Público - 10.09.2019

(C. Jardin) #1

10 • Público • Terça-feira, 10 de Setembro de 2019


SOCIEDADE


António Costa, primeiro-ministro e
secretário-geral do PS, aproveitou um
comício em Vila Real, no passado
sábado, para defender a criação de
um Erasmus interno, para atrair
jovens estudantes para territórios do
interior. Um dia depois, o líder do
PSD, Rui Rio, veio sugerir que a ideia
foi copiada de uma proposta social-
-democrata apresentada “há meses
largos” e agora vertida no programa
eleitoral. Essa proposta foi mesmo
apresentada na Assembleia da Repú-
blica e chumbada por PS, BE, PCP e
PEV, com a abstenção do PAN.
O projecto de lei do PSD que pro-
punha um Erasmus Interior fazia
parte de um pacote legislativo apre-
sentado na Assembleia da República,
em Março deste ano, pelos sociais-
democratas para o ensino superior.
A iniciativa foi chumbada pelos socia-
listas (só PSD e CDS votaram a favor)
com o argumento de que a proposta
“não acrescentava nada à estratégia”
colocada em marcha pelo Governo
de incentivar jovens a estudarem em
instituições do interior.
Em Vila Real, António Costa defen-
deu um Erasmus Interior para que os
jovens que “só conhecem o país da
onda do surf ” tenham a oportunida-
de de conhecer “outros territórios,

PS chumbou


Erasmus Interior


proposto pelo PSD


saberes e espaços”, dentro do país. A
proposta resulta de uma medida que
está prevista no programa do PS: a
criação de um programa Erasmus
interno, “fomentando a mobilidade
de estudantes entre instituições de
ensino do litoral e do interior”.
Um dia depois das declarações do
líder do PS, Rio sugeriu que o PSD já
tinha avançado com a medida. “Pro-
pusemos isso há meses largos, tradu-
zimos isso agora no nosso programa
eleitoral, é uma medida que, se o PS
concorda com ela, só temos de nos
regojizar com isso”, disse Rui Rio,
sem referir que a proposta foi chum-
bada este ano pelo PS.
Questionado sobre a coincidência
de PSD e PS defenderem a mesma
medida, declarou: “O dr. António
Costa terá lido bem o programa do
PSD e reproduzido bem uma ideia de
que gostou”.
Apesar de os dois líderes disputa-
rem a originalidade e a autoria da
ideia, a verdade é que já existe um
programa deste tipo, intitulado
“Almeida Garrett” e criado por inicia-
tiva do Conselho de Reitores das Uni-
versidades Portuguesas (CRUP). O
objectivo é “promover a qualidade e
reforçar a dimensão nacional do ensi-
no superior”, lê-se no site do CRUP.
“No quadro da mobilidade de estu-
dantes, o ‘Programa Almeida Garrett’
oferece a possibilidade de efectuar
um período de estudos (um semes-
tre), com pleno reconhecimento aca-
démico, numa universidade pública
portuguesa” e destina-se a estudantes
a partir do segundo ano.

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Ensino superior
Sofia Rodrigues

Medida foi proposta em
Março pelos
sociais-democratas no
Parlamento

DANIEL ROCHA

Legislativas 2019


Sofia Correia Baptista


Candidatos do PDR dizem


que não precisam da


política para sobreviver. O


partido vai lutar por um


“salário digno”


[email protected]

A luta por um salário digno é o prin-
cipal objectivo do PDR — Partido
Democrático Republicano, que apre-
sentou ontem, em Lisboa, o seu pro-
grama às eleições legislativas de 6 de
Outubro. A bordo da caravela Prín-
cipe Perfeito, em Alcântara, o líder
do partido, António Marinho e Pinto,
defendeu que “um salário digno tem
de ser acima do salário mínimo”,
mas não estabeleceu um valor con-
creto, dizendo apenas que pode ser
diferente conforme a região do país
ou a empresa.
“Coragem para mudar” é o slogan
da campanha do partido e a reforma
do sistema eleitoral é uma das alte-
rações que o PDR propõe. Para Mari-
nho e Pinto, que se queixa de travar
um combate desigual nestas elei-
ções, “o método de Hondt não res-
ponsabiliza o eleito perante os elei-
tores” e o Parlamento deveria ter
duas câmaras. Além disso, defende,
“os tribunais não devem ter compe-
tências políticas” e, por isso, “o Tri-
bunal Constitucional não deve fazer
Æscalização prévia” de leis.
Para garantir a renovação, o PDR
também propõe a limitação de man-
datos e a existência de 115 círculos


Marinho e Pinto: “As greves


não devem ser decididas


entre Jerónimo de Sousa e


António Costa”


eleitorais que elegeriam 115 deputa-
dos para a Assembleia da República.
“Isto aproximaria os eleitos dos elei-
tores.”
Perante cerca de 50 apoiantes, o
cabeça de lista do PDR por Lisboa,
Pedro Pardal Henriques, fez questão
de sublinhar que os candidatos do
partido não são “políticos proÆssio-
nais” e é isso que “faz a diferença”
nesta candidatura. “Foi o primeiro-
-ministro quem me convenceu a
aceitar este convite”, voltou a referir
o antigo porta-voz do Sindicato
Nacional dos Motoristas de Matérias
Perigosas. E acrescentou: “Somos
pessoas de grande valor, que sabem
o que é trabalhar, estar do outro
lado”.
Pardal Henriques e Marinho e Pin-
to reforçaram que pretendem um
“sindicalismo independente e livre”,
ao contrário do que dizem acontecer
actualmente, em que “mais de 90%
dos sindicatos são controlados por
três partidos políticos: PS, PSD e
PCP”. “As greves não devem ser deci-
didas entre Jerónimo de Sousa e
António Costa”, defendeu Marinho
e Pinto.
A criação do Ministério das Comu-
nidades, que Æcaria com a tutela dos
consulados, é outra das medidas pro-
postas pelo PDR. Para Marinho e
Pinto, os problemas dos emigrantes
não devem ser tratados no Ministério
dos Negócios Estrangeiros, porque
são portugueses, não são negócios
nem estrangeiros.
Para combater a desertiÆcação e
investir no interior do país, o PDR
defende a criação de um tribunal por
cada sede de concelho. A luta contra
a corrupção, a aposta numa “cidada-
nia activa”, a “revogação imediata do
Acordo OrtográÆco”, o Æm dos está-
gios não remunerados são outras
apostas do partido, enunciadas por
Bruno Fialho, cabeça de lista do PDR
por Setúbal. O PDR também preten-
de impedir o avanço do Aeroporto
do Montijo e promete surpresas na
área da ecologia. “A nossa campanha
tem uma forte preocupação com o
meio ambiente”, assegurou Pardal
Henriques.
Nas legislativas de há quatro anos,
o PDR foi a sétima força política mais
votada, Æcando-se pelos 61.632 votos
(1,14%), o que não lhe permitiu eleger
nenhum deputado. Texto editado
por Sónia Sapage

André Silva conseguiu o impossível
ou, pelo menos, o inesperado: pôs
Rui Rio a falar sobre matilhas de cães,
abates de animais e serviço nacional
de saúde para cães e gatos. “Podemos
ter uma visão parecida de respeito,
mas temos de ter bom senso”, disse
o líder do PSD, assumindo discordar,
em muitos aspectos, do PAN, que con-
sidera fundamentalista. “Por oposi-
ção, o PSD não tem uma proposta
sobre protecção dos animais”, reagiu
André Silva.
O frente-a-frente entre os líderes
do PSD e do PAN durou 30 minutos,
foi emitido pela RTP e teve poucos
momentos de concordância. Na
coreograÆa do debate, houve ata-
ques e defesas. Rui Rio atacou, André
Silva defendeu-se e vice-versa. Vezes
sem conta. “O idoso desprotegido
tem um animal de companhia e isso
é relevante na sua vida, mas preÆro
pegar no dinheiro e dar garantias a
esse idoso no âmbito do SNS”, assu-
miu o social-democrata, sobre uma
medida polémica do PAN. André Sil-
va aproveitou para responder que o
PSD quer é pôr os idosos a trabalhar
em part-time, depois da reforma.
A disputa continuou. “O PSD não
tem um projecto para descarbonizar
a economia”, atirou o deputado do
PAN. “Ainda o PAN não tinha nascido
e já o PSD andava nisto”, ironizou
Rio. Os dois candidatos concordaram
na decisão de declarar a emergência
climática, mas Æcaram-se por aí.
No Æm, o moderador pediu exem-
plos de mudanças implementadas
na vida de ambos face à emergência
climática. “Hoje, à saída da minha
rua, fui ao multibanco e paguei 1282
euros para trocar a caldeira da minha
casa por outra mais moderna que
emite menos dióxido de carbono e
monóxido de carbono”, contou Rui
Rio. Já André Silva explicou: “Ando
de transportes públicos e não como
carne nem qualquer produto de ori-
gem animal.”

Rui Rio vs.


André Silva, a


coreografia


do desacordo


Debate
Sónia Sapage

Candidatos do PSD e do
PAN concordaram num
único princípio: a
declaração de emergência
climática

[email protected]

Marinho e Pinto diz que PDR
trava combate desigual


Parlamento discutiu proposta do PSD em Março deste ano
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