Público - 10.09.2019

(C. Jardin) #1

20 • Público • Terça-feira, 10 de Setembro de 2019


LOCAL


Um “novo associativismo” para


apoiar o “renascimento” do Porto


PAULO PIMENTA

Foram 90 as candidaturas apresenta-
das ao Fundo Municipal de Apoio ao
Associativismo Popular e 33 as classiÆ#
cadas pelo júri como meritórias de
receber ajuda. Para isso, no entanto,
seriam necessários 680 mil euros e a
Câmara do Porto atribuiu à primeira
edição deste concurso 400 mil. Para
responder a este dilema, o júri, presi-
dido pelo historiador Helder Pacheco,
teve de fazer uma “segunda triagem”,
atribuindo pontos aos projectos apre-
sentados e seleccionando os mais bem
qualiÆcados. Foram 24 os apoiados.
O associativismo havia sido o primei-
ro tema de debate na reunião de câma-
ra de ontem, que marcou a rentrée
política no Porto. Ainda antes dos
temas previstos em agenda, em que se
incluía o balanço feito por Helder
Pacheco, a vereadora Ilda Figueiredo
apresentou uma “proposta de reco-
mendação” sobre o mesmo assunto.
Os 400 mil euros, considerou, são
“insuÆcientes” face à “carência” de
muitas associações e como se percebe
pela percentagem de candidaturas
recusadas: “Mais de 60%.” Criar um
“gabinete de apoio ao associativismo”
pode ser uma ajuda para estas entida-
des. E em 2020, propôs, a dotação
orçamental do plano deve subir para
“um milhão de euros”.
Helder Pacheco não arriscou quan-
tias. Mas, perante a incapacidade de
apoiar todos aqueles que mereciam,
não escondeu a necessidade de dar
ao fundo mais capacidade de respos-
ta. Entre elogios à equipa de Rui
Moreira, que aceitou pôr em marcha
uma proposta originária da CDU, dei-
xou uma mensagem: “A câmara deve
continuar e ampliar este esforço de
apoio ao associativismo.”
Congratulando-se com as palavras
lisonjeiras de Helder Pacheco, uma
versão que diz ver pouco exposta na
comunicação social, Rui Moreira sub-
linhou que este fundo é apenas uma
das iniciativas camarárias de apoio às
associações da cidade e foi desenhado
para ser “complementar” aos auxílios
levados ao executivo — como o dado
ontem à Associação dos Jornalistas e
Homens de Letras do Porto. Em Portu-


corpo ao que diz. A Moving Causes,
que pediu apoio para oÆcinas de agro-
ecologia, a Associação Portuguesa de
DeÆcientes, com um projecto de des-
porto inclusivo ou o Teatro Indepen-
dente de Paranhos, com planos de um
espectáculo inclusivo. São projectos
culturais, assistenciais, pensados para
ocupação de tempos livres. E isso mos-
tra uma mudança na sua função.
No Porto, o associativismo nasceu
nos anos 50 e 60 do século XIX e é
sobrevivente de “diversas crises”. Até
ao Ænal do século XX, eram ainda as
“velhas associações operárias, algu-
mas do comércio e as desportivas”
quem mais terreno tinha. E durante
o Estado Novo o associativismo “refu-
giou-se” na criação de clubes despor-
tivos, em grupos excursionistas e nas
cruzadas de bem-fazer, surgidas “por
acaso” depois de um grupo de amigos
“que devia estar a discutir política”
num tasco ser detido pela PIDE.
Quando foram presentes a tribunal,
contou, disseram que estavam a ten-
tar fundar uma cruzada para ajudar
os pobres da freguesia. Resultado? “O
juiz deu um grande raspanete à PIDE
e a partir daí foram criadas dezenas
de cruzadas de bem-fazer.”
Já depois de Abril se cumprir, as
associações viraram-se para a questão
da habitação. Mas a desindustrializa-
ção da cidade foi-lhe roubando chão.
Não há muito tempo, Helder Pacheco
esteve num debate onde se lamentava
a crescente dissolução das associa-
ções. “E estiveram mesmo a acabar”,
aÆança, para se congratular, agora,
com este novo mundo descoberto.
“As associações estão vivas e a adap-
tar-se. É uma excelente notícia para a
saúde cívica da cidade.”
No capítulo Ænal do seu último livro,
Helder Pacheco fez uma espécie de
“testamento espiritual sobre o futuro”
do Porto. Nele, deixava o elogio à urbe
com um ediÆcado reconstruído e ape-
lava a uma reinvenção da sua alma.
Não a antiga, mas uma outra: manten-
do tradições e inventando novas. O
associativismo, diz agora, pode ser
peça importante nesse puzzle. Se “este
movimento se espalhar pela cidade”,
talvez possa ser mais um sublinhado
no seu “renascimento”.

Fundo camarário de apoio ao associativismo vai ajudar 24 das 90 associações que se candidataram.


Helder Pacheco, presidente do júri do concurso, elogiou iniciativa, mas pediu reforço Änanceiro


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Coesão Social


Mariana Correia Pinto


“Históricos” do Bolhão terão prioridade


A


distinção entre novos e
velhos comerciantes
está garantida no novo
regulamento do
Mercado do Bolhão e
assegura a “situação de
privilégio” que a Câmara do
Porto já tinha dito querer
oferecer-lhes. Como
“sobreviventes” à espera da
obra de requalificação do
mercado “há 30 anos”, disse
Rui Moreira, tinham de estar
na lista de prioridades.
O “regime de excepção”
permite a esses comerciantes
“manter os direitos adquiridos
historicamente e a
continuidade no Mercado do
Bolhão”, prevê o regulamento,
aprovado por unanimidade
ontem, em reunião camarária.
O documento estará agora

disponível para consulta
pública e terá ainda de passar
pela assembleia municipal.
O mercado encerrou em
Abril de 2018 e entrou em
obras em Maio desse ano.
Questionado sobre os prazos
de execução da obra, Rui
Moreira disse que a data
prevista de término continua a
ser “Maio de 2020”, recusando,
no entanto, comprometer-se
com ela por não controlar
“vicissitudes das obras.”
A construção do Túnel do
Bolhão, que arrancou em
Agosto, tem data de execução
prevista de um ano e será peça
importante para o
funcionamento do mercado
portuense, actualmente a
funcionar no piso subterrâneo
do Centro Comercial La Vie.

gal, lamentou, há “terror ao mérito”.
Mas este concurso queria exactamen-
te sublinhá-lo: “Queria dar os parabéns
às instituições que apresentaram can-
didaturas e ganharam.”
A refutação não afastou, no entan-
to, um aumento da verba para a pró-
xima edição. Prometendo tentar fazê-
lo, Rui Moreira aceitou repensar um
auxíliio aos oito excluídos que inicial-
mente tinham recebido luz verde. Fica
a esperança para essas, com a aprova-
ção para as recentes dada por unani-
midade (com uma declaração de voto
do PS, onde Æcou lavrada a proposta
de fortalecer o orçamento em 2020).
Helder Pacheco, autor de mais de
40 livros, viu-se testemunha de uma
nova realidade ao analisar as candida-
turas a este projecto.“Há um novo
associativismo a crescer no Porto”,
disse ao PÚBLICO já depois da ida à
reunião de câmara, a sua primeira vez
naquela “casa da democracia”. É um
associativismo “de classe média”, e
“não apenas popular”, com propósi-
tos renovados. O historiador consulta
a lista das apoiadas para tentar dar

Na rentrée política no Porto, executivo foi unânime na vontade de apoiar o associativismo na cidade
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