraeu
tenha suaatenção.
OBrasil que saía da ditadura
militarteveuma Lei da Anistia.
Mas muitos hoje acham que al-
guns crimes devemser revis-
tos, por serem imprescritíveis.
Comoasra.vêisso? Sem jus-
tiça, sem paz, ou sem paz, sem
justiça.Oque deveria vir pri-
meiro? Podemosteruma sem
aoutra? Dopontodevista da
lei internacional, nenhum cri-
mecontraahumanidade po-
de prescrever.Éilegal.
Alguns crimes—comotor-
tura,escravidão, genocídio—
não podem serdiminuídos ou
perdoados.Mas,nomundore-
al,écomum que[essas leis]
passem. ComonoCamboja.
Três, quatrodécadas apóso
genocídio, instalaram umcor-
po internacional para tentar,
ao menos, julgar os cincoque
eles acharamos maisrespon-
sáveis. Chegaráahora de dizer:
apaz precisa de justiça.
Entreoscasos emque tra-
balhou, qual maisacho-
cou? Chegauma horaem
quecadacasoémuitopara
suportar.Tenho alguns meca-
nismos de defesa,como inte-
lectualizarofato. Aí, anos de-
pois, quando leioasentença,
tudo meatinge.Você lê otes-
temunho de uma vítima, cria
uma imagem e, quando enfim
aconhece, pensa: meuDeus,
fizeram issoaessegarotinho?
Patricia
Viseur
Sellers, 65
Advogada,
éassessora
especial da
promotoria
doTr ibunal
Penal
Internacional
eprofessora
da Univer-
sidadede
Oxford.
Atuoucomo
advogada de
acusação em
julgamentos
dos tribunais
penais
interna-
cionais para
Ruanda e
paraaex-
Iugoslávia
- João Perassolo
SãoPauloComoeradese
esperar,ditaduras lideram
oranking de países onde a
imprensasofre maior grau
decensurapor partedogo-
verno,apontalevantamen-
to do ComitêparaaProte-
çãodosJornalistas(CPJ)
divulgado nestaterça ( 10 ).
Pela segundaedição segui-
da, Eritreia ( 1 º), Coreia do
Norte( 2 º) eTurcomenistão
( 3 º) figuram notopo dore-
latório.Nesses países,“a mí-
dia serve como porta-vozdo
Estado,equalquerjornalis-
mo independenteécondu-
zidoapartir doexílio”, afir-
maoestudo da CPJ,organi-
zação sem fins lucrativos.
Para silenciaramídia,go-
vernos usam métodos tradi-
cionais,como intimidação e
detenção arbitrária de jorna-
listaseseusfamiliares, além
de monitoramento online.
NaEritreia,oditador Isai-
as Afewerki, no poder há
quase 30 anos, baniutodos
os veículos noticiosos inde-
pendentes em 2001 ,mesmo
ano no qual prendeu diver-
sos jornalistas.Oquadrose
completacomadificuldade
extrema de acessoàinter-
net—menos de 1 %dapo-
pulaçãode 5 , 6 milhõesde
pessoastemacessoàrede.
Demaneirageral,não
houvemelhoras de 2015 —
ano dorelatório anterior—
paracá, segundoadiretora
de Advocacia do CPJ,Court-
neyRadsch. Elacitacomo
exemploaChina, queocupa-
va ooitavolugar há quatro
anoseagoraestáemquin-
to.Opaís maispopulosodo
mundo — 1 , 3 bilhão de habi-
tantes—tem“omaisexten-
so esofisticado aparatode
censura”,apontaoestudo.
Istosedá, segundoorela-
tório,devidoàsupervisão
deveículos noticiosos pri-
vadoseestatais peloParti-
do Comunista.Desde 2017 ,
siteseredes sociais só po-
dem prover informação
comapermissão de umco-
mitêregulador.
Já os usuáriostêm acesso
aconteúdos defora do país
restrito pelo bloqueio dere-
des sociaisedemecanismos
de busca.Épossível driblar
as limitaçõescomouso de
redes privadas(os VPNs),
mascensoresatuam para
exigiraexclusão de posts.
Oúnicopaís das Améri-
casnorelatórioéCuba: as-
simcomo em 2015 ,ailha
ocupaadécimacolocação.
Oterritório viunos últi-
mos anosoavançodainter-
net móvel, masjornaisesi-
tessãoforçados pelo Esta-
doareportarem “deacor-
docomosobjetivos da so-
ciedade socialista”.
Orelatório,feitocom ba-
se em pesquisasenoconhe-
cimentodos funcionários
da organização,levaem
contaapenas países em que
ogovernoexerce censura
diretaouindiretasobreo
trabalho de jornalistas. A
Síria,por exemplo, não en-
trapor estar emguerra, o
queéuma dificuldade na-
turalpararepórteres.
Aorganização não divul-
ga aposiçãodenaçõesfora
da listados dez primeiros.
$
Países onde a
imprensa sofre
maiscensura
1º Eritreia
2º Coreia do Norte
3º Turcomenistão
4º Arábia Saudita
5º China
6º Vietnã
7º Irã
8º GuinéEquatorial
9º Belarus
10 Cuba
Fonte: CPJ
Eritreia lidera
ranking de
países que
mais censuram
aimprensa
Macron reclama
deBolsonaroem
vídeo durante G
SãoPauloEm documentá-
riodocanaldeTVfrancês
CNEWS sobreosbastido-
resdaúltima cúpula do G 7 ,
opresidentefrancês, Em-
manuel Macron,éfilmado
reclamando docomporta-
mentodeJairBolsonaropa-
ra opresidentechileno,Se-
bastiánPiñera.
Ovídeoéde 26 deagos-
to,apósfala de Macron na
qual disse esperarque “os
brasileirostenham logoum
presidenteque secompor-
te àaltura” docargo.
“Eu queria ser pacífico.
Queria sercorreto, cons-
trutivocomocaraeres-
peitarasua soberania. [...]
Mas eu não poderia aceitar
isso”,disseemreferência à
ofensa deBolsonaroasua
esposa, Brigitte Macron.
Putin sofre derrota simbólicaem
eleição deParlamento emMoscou
- Igor Gielow
ESToColMoApósosmaiores
protestos desde 2012 naRús-
sia, oseleitores de Moscou de-
ramumrecadoaopresidente
VladimirPutinnaeleiçãopa-
ra aDuma (Parlamento) local.
Opartido dePutin,oRússia
Unida, perdeu espaçonaas-
sembleia: tinha 38 represen-
tantes(dez deles independen-
tes, mas apoiados pela sigla)
enodomingo ( 8 )elegeu 26.
Ésuficienteparamantero
controle da Duma, quetem
45 deputados,mas altamen-
te simbólicodadaanature-
za dos protestos que chaco-
alharam Moscou porvários
fins de semana seguidos des-
de junho,quandoaComissão
Eleitoral barrou diversos can-
didatosdeoposição do pleito.
Vários deles eram ligados
ao líder oposicionistaAlexei
Navalni, detido pororganizar
protestos sem autorização.
Ajustificativadacomissão
eraformal,comofaltadeassi-
naturasconsideradas plausí-
veis paraoregistrodas candi-
daturas. Os preteridos alegam
queforamexcluídos por per-
seguição política,eorganiza-
ramgrandes protestostodos
os sábados, levandoaumau-
mentodarepressãopolicial.
Sem seusrepresentantes no-
minais,aoposiçãonão só deu
apoioapartidos tradicional-
mente contráriosaPutin,co-
mooIabloko, mastambémfez
campanha por qualquercan-
didatoque tivessepossibilida-
de de derrotar nomesdoRús-
sia Unida emcada um dos dis-
tritos eleitorais moscovitas.
Assim, nomesconhecidos
comoodeAndrei Metelski,
opresidentedoRússiaUnida
em Moscou, acabaramderro-
tados por desconhecidos. Os
dados sobreanovacomposi-
çãodaassembleia aindasão
parciais,tendo sido divulga-
dos pela agência estatalRIA.
Além dos desconhecidos,
oIablokoeoPartidoRússia
Justaganharam trêscadeiras
cada um.OPartido Comunis-
ta subiu suarepresentaçãode
cincoeleitos em 2014 para 13.
Houveeleições emtodo o
país, masopleitomoscovita
eraomais aguardado.Éce-
do paradizer seavotação se
refletiráemummovimento
queatinjaeleições parlamen-
tares, masoencolhimentodo
Rússia Unida nacapitaléum
sinal claroparaPutin.
“
Nessecaso,
[genocídio]éum
jeitodedizer que há
algoacontecendo
comosjovens negros
brasileiros. Se eu usar
umtermo horroroso,
talvez agoraeu
tenha suaatenção
Ricardo Borges/Folhapress
Macronconversacom
PiñeranoG7Reprodução