aeee
UMJORNALASERVIÇO DO BRASIL
a
Publicado desde 1921–Propriedade da EmpresaFolha da Manhã S.A.
Presidente LuizFrias
diretorderedação Sérgio Dávila
suPerintendentes Antonio ManuelTeixeiraMendeseJudith Brito
Conselho editorial Rogério CezardeCerqueiraLeite,
Marcelo Coelho,Ana Estela de SousaPinto, Cláudia Collucci,
CleusaTurra, Hélio Schwartsman, Heloísa Helvécia, MônicaBergamo,
Patrícia Campos Mello,Suzana Singer,Vinicius Mota,
AntonioManuelTeixeiraMendes, LuizFriaseSérgio Dávila (secretário)
diretoria-exeCutiva Marcelo Benez (comercial) ,Marcelo Machado
Gonçalves (financeiro) eEduardo Alcaro (planejamentoenovos negócios)
[email protected]
editoriais
OfatorBolsonaro
Ésóumacarteirinha
Enquantoseconsolidaofiascoeco-
nômicodeste 2019 ,analistas do se-
torprivadocomeçamaabandonar
expectativasdeum desempenho
maisrobusto no próximo ano.
Comonoticiou estaFolha,pro-
fissionais de bancoseconsultori-
as já projetamtaxasdecrescimen-
to doProduto Interno Brutoabai-
xode 2 %em 2020 .Desdeofimda
brutalrecessãode 2014 - 16 opaís
nãoatingeesse patamar medíocre.
Nãosepode acusaromercado de
pessimismo.Aolongodestadéca-
da, osresultados do PIBtêmsido
sistematicamenteinferiores às pre-
visões iniciais.Nãoserádiferente
nesteano,emqueaexpansão es-
peradarondava os 2 , 5 %emjaneiro.
Odesapontamentochegouà
percepçãogeral. SegundooData-
folha,aparcela do eleitorado que
diz acreditar na melhoradasitua-
çãoeconômicarecuou de 65 %pa-
ra 40 %aolongode 2019.
Inexisteumdiagnósticocomple-
to econsensual paraaletargia. Sa-
be-se que elaestáassociadaàmín-
guados investimentos: dados pu-
blicadosporestejornal apontam
que as obras de infraestrutura têm
representadopoucomaisde 1 , 8 %
do PIB,menos da metade do que
se consideranecessário em estu-
do da Inter.B Consultoria.
Na conjunturaatual,ocenário
externoacrescentadificuldades.
Oconflito comercial entreEUA e
China provocaimpactoimediato
nos mercados financeiros,eacri-
se da Argentina prejudicaexporta-
ções da indústria brasileira.
Outrofator,menos palpável, tem
sidocitadocom alguma frequência
—oefeitodedeclaraçõesdispara-
tadaseatitudes erráticas do pre-
sidenteJairBolsonaro(PSL) sobre
oânimodeempresárioseinvesti-
dores domésticoseestrangeiros.
Épreciso boa dosedecautela di-
antedetal análise,enãoapenaspe-
la virtual impossibilidadedemen-
surarofenômenocom os indicado-
resdisponíveis.Asdecepçõescom
oPIB,repita-se, nãovêmdeagora.
Entretantoopresidentedefato
fomentaainstabilidadepolíticae
torna menosprevisívelaagendade
seugoverno.Areforma daPrevi-
dênciaavançou graças ao senso de
sobrevivênciadoCongresso, mas
nãosepodegarantiromesmo em
relaçãoaoutros projetoscruciais.
Temem-se aindaconsequências
negativasdapioradaimagemdo
país noexterior,emparticular na
área ambiental.Nessecaso,acon-
ta viriaaprazomais longo.
Amelhor hipótese équeBolso-
narocompreendaoquantoaeco-
nomiatendeaserdecisivanare-
cuperação de sua popularidade
—eque isso basteparamoderá-lo.
Atémeados de 2001 ,cabiaexclusi-
vamenteàUniãoNacional dos Es-
tudantes (UNE)emitirodocumen-
to quefaculta aalunos detodoopa-
ís usufruirodireitoàmeia-entra-
da emexibiçõescinematográficas,
showseoutroseventos culturais.
Em agostodaquele ano,uma me-
dida provisóriaeditada pelo en-
tãopresidenteFernando Henri-
queCardoso(PSDB) deucabo do
monopólio.Aprovidência, acerta-
da, produziuumefeitoindesejado.
Ao permitir queaidentificação
estudantilfosseexpedida pelos es-
tabelecimentos de ensino,anova
regrafacilitouafalsificação.
Asituação mudou novamente
em 2015 ,comaregulamentação
de uma leipromulgadaem 2013 ,a
qualbuscoucorrigiroproblema e
estabelecerumlimite, fixado em
40 %, de ingressosaseremvendi-
dos pela metade dovalor.
Odiplomapadronizouaemissão
dascarteirinhaseestendeuoser-
viçoaumconjuntomaiordeenti-
dades,comoaAssociaçãoNacio-
nal de Pós-GraduandoseaUnião
Brasileirados Estudantes Secun-
daristas —além da UNE,quetêm
nele sua principalfontederenda
eécontroladapeloPCdo B.
Naúltima sexta-feira( 6 ), deu-se
opasso final paraacabarcomes-
se cartório dessas entidades. Por
meiodeuma medida provisória, o
governoJair Bolsonaro(PSL) cri-
ouacarteiradeidentificação estu-
dantil emformato digital.
Dentrode 90 dias, discentes da
educação básica, profissionalesu-
perior poderão obterodocumento
diretamentenainternet, por meio
de lojas de aplicativo, ourequerê-
lo naforma físicaemagências da
Caixa EconômicaFederal. Em am-
bos oscasos, de maneiragratuita.
Dificilmentehaveráargumento
razoável contraaMP, quefazuso
elementar datecnologia e, maisim-
portante,contempla os interesses
dos estudantes. Épena, mas não
surpresa, queopresidentetenha
aproveitadoainiciativaparaesti-
mularapolarização política.
Ao inseriramedida nocontexto
de umaimaginárialutacontraoso-
cialismo,Bolsonaro excita suami-
litância maisfiel erevelaobjetivos
menos elogiáveis do que apenasfa-
cilitaravidados alunos.
Édifícil mensuraroimpacto de atitudes erráticas
do presidentenoresultado decepcionantedoPIB
SãoPauloHá algode irremediavel-
mentefalso naatitude de autorida-
des quebuscamcensurar obras que
considerem pornográficasoulicen-
ciosas.Arazão semprealegada por
esses lídereséadeque as palavras
ou imagensusadaspelo artista pre-
cisam ser tiradas de circulação para
protegerafamília, particularmente
os jovens, de influências indevidas
edanosas, que poderiam perverter
sua sexualidade ainda emformação.
Oargumentonãotemnenhuma
base científica, masdeixemos isso
paralá. Mesmo quefosseverdade,
ofatoéque, no mundo deredes so-
ciaisepolarização políticaemque
vivemos,tentativas de suprimir al-
godas vistasdopúblicoinvariavel-
menteprovocamreações cujore-
sultadoédar ampla publicidade ao
material—oexato oposto dos obje-
tivos proclamados.
Uma autoridade precisaria estar
no limitedaoligofrenia paraigno-
raresse efeito, de onde euconcluo
que nossoscandidatosacensores
estejammuitomenos interessados
em preservarajuventude do que
em apregoar em altoebom som
sua adesãoaumconjuntoespecífi-
co devalores,istoé,emganhar pon-
toscom sua clientela.Eonome dis-
so,embom português,éhipocrisia
—a homenagem queovício pres-
ta àvirtude, nas palavras de LaRo-
chefoucauld.
Indo um poucomais longe, penso
que já seja horadeaposentarmos,
porinúteis, osdispositivosdoECA
quetentam impedir adolescentes de
teracessoaconteúdos sexuais.Tais
mecanismos, que são os maisusados
paratentar justificaratos decensu-
ra,simplesmente perderam suara-
zão deexistir.
Aideia deevitar que material por-
nográficochegasse às mãosdeado-
lescentestalvez ainda soassemode-
radamentefactível no mundo analó-
gico, mas setornourisível num pla-
netaemque qualquer pessoacom
acessoàinternet estáaumclique de
distância de sitescomquantidades
quase infinitas de sexoemtodas as
modalidades já imaginadas por hu-
manos. Há limites paraahipocrisia.
[email protected]
BRaSÍlIaSejamos justos.Destavez a
culpa nãofoi(só)deJairBolsonaro.
Opresidenteestimuloutãosomen-
te um daqueles ufanismosaprecia-
dos por autoritários aquiealhures.
Seatalsemanadapátriaseresu-
misse aoverdeeamarelonas ruas,
oúnicomal seria apenasoreforço
do passageirosequestrodesímbo-
los nacionais pelobolso-lavajatismo.
Poderíamos, assim, noscontentar
em admiraraacuidadedamáxima
britânico-brasileira de queopatrio-
tismoéoúltimorefúgiodocanalha
(SamuelJohnson)—sendo,noBra-
sil,oprimeiro(MillôrFernandes).
Mas não, oprefeitodoRio deJa-
neiro, Marcelo Crivella (PRB),eo
governadordeSãoPaulo,JoãoDo-
ria (PSDB), queriam algomais. Pa-
ra calar fundo nocoraçãobolsona-
rista, promoveramasua particular
semanadahomofobia. Ou da ideo-
logia da estupidez,como queiram.
Oprefeitotentoucensurar um gi-
bi da Marvel que estampa um beijo
gay. Anão serqueconsigaaproeza
de provar queépornografia um ho-
memeuma mulher,ambosvestidos,
se beijarem,Crivella cometeu umato
homofóbico. Atitude que desdeju-
nho seequiparaaoracismo,ouseja,
écrime inafiançável, imprescritível
epodedar atécinco anosdeprisão.
Já ogovernadortentaenterrar o
“bolsodoria”eser uma direitaqua-
lificada,refinada, sem asneirasear-
roubosditatoriais. Ao mandarreco-
lher apostilas que abordavamiden-
tidadedegêneroediversidade,po-
rém, prejudica crianças,desperdiça
verbaseseabraçaaoque há de mais
toscoeridículo no bolsonarismo.
Atal “ideologia degênero” nada
maisédoque isso mesmo,umna-
da, umacoisa sem qualquer ampa-
ro científico, acadêmico, moral, hu-
manoeque nem os papagaios que
arepetem sabemexatamenteoque
é, emboralhesempreste àhomofo-
bia um ar de suposta erudição.Setri-
lhar essecaminho,Doria será nada
maisque umBolsonarodecashmere.
No conjunto, oprefeitoeogover-
nadorconseguiram ofuscarBolso-
naroemplena semana da pátria. Em
sendo esseointento, podem seco-
brir de louros.Nãofoi pouca coisa.
RIodeJaneIRoEltonMedeirosnas-
ceunaGlória,passouainfância em
Brás dePina e, já craque em batucar
caixinha defósforoeadministrador
de empresas trabalhandonaSecre-
taria deFazendado Rio, morou mui-
tosanos na HumbertodeCampos,
uma dasmais badaladasruasdo Le-
blon.Gostavadealmoçar norestau-
ranteDegrau: pratodepeixeacom-
panhado de sucodegraviola.
Foiláque ele mecontou de sua tre-
medeiranas pernas ao ser apresen-
tadoaCartola nos anos 1960 .Além
da afinidade musical, havia umaco-
incidêncianavida dos dois futuros
parceiros:oerrononome de batis-
mo.Elton naverdade eraElto—com
umNamenos.AgenordeOliveira
nacertidão de nascimentoera An-
genor—com umNamais.
“O Cartola brincavadizendoque
iria me emprestaroNdele.Umve-
lho escrivão me disse quetais equí-
vocoseramcomuns,enamaioria
dasvezesfeitos de propósito, sem-
preenvolvendofamílias negrasepo-
bres. Eraumtipodechacota”.
Comfama derabugento, Eltonti-
nha bronca das histórias que secon-
tavamarespeitode“OSol Nascerá”,
sobretudoadequeamúsicateria si-
docompostaemtrocade uma no-
ta de 100 dólaresoferecida aos artis-
tasnativos por umturistaamerica-
no que queria presenciaracriação
de um samba na hora:
“EueCartola passamosodia in-
teirotentandocompor,masacoi-
sa não saía. Estávamos nacasa de-
le, na ruadosAndradas.Foiquan-
do chegouoRenatoAgostini, em-
presário quedepoiscomprouoZi-
cartola,enos chamou de pregui-
çosos.Nahora oCartola mandou:
‘A sorrir eu pretendo levaravida...’.
Fuilogoatrás: ‘Pois chorando eu vi
amocidadeperdida’. Em dez minu-
tososambaficoupronto”.
Sãolindas ascanções que Elton
Medeiros, mortonasemanapassa-
da,aos 89 anos, deixou. Numaelei-
ção, euvotoem “Mascarada”,uma
parceriacomZéKéti.Éasua mais
ricamelodia—eele era, acima de
tudo,ummelodista.
Ahipocrisiadoscensores
Ideologia da estupidez
Parceiros na letraN
- Hélio Schwartsman
Ranier Bragon
AlvaroCostaeSilva
Acensuraaumarevistaem
quadrinhos ordenada pelopre-
feitodoRio deJaneiro, Marcelo
Crivella,eacensuraaumlivro
didáticoordenadapelogover-
nador deSãoPaulo,JoãoDoria,
ambos na semanapassada, são
os episódiosmaisrecentes da
batalha travada porfanáticos
religiososcontraomoinho de
ventodaideologia degênero.
Acreditando defenderafa-
mília tradicional de uma ame-
açainexistente,nossos moder-
noscavaleirostempláriosvio-
lamdireitos civisecriam obs-
táculosconcretosaocombate
ao preconceito.
Segundoteóricoscatólicos, a
“ideologia degênero” seria um
conjuntodetesesadotadaspor
feministas paratransformar
as diferenças biológicas entre
os sexosemumaconstrução
socialcomoobjetivodepro-
moverohomossexualismo e
otransexualismo,destruir a
família tradicionalereduzir a
natalidade.
Odocumentofundador des-
sa excêntricatese, apresenta-
donaConferência Episcopal do
Peru, em 1998 ,estáreagindo à
adoção da “linguagem degêne-
ro”na 4 ªConferênciaMundial
dasNações Unidas sobreaMu-
lher, em 1995.
Desde então, liderançasca-
tólicas e, em seguida,evangé-
licasseconvenceram de que os
movimentosfeministaeLGBT
estão numacampanhasorra-
teiraparasexualizar as crian-
çaseperverter sua orientação
eidentidadesexual.
Emboraosdocumentos que
alimentam essateoria dacons-
piração citemcorretamente
artigos decorrentesfeminis-
tasradicais, eles supõem que
essas posições minoritáriase
irrelevantes sejamaverdade
ocultadofeminismoedomo-
vimentoLGBTeque, portan-
to,ações promovidas por esses
grupos,comoaeducação sexu-
al de adolescentes,campanhas
contraaviolência degêneroea
promoção dorespeitoàdiver-
sidade, são apenasformasdis-
simuladasdepromovera“ide-
ologia degênero”.
Ondeosativistas buscam in-
centivar orespeitoereduzir os
alarmantes índices de violên-
ciacontramulheres,gays, lés-
bicasetransexuais, osfanáti-
cosvêm apenas perversão pe-
dófilacomaperniciosa inten-
çãodelevarcrianças inocentes
adesvios monstruosos.
Emboraoradicalismo queto-
mouacúpula das igrejas cris-
tãsalegue que sua intenção
nãoépromoveradiscrimina-
ção, masprotegerafamília, eles
têmsistematicamente bloque-
ado açõescontraaintolerân-
ciaeopreconceito.
Assimcomo os antissemi-
tasprecisamapenasdepis-
tasesparsasreunidas arbitra-
riamenteparaenxergaruma
conspiração judaicacristali-
na,também nossos soldados
dasguerras culturais acredi-
tamver soboinocente véuda
defesadadiversidadeomalé-
volo projetofeminista de aca-
barcomafamíliaecomapró-
pria presença humana no pla-
netaTerra.
[email protected]
Moinho
devento
- Pablo Ortellado
Professor do curso degestão de políticas
públicas da USP,édoutor em filosofia.
Escreve àsterças
Laerte
Presidenteacertaaocriar identificação digital para
estudantes, maséhoradedespolitizaroassunto
opinião
A4 TErça-FEIra,10DESETEmBroDE2 019
- 4
- 3
- 2
- 1
0
1
2
3
4
5
CrescimentodoPIB
decepciona há anos
Em%
*expectativadomercado no iníciodoano
**Previsãomaisrecente
Fontes: iBGeeBancoCentral
Previsto*realizado
2011
0 , 87 **
2013
2015
20172019
2 , 53